Arcebispo Metropolita

Apresenta-se aqui a biografia do Arcebispo Metropolita Dom Volodemer Koubetch, OSBM a partir de seus estudos em Roma, passando pelas fases do seu trabalho como sacerdote e depois como Bispo. As últimas partes deste capítulo são dedicadas para a apresentação de seu brasão episcopal.

Estudos em Roma

1Dia 16 de julho de 1978, em Iracema, juntamente com seus cinco colegas – o falecido Pe. José Waurek, o Pe. ValmorSzeremeta, o Pe. Valdomiro Pastuch e o Pe. Nicolau Korczagin – o Ir. Volodemer fez os votos perpétuos durante a Divina Liturgia presidida pelo Superior Provincial Pe. Paulo Kraiczyj, OSBM.

Chegando a Roma para os estudos teológicos com os demais colegas, presenciou o velório do falecido Papa João Paulo I.

Dia 16 de outubro de 1978, dia em que foi eleito o Papa João Paulo II, iniciou os estudos de Teologia na Pontifícia Faculdade Teológica Santo Anselmo em Roma, terminando em junho de 1981.

Na época da estadia em Roma ajudou nas programações ucranianas da Rádio Vaticana, inclusive fazendo um estágio mais prolongado nas férias de verão do ano de 1980. Foi incentivado a ficar definitivamente em Roma, trabalhando na Sessão Ucraniana da Rádio Vaticana, mas achou que tinha vocação mais missionária, preferindo ir trabalhar entre o nosso povo no Brasil.

Dia 12 de abril de 1981, no Pontifício Colégio São Josafat em Roma, foi ordenado diácono pelo Bispo Dom MiroslauMarusyn.

Retornando ao Brasil, foi ordenado sacerdote por Dom Efraim Basílio Krevey, OSBM no dia 6 de dezembro de 1981, na igreja São Nicolau de Roncador.

Trabalho em Ivaí e Prudentópolis

Em 1982, Pe. Volodemer iniciou os trabalhos pastorais e formativos em Ivaí. Auxiliou no trabalho formativo dos dois noviciados: dos Padres Basilianos e das Irmãs Servas. Como coadjutor na Paróquia Sagrado Coração de Jesus, acompanhou o grupo do Movimento Eucarístico Jovem, organizou o coral misto e atendeu duas capelas: Serra dos Macacos e Barreiro, ambas no município de Reserva. Sob a orientação e insistência do Pe. Basílio Zinko, OSBM, no final do ano dirigiu a primeira série de retiros para as Irmãs de São José, na Linha Vitória, município de Cruz Machado. Pregou retiros outras duas vezes para essas religiosas: de 13 a 18 de dezembro de 1985 e de 18 a 23 de dezembro de 1988.

De 1983 a 1988 trabalhou intensamente na Paróquia São Josafat de Prudentópolis. Durante seis anos: foi diretor espiritual do Instituto Secular das Catequistas do Sagrado Coração, dirigente do coral paroquial São Josafat, professor no Seminário e Colégio São José e coadjutor na paróquia, atendendo as colônias São João, São Pedro e Ponte Alta. Por um ano, em 1984, foi diretor espiritual do Seminário. Atendeu também Palmital, Cerro de Ponte Alta e Pinhal Preto. Nesse período deu vários retiros para as Irmãs Basilianas e de São José.

Em 1988, por ocasião do Milênio do Cristianismo na Ucrânia, com o Pe. Tarcísio Zaluski, OSBM, pela primeira vez pregou Santas Missões em Barra Bonita; e depois em Linha B e Governador Ribas. Pregou Missões em Linha Paraná, Prudentópolis, com o Pe. Zinko. Com os padres Tarcísio e Taras Oliynek, OSBM, trabalhou nas Missões em Marco Cinco, General Carneiro, Nova Galícia, Aquiles Stenghel e Maquinista Molina, comunidades pertencentes à Paróquia São Basílio de União da Vitória.

