Deus age criando o universo, os inúmeros seres. Ele é o nosso Criador.
Senhor da criação
Deus criou o mundo em que vivemos. Ele fez evoluir o universo, as plantas, os animais e os seres humanos, para que tudo crescesse segundo o seu plano eterno de amor. Ele é o Criador e Senhor de tudo o que existe (Gn 1,1-26).
O mundo não apareceu por si, porque toda a matéria e sobretudo toda a vida que existe carece de uma causa, de um autor. Foi Deus que criou tudo do nada por um único ato de seu amor e de sua vontade onipotente.
Modo da criação
A Bíblia diz que Deus criou o mundo e tudo o que existe com a sua palavra: “Haja luz” (Gn 1,3); “Haja um firmamento no meio das águas e que ele separe as águas das águas” (Gn 1,6); “Que a terra verdeje de verdura…” (Gn 1,11)…
É uma linguagem teológica, bíblica de explicar a criação. A ciência tem a sua linguagem.
Razão da criação
Deus não precisava criar o mundo. Também sem o mundo Deus é infinita e plenamente feliz. Nada poderá aumentar ou diminuir a felicidade de Deus.
Deus criou o mundo unicamente para manifestar e comunicar a sua infinita bondade. Tudo o que existe nasceu do amor de Deus. Toda criação revela a bondade e a glória de Deus. “Porque tudo é dele, por ele e para ele. A ele a glória pelos séculos!” (Rm 11,36).
Tempo da criação
O mundo não é eterno. Não existia sempre. Ele teve início como a Bíblia nos conta e a ciência hoje ensina. A Bíblia nos conta que Deus criou o mundo em seis dias. É uma descrição com uma linguagem popular bem compreensível para o povo do tempo em que foi escrita a Bíblia. Os dias da Bíblia devem ser entendidos como grandes períodos de tempo, em que Deus criou o mundo.
Mas a criação não terminou. Deus é sumamente Vivo, Dinâmico, Operante: Ele continua a sua criação. Por toda parte do mundo e do universo encontramos a ação poderosa de Deus. Com seu poder Deus faz nascer sempre novas maravilhas, conduzindo tudo o que existe. No seu amor de Pai, Ele conserva e governa tudo o que existe.
Deus fez um mundo perfeito, mas que deve ser cultivado e desenvolvido pelos trabalhos do homem, segundo a vontade divina. A criação do Pai continua por obra de Cristo, do Espírito Santo e dos homens que colaboram com Deus.
Somos criaturas divinas, filhos de Deus. Ele nos criou por amor. Como seres humanos, fazemos parte de toda a criação realizada por Deus.
Antes de criar o homem, Deus preparou um berço esplêndido – a Terra no Universo. Deus criou tudo muito bonito, por amor, tendo uma finalidade. Ele criou o mundo espiritual e o mundo material. Criou o homem e a mulher. Tudo no mundo tem um significado e um valor, porque provém da vontade divina.
A Bíblia, no sentido mais literal, diz que Deus criou diretamente o homem corporal e espiritual-racional. Deus formou o homem com o pó da terra e lhe insuflou nas narinas o hálito da vida. Da costela do homem, Deus formou uma mulher (Gn 2,7.22). Essa descrição bíblica da criação do ser humano, homem e mulher, não deve ser entendida, necessariamente, no seu sentido literal
Existem outras explicações: 1) evolucionismo absoluto: o animal, por si mesmo, tornou-se racional, pensante (rejeitado pela Igreja); 2) evolucionismo relativo: Deus cria o animal irracional, e, em dado momento da evolução, inspira-lhe o espírito. Acontece, portanto, a intervenção direta de Deus. Segundo a doutrina da Igreja, tal intervenção é indispensável, pois o dom da liberdade, a luz da razão, a capacidade de amar e de discernir entre o bem o mal, foi dado ao homem diretamente por Deus e nunca poderá ser um simples produto da matéria em evolução.
