Diversamente da tradição ocidental, a ortodoxia mostrou-se contrária ao método de análise e de separação, pelo qual as afirmações sobre o senso definitivo da vida valem não somente na ordem da graça, mas também naquela do conhecimento natural. Graça e natureza não são duas ordens estranhas ou externas, ambas são revelação interior, e ambas visam a uma plenitude integral de vida. A graça é a integridade da natureza feita ela mesma à imagem de Deus. O verdadeiro conhecimento natural é aquele que descobre o senso total da vida e que afirma o princípio unitotal. É necessário superar a doutrina teológica da “natureza pura”, para recuperar a idéia antiga e sempre atual da unidade do desígnio divino que abraça tanto a criação como a redenção. Retornando à boa nova do Deus-amor, trata-se de repensar o problema da relação entre a natureza e a graça, como também o das condições da possibilidade do encontro vivificante do homem com a autocomunicação agápica de Deus.
Comentando o ensinamento evdokimoviano sobre a graça, que consiste principalmente na deiformidade originária da criatura humana, “o homem, um deus criado”, Adriano Dell’Asta diz que, se se prescindir de tal concepção da graça, se faltar uma doutrina aprofundada da imagem de Deus e, pior ainda, em virtude de uma visão que limita a graça à mera gratia forensis, ou seja, obra daquele que é estranho ao homem, Deus se torna o transcendente com quem o homem não tem nenhum ponto de contato. Seria, com P. Evdokimov, o “arbitrário divino, sob forma de encarnação e por meio da graça, gratia irresistibilis, que forçaria o homem e se adicionaria a ele”, antes como algo estranho do que natural, entendido, tal qual se verá adiante, como “sobrenaturalmente natural”. Cria-se, assim, uma religiosidade desencarnada, pietista e moralista; no final, um integrismo que anula o homem por querer glorificar Deus ao máximo: reedição de uma heresia antiqüíssima, o docetismo, que negava a humanidade real de Cristo. E a teologia, juntamente com a antropologia, se torna não apofática, mas agnóstica.