Algumas ideias que marcaram a vida sacerdotal do Pe. Volodemer: bem no início, após a ordenação sacerdotal, no finalzinho de 1981, quando o Pároco Pe. Marcos Heuko, OSBM e as irmãs de Roncador, Campo Mourão, Mamborê e Juranda estavam fazendo um rápido passeio pela Argentina e Paraguai, numa bela manhã, nas Ruínas das Missões Jesuíticas do Paraguai – na de São Miguel das Missões, a Ir. Elvira Haidamacha, SMI proferiu a seguinte frase: “apóstolo não cansa”. Um senhor de meia-idade, que passava por sérias dificuldades financeiras, familiares e de saúde, em profunda simplicidade e humildade, falou: “se eu não tivesse fé, há muito tempo estaria louco”. O Professor Pe. Dionísio Lachovicz, OSBM, depois Superior Geral, atualmente Bispo, animava os estudantes de Filosofia e Teologia e também os Padres mais jovens: “a província basiliana precisa de padres cultos, com três qualidades de três grandes personagens da Ordem Basiliana: 1) comunidade – São Basílio; 2) união – São Josafat; 3) missão – Metropolita AndrijSheptytskij”.

Trabalho em Curitiba

Em 1989 fez uma experiência como professor no Seminário São Basílio, lecionando três matérias no curso de Filosofia e atendeu pastoralmente a colônia de Ipiranga – Guajuvira. No final ano, na FAI – Faculdades Associadas do Ipiranga – São Paulo, fez os exames de validação do curso de Filosofia feito no seminário basiliano. Encaminhou o mestrado em Teologia Moral no Alfonsianum.

Em 1990, em São Paulo, foi pároco da paróquia ucraniana e coadjutor da paróquia latina. Completou a convalidação do Curso de Filosofia e fez a maior parte dos cursos para o Mestrado.

Em 1991 voltou a Curitiba para lecionar três matérias de Ética no Seminário São Basílio, continuando os cursos em São Paulo. Voltou a atender a Colônia Ipiranga – Guajuvira.

Em 1991, sendo nomeado Diretor Eparquial do Apostolado da Oração, criou a respectiva Comissão Eparquial. Exerceu a função até 1996 e depois reassumiu de 2000 a 2003.

Em 1992, continuando com as aulas e preparando a dissertação de mestrado, foi administrador de Mafra. Em outubro foi nomeado Reitor e Superior do Seminário São Basílio, cargo exercido até 1996. Voltou a atender a Colônia Ipiranga – Guajuvira.

Dia 24 de junho de 1993, dia de São João Batista, defendeu sua dissertação de mestrado na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, com o título “Introdução à justiça social em São Basílio Magno”. Foi o primeiro padre basiliano a fazer mestrado no Brasil.

De 1996 a 2000 exerceu o cargo de consultor na Província Basiliana São José.

Foi regente do Coral do Seminário São Basílio de julho de 2001 até o final de 2003.

Nos anos 1994, 1995, 1996, 2002 e 2003 lecionou Moral Religiosa e Moral da Vida – Bioética na Faculdade de Teologia StudiumTheologicum dos Padres Claretianos – instituição afiliada à Pontifícia Universidade Lateranense de Roma e agregada à Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

Em 1997, recebendo uma bolsa de estudos da CAPES, órgão governamental ligado ao MEC – Ministério da Educação e Cultura, esteve durante dois semestres (oito meses) no Rio de Janeiro a fim de fazer os cursos para o Doutorado em Teologia Sistemática Pastoral na Pontifícia Universidade Católica. Esteve hospedado no convento dos Franciscanos Conventuais no bairro Rio Comprido, ajudando-os nos trabalhos pastorais da Paróquia São Francisco.

Em 1998, com a cobertura financeira do MEC – CAPES, esteve durante seis meses em Roma para fazer alguns cursos, obter orientações de especialistas sobre Teologia Oriental e coletar a bibliografia para a tese doutoral. Em agosto fez uma viagem de caráter cultural e espiritual à Terra Santa.

Voltando ao Brasil e residindo em Ponta Grossa, enquanto preparava a tese de doutorado, lecionou Ética no Seminário São Basílio e auxiliou na Paróquia Transfiguração de Nosso Senhor.
De julho de 2000 a julho de 2002 foi administrador de Antônio Olinto. Tornou-se colaborador direto da Revista Missionário.

Dia 14 de março de 2001, dia de São Benedito, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, defendeu sua tese de doutorado intitulada “Espírito e salvação em Paul Evdokimov”. Também com essa conquista se tornou o primeiro padre basiliano a alcançá-la.

Em 2003 foi diretor do Studium São Basílio – Curitiba e atendeu as capelas de Marcelino e Passo Amarelo. Nesse ano, lecionou Ética Geral e Contemporânea na Faculdade Arquidiocesana de Filosofia de Curitiba e Teologia Oriental no IFITEME – Instituto de Filosofia e Teologia “MaterEcclesiae” da Diocese de Ponta Grossa.