A história da criação do ser humano narrada na Bíblia numa linguagem popular, não científica, nos quer ensinar as seguintes verdades fundamentais da fé cristã: a) o ser humano foi feito por Deus; a maneira da criação é discutível; b) o corpo humano feito de matéria corruptível é mortal e voltará ao pó da terra; c) quando a Bíblia diz que a mulher foi tirada do lado do homem ela quer dizer que a mulher é companheira do homem com igualdade de direitos; d) a alma, o espírito da vida, procede diretamente de Deus; por isso, como Deus, ela é espiritual e imortal.
Deus criou o homem, conferindo-lhe faculdades importantes: razão-espírito; vontade; afetividade; liberdade. Ele é um ser bio-psíquico-espiritual – tem três dimensões: corpo-matéria, espírito-razão, graça-divindade.
Deus deu a felicidade completa ao homem, no Paraíso e disse: “… frutificai, multiplicai-vos… submetei, dominai a terra…” (Gn 1,28). O homem era o autêntico senhor da criação e vivia em perfeita harmonia com Deus, consigo mesmo, com a natureza e com os outros.
União de amor com Deus
O ser humano foi criado para amar, conhecer, servir a Deus e viver em comunhão com Ele numa felicidade eterna.
Desde o princípio de sua existência o homem é convidado a viver em união com Deus. Ele existe, porque foi criado por amor. Ele vive, porque é conservado constantemente pelo amor divino. E só será feliz, quando se entregar totalmente ao amor supremo, que é Deus. A única razão da existência humana é o amor. O ser humano nasce do amor e vive para o amor. E o amor é o caminho mais certo a um maior conhecimento de Deus.
Com efeito, Deus chamou e chama o ser humano a unir-se a Ele, com todo o seu ser, numa perpétua comunhão, para participar da sua vida divina. No discurso sobre a verdadeira videira, Jesus disse: “Assim como o Pai me amou também eu vos amei. Permanecei em meu amor. Se observais meus mandamentos, permanecereis no meu amor, como eu guardei os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor. Eu vos digo isso para que a minha alegria esteja em vós e vossa alegria seja plena” (Jo 15,9-11).
O ser humano está destinado a participar da vida da Santíssima Trindade.
Imagem e semelhança de Deus
Além de ser criatura muito especial de Deus, o homem é, na verdade, filho de Deus. A filiação-paternidade é a relação de comunhão-comunicação-doação mais profunda e íntima que possa haver. É o ato supremo do Amor. É a comunhão-de-Vida.
Além disso, “Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou” (Gn 1,27). A fé da Igreja nos ensina que o ser humano traz em si a imagem de Deus invisível, embora esta imagem tenha sido muitas vezes deformada pelo pecado. O homem foi feito semelhante a Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança” (Gn 1,26). Assim, realizando na fidelidade de cada hora o plano de Deus, cada pessoa humana é um ser escolhido e amado por Ele desde toda a eternidade.
Mas só em Cristo e pelo seu Espírito se revela a verdadeira grandeza do ser humano. Deus Pai enviou o seu Filho Jesus Cristo ao mundo para que participasse das alegrias, dos sofrimentos, dos trabalhos da vida humana. Cristo assume a natureza humana, torna-se irmão de todos os homens. Em Cristo, pelo poder do Espírito Santo, Deus se tornou homem; trabalhou com mão humana, pensou com inteligência humana, agiu com vontade humana e amou com coração humano. E desta maneira o ser humano conquista altíssima dignidade. Deus entra na vida e natureza do homem para caminhar com ele e levá-lo à verdadeira fraternidade e liberdade na esfera divina.
O modelo máximo, portanto, o arquétipo, é Jesus Cristo. E o primeiro artífice da imagem de Deus, segundo este modelo, é o Espírito Santo. Assim como o Espírito gerou Cristo em Maria, ele também o gerará em nós. Seremos imagem e semelhança de Deus, aceitando ser trabalhados pelo Espírito a fim de que Ele esculpa em nós a imagem de Cristo.
Vida eterna
A estadia do ser humano no mundo temporal é apenas uma permanência transitória. O seu verdadeiro e último destino é Aquele a quem ele deve a sua existência: Deus. Este era o plano de Deus desde o início, mas o pecado obstruiu este caminho, minando a dignidade do homem e deformando a sua semelhança divina. Jesus Cristo, porém, restituiu aos filhos de Adão a semelhança com Deus e os restaurou na dignidade original. Em Cristo, o homem recebe uma nova vida, é elevado à dignidade de Filho de Deus, torna-se irmão de Jesus Cristo e participante da sua glória eterna. Cristo revela ao homem o seu verdadeiro destino: para além da morte, o homem é chamado à ressurreição, à vida eterna. Ele abriu ao homem um futuro completamente inesperado, cuja força supera todos os obstáculos, até a morte.