Episcopado

Dia 10 de dezembro de 2003 foi nomeado Bispo Coadjutor da Eparquia São João Batista pelo Papa João Paulo II. Dia 21 de março de 2004, em Curitiba, pela imposição das mãos do Cardeal Dom LubomyrHusar, Arcebispo-Mor da Igreja Católica de Rito Ucraniano, com sede em Kiev – Ucrânia, foi ordenado Bispo.

Em 2004, como Bispo, continuou a colaborar com a Revista Missionário – até 2008. Começou a lecionar Moral Fundamental no StudiumTheologicum – até 2009 (menos 2008 por causa da mudança no currículo). No final do ano, pelas Edições Paulinas, foi publicado o livro de sua autoria: Da criação à parusia: Linhas mestras da teologia cristã oriental. O livro é uma adaptação de sua tese de doutorado.

Em 2005, auxiliando o StudiumTheologicum a reformular seu currículo para fins de reconhecimento da graduação em Teologia pelo MEC, sugeriu e preparou projeto de um curso de Teologia Oriental, o que foi aprovado pelo Conselho Acadêmico. Lecionou essa disciplina no ano letivo de 2008.

No ano de 2006, em três paróquias – Guarapuava, Campo Mourão e Roncador – testou seu projeto de visita canônica, com as seguintes características: espírito missionário e profético, simplicidade evangélica, integração de todas as comunidades da Paróquia, aproximação com as lideranças e fiéis em geral, abordando diretamente os problemas. No final de novembro, ministrou um curso de três dias sobre Teologia Oriental na Escola Diocesana de Teologia para Leigos em Guarapuava.

Dia 6 de dezembro de 2006 celebrou seu Jubileu de Prata de vida sacerdotal e no dia 13 foi nomeado pelo Papa Bento XVI Eparca de São João Batista dos Ucranianos Católicos do Brasil, com sede em Curitiba. A entronização aconteceu no dia 7 de fevereiro de 2007 e foi presidida por Dom Dionísio Lachovicz, OSBM, representando o Arcebispo Maior Dom LubomyrHusar.

Continuando a pastoral de maior aproximação dos fiéis e das comunidades, Dom Volodemer aperfeiçoou seu trabalho de Visita Canônica em várias Paróquias, contribuindo para o melhoramento pastoral em geral, para a pesquisa histórica e o valor da identidade eclesial e cultural ucraniana. Realizou-se um trabalho assíduo e técnico, incluindo a participação em cursos especiais, na organização do Arquivo eparquial (agora metropolitano), que possibilitou uma pesquisa em nível de mestrado sobre a biografia de Dom José Martenetz, cujo 50º de nomeação foi especialmente celebrado em 2008. A comunicação foi bastante melhorada a partir de 2008 com a publicação periódica do Boletim Informativo eletrônico; e em dezembro de 2011 entrou no ar o portal eparquial www.eparquiaucraniana.com.br, que tem nova versão em domínio da Metropolia www.metropolia.org.br. O Bispo Eparca animou especialmente a Paróquia São Josafat de Prudentópolis na construção do Centro Paroquial, que logo foi palco de muitos eventos eclesiais históricos. Duas joias da arquitetura de igreja em madeira – Serra do Tigre em Dorizon e Antonio Olinto – foram restauradas com o patrocínio e execução das instâncias governamentais e apoio e acompanhamento da Eparquia. Dom Volodemer, juntamente com os Bispos Auxiliares Meron e Daniel, teve o privilégio de aceitar e auxiliar na organização da Assembleia Geral (Sobor) da Igreja Católica Ucraniana sobre a Vida Consagrada, realizada no final de agosto e início de setembro de 2011, em Prudentópolis, e do Sínodo dos Bispos, celebrado a seguir em Curitiba. Foram eventos que projetaram a Eparquia São João Batista no cenário católico ucraniano internacional. A formação presbiteral está tendo um novo impulso com uma formação mais integral, direta e presencial, com melhor acompanhamento humano e espiritual. Foram dados os passos para que a formação teológica especializada dos novos sacerdotes em nível de mestrado e, futuramente, também doutorado, aconteça de fato, conforme as capacidades dos seminaristas e as necessidades da Metropolia. Os encontros dos Movimento Eucarístico Jovem (MEJ) ganharam notoriedade pela boa participação dos adolescentes. A Pastoral da Juventude e Vocação (PJV), tendo à frente uma Equipe dinâmica e de liderança qualificada e trabalhando juntamente com a CNBB Regional Sul II, obteve muito sucesso nas atividades da Semana Missionária nas Paróquias e na Jornada Mundial da Juventude (JMJRio-2013) no Rio de Janeiro. Nos últimos anos, com a mediação da Nunciatura Apostólica no Brasil, o Bispo Eparca colaborou diretamente com a Santa Sé, mais especificamente com a Congregação para as Igrejas Orientais, nas tramitações canônicas para a nova elevação eclesial da Eparquia São João Batista.

Assim, em 12 de maio de 2014, o Papa Francisco criou a Metropolia Católica Ucraniana São João Batista e nomeou Dom Volodemer seu Primeiro Arcebispo Metropolita. A entronização foi celebrada pelo próprio Arcebispo Maior Dom Sviatoslav Shevchuk, no dia 15 de julho de 2014 na Catedral São João Batista, em Curitiba.
Algumas ideias centrais que norteiam a vida episcopal de Dom Volodemer: o poeta Antônio Machado diz: “Caminhante, não há caminho: faz-se caminho ao caminhar!” “Não há caminho”: no sentido de não se saber exatamente que caminho a gente vai percorrer no futuro, o qual a Deus pertence, com a colaboração humana. Existe caminho: no sentido de fazer o caminho traçado por Deus, com as pessoas que ele colocou no caminho de cada ser humano. Deve-se muita gratidão aos companheiros de caminhada. João Paulo II, na Carta apostólica Pastores gregis (16 de outubro de 2003), dirigida antes de tudo aos Bispos, por ocasião do Jubileu de Prata de seu Pontificado, diz: “ut unumsint – que todos sejam um” (Jo 17,21) “constitui, para cada Bispo, um veemente apelo para um dever apostólico concreto” (n. 64). Por isso, Dom Volodemer escolheu como seu lema episcopal: “que todos sejam um”. Seu nome Volodemer (abrasileirado Valdomiro) significa: volodar, senhor, príncipe, emer, paz: o senhor da paz, o príncipe da paz. Paz: um ideal pessoal, social, eclesial e de toda a humanidade!

BRASÃO EPISCOPAL

Antes de falar sobre o novo brasão episcopal, discorre-se neste artigo sobre a Heráldica em geral e sobre a Heráldica eclesiástica oriental.

Heráldica em geral

A Heráldica é a arte ou ciência dos brasões, o conjunto dos emblemas de brasão (Dicionário Aurélio); estuda e interpreta as origens, a evolução, o significado social e simbólico, a filosofia própria, o valor documental e a finalidade da representação icônica da nobreza, isto é, as normas dos escudos de armas ou brasões.

Na Idade Média, surgiu um nome peculiar que pode dar mais significado ao conceito heráldico: Heraldo – um oficial que nos torneios de cavalaria estava encarregado da execução e progressão do espetáculo, etiqueta e protocolo. Era ele quem apresentava os cavaleiros identificados pelos escudos. Desde os tempos medievais, os brasões tornaram-se de uso comum para os guerreiros e para a nobreza e, por conseguinte, foi-se desenvolvendo uma linguagem bem articulada que regulava e descrevia a heráldica civil. Paralelamente, também para o clero se formou uma heráldica eclesiástica. Ela segue as regras da civil para a composição e a definição do escudo, mas coloca em redor símbolos e insígnias de caráter eclesiástico e religioso, segundo os graus da Ordem sacra, da jurisdição e da dignidade. Com frequência, os clérigos adotavam o escudo da própria família, se este existia, ou então compunham um escudo com simbolismos que indicavam um ideal de vida, ou uma referência a fatos ou experiências passadas, ou a elementos relacionados com um próprio programa de pastoral.

Não existe uniformidade de opiniões entre os historiadores sobre o momento em que se pode situar o nascimento da Heráldica. Durante muito tempo, foi corrente relacionar-se o início do uso de emblemas de natureza heráldica no Ocidente com as Cruzadas, devido ao contato com a cultura oriental. É um fato que a Heráldica tem semelhanças com a simbologia árabe. Os Cruzados empregavam a cruz, sob diversas formas, como forma de se reconhecerem, e a cruz é uma das peças heráldicas mais antigas. Mas, para além de uma coincidência cronológica, não está provado que tenha sido com as Cruzadas, que o mundo medieval adotou como sistema de identificação pessoal e criou a Heráldica.