Jesus é o primogênito entre muitos irmãos, isto é, o primeiro entre os homens que foi assumido para a glória do Pai. Voltar ao Pai e levar consigo os seus irmãos da terra era seu grande desejo durante a sua peregrinação aqui na terra. Daí, a partir de Jesus Cristo, o caminhar ao Pai é também o destino do homem e o sentido da sua vida aqui na terra. Pois só no encontro com o Pai, o homem obtém a plenitude da paz, da felicidade e do amor. Santo Agostinho que viveu, entre a fama e os aplausos do mundo, a ardente sede do Absoluto, expressou esta verdade que brota do coração de todo homem: “Senhor, tu nos criaste para Ti e inquieto está o nosso coração enquanto não repousar em Ti”.
Vida de irmãos
Deus criou o homem e a mulher. A união do primeiro casal constitui a primeira forma de comunhão entre pessoas, pois o ser humano pela sua própria natureza é um ser social, que não pode viver nem desenvolver as suas qualidades sem entrar em relação com os outros (Gaudium et spes, nº 2).
O ser humano só poderá realizar a sua própria dignidade vivendo em comunhão, em sociedade com os seus semelhantes. Ele não pode viver desligado, separado do resto do mundo e enclausurado em si mesmo. O homem precisa da sociedade, na qual ele vive inserido para amar, servir e enriquecê-la com sua presença. Pela participação da vida, das alegrias e dos sofrimentos das famílias, dos grupos ou pequenas comunidades, como também da vida política e religiosa do povo, ele vive em comunhão com outros homens. Ser homem significa participar e comungar da vida dos irmãos.
“Vede: como é bom, como é agradável habitar todos juntos, como irmãos” (Sl 133,1). “Vede que prova de amor nos deu o Pai: sermos chamados filhos de Deus” (1Jo 3,1). Se somos todos filhos de Deus, então entre si somos todos irmãos e irmãs em Cristo Jesus.
Direitos e deveres fundamentais
Em 1948, no dia 10 de dezembro, foi proclamada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, depois de ter sido aprovada por resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas, em 3ª sessão ordinária. São trinta artigos, cujo conteúdo pode ser resumido em dez direitos principais. A cada direito corresponde também um dever.
São Francisco considerava todas as criaturas como irmãs: irmão sol, irmã lua, fogo, água, plantas, lobo, cordeiro e abraçava estas criaturas, porque tudo era criado pelo Pai do Céu. Por isso hoje ele é o padroeiro da ecologia.
Deus criou o céu, a terra, os mares e viu que tudo isso era bom (Gn 1,10), o que significa que era também belo. “Que a glória de Iahweh seja para sempre, que Iahweh se alegre com suas obras!” (Sl 104,31).
O ser humano deve colaborar para construir um mundo cada vez mais belo, respeitando a natureza. “A beleza salvará o mundo”, repetia Dostoievskij. Através da beleza presente nas pessoas em todas as criaturas chegamos à Beleza divina, fonte de toda a beleza. Cultivando esta beleza, colaboraremos para o melhoramento da vida em nossa casa que é o planeta Terra.
Deus confiou a terra ao homem para ele cultivá-la e administrá-la. O ser humano deve ser um administrador da natureza e do mundo e não um dominador e explorador. Então ele se sente feliz e realizado quando pela sua cultura e técnica pode aperfeiçoar a terra conduzindo-a para o destino que Deus lhe marcou. O ser humano, respeitando a lei de Deus e a lei da natureza, é o co-criador junto com Deus da nova criação, do novo mundo.
A missão do ser humano é construir um mundo melhor para todos os habitantes da terra, com mais justiça, mais amor e mais paz. E haverá paz e fraternidade no mundo, se houver mais igualdade e justiça, principalmente se existir a preocupação com a justiça social.