Uma teoria recente faz recuar as origens da Heráldica para a invasão árabe de 711. Parece indiscutível que o uso organizado e codificado de símbolos heráldicos apenas se verificou a partir do século XII, como resultado da evolução de símbolos e marcas de posse muito mais antigas. Mas a Heráldica não se pode dissociar dos cavaleiros medievais e, particularmente, da guerra e dos torneios, como já foi anotado acima. O uso de armaduras completas e, muito particularmente, dos elmos (espécie de capacete) que cobriam completamente o rosto tornou necessário um sistema de identificação claro e facilmente visível de longe. Estes fatores levaram, desde meados do século XII, ao uso de emblemas pessoais pintados nos escudos e elmos e, por vezes, nas roupas do cavaleiro ou na cobertura da montada.

Quanto à Heráldica Eclesiástica, é tradição, pelo menos de há oito séculos para cá, que também os Papas tenham seu brasão pessoal, além dos simbolismos próprios da Sé Apostólica.
Particularmente no Renascimento e nos séculos seguintes, era costume decorar com o brasão do Sumo Pontífice todas as principais obras por ele executadas. Brasões papais aparecem de fato nas obras de arquitetura, em publicações, em decretos e documentos de vários tipos. A fim de terem uma característica religiosa e eclesiástica, os adornos externos dos escudos eclesiásticos passaram a ser a tiara, as chaves, o estandarte ou basílica, a mitra, o báculo ou pastoral, o chapéu prelatício, o pálio, a cruz, a legenda e outros distintivos.
A rigor, na Heráldica Eclesiástica sempre se deveria falar de símbolos, de figuras alegóricas e emblemáticas da Igreja. Basicamente, os brasões eclesiásticos possuem duas partes constitutivas: a externa, onde se colocam as insígnias episcopais e a interna, onde cada prelado coloca os elementos de cunho pessoal que o identificam. Por mais singelo que seja, o brasão episcopal deve seguir as leis heráldicas, lembrando que, além do significado escolhido pelo bispo eleito, representa também a figura do próprio bispo. É um símbolo que fala sobre a espiritualidade e o projeto pastoral do bispo.

Heráldica eclesiástica oriental

Nas Igrejas Orientais, aquelas dos ritos orientais em comunhão com a Igreja romana: armênio, bizantino, caldeu, copto, maronita e siríaco, a introdução da Heráldica é bastante recente. Nas regiões de muitos países onde predominam os ritos orientais, a Heráldica não é autóctone, excetuando-se aqueles que no passado fizeram parte da antiga Rússia ou do Império Austro-húngaro. Entretanto, tornou-se muito comum os prelados orientais seguirem a prática ocidental, adotando um brasão quando da elevação ao episcopado.

Obviamente, os prelados orientais empregaram elementos simbólicos próprios e particulares de sua Liturgia para a ornamentação do brasão eclesiástico, nascendo então uma linguagem própria para a Heráldica eclesiástica dos orientais. Os elementos principais são os seguintes:
– Mitra Oriental: mitra ricamente ornada e baseada na coroa imperial fechada, do período tardio do Império Bizantino;
– “Mantia” – capa solene de diferentes cores, conforme a hierarquia;
– Báculo: bastante diverso do ocidental: não é curvado em caracol na extremidade superior, mas termina com duas serpentes que se afrontam e entre elas é posta uma cruz, mas não sempre;
– Cruz hastil: haste encimada por uma cruz.

As informações históricas sobre brasões dos bispos ucranianos, católicos e ortodoxos, datam dos séculos XVI-XVII. Nesse período, já existia uma prática heráldica própria, que caracterizava a tradição da Igreja Oriental.

A questão da formatação dos brasões episcopais aparecia em publicações sobre o Direito Canônico. Na Igreja Ucraniana Greco-Católica, os bispos utilizavam seus brasões familiares, mais precisamente, o conteúdo dos escudos, acrescentando os elementos episcopais, que são as insígnias. Com a liquidação da Igreja Ucraniana Greco-Católica no século XX e o florescimento dela na diáspora, foram eleitos bispos que não possuíam brasões hereditários. Então, a escolha e montagem de seus respectivos brasões dependiam de cada um. Desta feita, foram criados novos brasões de caráter pessoal.

Novo brasão de Dom Volodemer

2A montagem do novo brasão seguiu os critérios da heráldica oriental, atendo-se exclusivamente aos símbolos religiosos. Esse minucioso trabalho foi realizado pela Opta de Curitiba e na arte final teve o auxílio da Irmã Verônica Nogas, SMI, especialista em arte sacra oriental. Faz-se primeiramente a descrição do brasão, seguida pela sua respectiva mensagem.

Descrição

Insígnias episcopais: a capa solene – “mántia”, que serve de estrutura ao próprio brasão, em forma arredondada, é de cor vermelha, suas bordas são douradas e o fundo é branco fosco, com detalhes em cor cinza. Em cima da capa encontra-se a mitra, também em cor vermelha, juntamente com o báculo oriental e a cruz hastil dourados.

Escudo: o contorno está rodeado por adornos folheados em cor madeira escura. O espaço interno, em azul celestial, contém em seu centro o Cordeiro – a hóstia eucarística maior, encravada na Cruz de cor madeira clara com as siglas ICXCNI KA – Jesus Cristo Vence. Em cima, encontra-se a pomba branca, que simboliza o Espírito Santo, de onde partem os raios dourados, preenchendo todo o espaço do escudo. Logo abaixo da pomba estão as letras do alfabeto grego, a primeira e a última – Alfa e Ômega – que simbolizam Cristo Pantocrator. Embaixo da Cruz, do lado esquerdo, se encontra a flor-de-lis, contendo três estrelas, que simboliza Maria Santíssima – Teotokos, Mãe de Deus: virgem antes, durante e depois do nascimento de Jesus, por isso é chamada Toda Santa – Panahia, que é também o nome da medalha que os bispos orientais carregam. E do lado direito, se vê a tocha de fogo tripartida para harmonizar com a flor-de-lis, tocha essa que é o elemento principal do brasão da Ordem de São Basílio Magno, de onde Dom Volodemer provém como sacerdote religioso, e que simboliza a chama do amor evangélico, cristão.

Lema: na parte inferior do brasão, numa faixa dourada, em português e ucraniano: “Para que todos sejam um” (Jo 17,21).

Mensagem

O escudo azul alude à realidade celestial e transcendental, mas que começa e se realiza aqui na terra. No escudo, predominam dois elementos: o Cordeiro (Ahnetz) – a hóstia eucarística maior, a essência do cristianismo, fonte e ápice da vida cristã, da vida episcopal e da missão da Igreja, o Pão da unidade, a quem o bispo humildemente serve como discípulo e sucessor dos Apóstolos. A Cruz, principal símbolo cristão, representa a quenose, ou seja, o despojamento total de Cristo, em obediência ao Pai, e o seguimento e espírito de sacrifício (Lc 9,23) que o bispo assume em seu ministério pastoral de ensinar-evangelizar, santificar-divinizar e administrar-governar o rebanho a ele confiado. Passando pela morte na Cruz, Jesus se tornou o Vencedor (Nika), porque venceu o mal, o pecado e a morte, abrindo-nos o caminho da Ressurreição. Todo esse Mistério é solenemente celebrado e vivenciado na Divina Liturgia, convergindo na consagração e comunhão eucarística da comunidade cristã, que busca realmente a união comum.

O Espírito Santo, simbolizado pela pomba, recorda a epiclese eucarística: na Liturgia oriental, a oração em que o celebrante pede ao Pai que mande o Espírito Santo para que desça sobre os dons e os transforme no corpo e sangue de Cristo, para o bem espiritual daqueles que o receberão. Os raios luminosos que partem do Espírito Santo são as energias ou graças, significando sua permanente ação divinizadora: ele impregna todo o mistério e toda ação salvífica efetuada por Cristo e que é perpetuada na história da humanidade pela Igreja. Conjuntamente, é a imersão mística da comunidade cristã na comunhão da Santíssima Trindade.

Alfa e Ômega lembram Cristo Pantocrator – o Senhor de tudo, o princípio e o fim de todas as coisas, aquele que pode e governa tudo. Ele abençoa a humanidade e o universo e traz a totalidade da salvação em seu Evangelho, constituindo o fundamento e a motivação do ministério episcopal, que será um ministério da busca da unidade.

Para que essa união aconteça, a comunidade eclesial é eternamente agraciada pela presença maternal da Santíssima sempre Virgem Maria, simbolizada pela flor-de-lis: a Teotokos – Mãe de Deus e da Igreja, modelo de oblação e santidade. Constituída a comunidade eclesial, se fará um esforço em viver o amor, a lei máxima do Evangelho, como a chama que aquece os corações para a justiça e a caridade (São Basílio); e, com fé e esperança, se implorará ao Senhor do universo: “que todos sejam um” (Jo 17,21), como uma oração universal e ideal de fraternidade e paz. Tudo sob a força e o poder transfigurador e unificador do Espírito Santo!
Dom Volodemer Koubetch, OSBM
Arcebispo Metropolita

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