A partir de observações pessoais dos primeiros anos de ministério episcopal e acatando algumas sugestões de sacerdotes mais experientes da antiga Eparquia, foi possível montar um projeto de Visita Canônica, adotando uma metodologia mais integrativa, presencial e pastoralmente exigente com algumas fundamentações bíblicas e canônicas, contemplando princípios teológicos, traçando certos objetivos e também definindo alguns passos metodológicos.
A Visita Canônica é a visita oficial que o Bispo Eparca ou Bispo Auxiliar, ou ainda outro sacerdote designado, faz a uma determinada paróquia para verificar sua realidade pastoral e indicar os melhoramentos convenientes, preocupando-se com a totalidade da vida eclesial e cristã numa determinada paróquia ou comunidade. Trata-se de uma visita com o objetivo de analisar, avaliar e, quando necessário, apontar as correções a fim de que o trabalho pastoral funcione de uma forma conjunta, integrada e harmônica. É a prática da Pastoral de Conjunto.
O presente projeto de Visita Canônica na Eparquia São João Batista, já publicado no Visnek – Boletim Informativo da Eparquia Ucraniana São João batista Nº 16, 2007, pp. 79-83, possui três partes estruturais: I – Fundamentação teológica; II – Objetivos; III – Método.
Como fundamentos da Visita Canônica eparquial são apresentados os seguintes elementos: a fundamentação bíblica, a prescrição canônica e os princípios teológicos e pastorais mais importantes.
Fundamentação bíblica
– “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei” (Mt 28,19).
– “Eu sou o bom pastor: o bom pastor dá sua vida pelas suas ovelhas… Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas me conhecem, como o Pai me conhece e eu conheço o Pai. Eu dou minha vida pelas minhas ovelhas. Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil: devo conduzi-las também; elas ouvirão a minha voz; então haverá um só rebanho, um só pastor” (Jo 10,11. 14-16).
Prescrição canônica
– “O Eparca tem a obrigação de visitar canonicamente a eparquia cada ano, ou toda ou em parte, de modo que ao menos a cada cinco anos visite canonicamente a eparquia inteira pessoalmente ou, se por acaso se encontra legitimamente impedido, por meio do Bispo coadjutor, ou do auxiliar, ou do protosincelo ou do sincelo, ou também por outro presbítero”.
– “Estão sujeitos à visita canônica do Eparca as pessoas, instituições católicas, objetos e lugares sagrados que se encontram dentro do âmbito da eparquia”.
– “O Eparca pode visitar os membros de institutos religiosos e das sociedades de vida comum à maneira dos religiosos, de direito pontifício ou patriarcal, somente em casos determinados pelo direito” (CCEO 205).
Princípios teológicos e pastorais
Eclesialidade, que parte de uma verdadeira eclesiologia de comunhão, vivenciada e concretizada por meio dos seguintes princípios complementares:
União: integração, colaboração, participação, diálogo; é preciso pensar e agir como Igreja una, santa, católica e apostólica. Caridade cristã.
Refundação: busca permanente da identidade eclesial oriental, das raízes cristãs orientais bizantino-ucranianas. Cultivo da teologia e da cultura.
Diaconia: trabalho em equipe, autoridade como serviço. Simplicidade evangélica.
Subsidiariedade: respeito das competências e instâncias administrativas e pastorais, sem queimar etapas. Autonomia e maturidade paroquial.
Para maior objetividade, determinação e clareza, com o intuito de auxiliar o visitador eparquial no trabalho de uma Visita Canônica foram traçados os objetivos em dois blocos.
Objetivo geral
– Verificar a pastoral de toda a paróquia em sua totalidade evangelizadora, santificadora e administrativa, analisando, incentivando e, quando necessário, corrigindo fraternalmente a vida eclesial e cristã das comunidades.
Objetivos específicos
– Incentivo e ânimo às comunidades para que perseverem nos trabalhos pastorais em que houve conquistas e melhoramentos significativos.
– Correção e orientação para a superação de eventuais erros e deficiências no trabalho pastoral.
– Conscientização sobre o verdadeiro sentido de Igreja, Eparquia, Paróquia, Comunidade.
– União de forças para o trabalho em conjunto, unindo a hierarquia, o clero, os religiosos, religiosas e os leigos.
– Busca permanente e também resgate da identidade religiosa e cultural ucraniana.
– Melhoramento de todas as pastorais num trabalho mais integrado e articulado.
– Aproximação do povo, principalmente com as diversas lideranças.
– Atenção muito especial às crianças, adolescentes e jovens.
– Fortalecimento espiritual e moral da comunidade paroquial.
– Trabalho com universitários e pessoas de formação superior. A respeito, é necessário se esforçar na elaboração e execução de um projeto pastoral-cultural específico.
– Incentivo às vocações ao sacerdócio e à vida consagrada.
– Formação de líderes.
Os passos metodológicos para uma Visita Canônica devidamente planejada e executada e para que seja realmente eficiente e produtiva, levando em consideração os elementos precedentes, são os seguintes: a pré-visita, a visita propriamente dita e o acompanhamento pastoral posterior.
Pré-visita
– Preparação das paróquias e suas comunidades com pelo menos três meses de antecedência.
– O visitador eparquial programa a pré-visita iniciando pelo pároco, fazendo com ele um bom planejamento, em vista de uma preparação a mais completa possível.
– Estabelecimento de locais, comunidades, datas e horários.
– Anúncio por meio dos recursos disponíveis na paróquia.
– Preparação do povo em geral, das pastorais, dos movimentos e grupos.
– Preparação dos livros paroquiais e livros da catequese, dos movimentos, das diversas pastorais e grupos.
– Conhecimento da realidade paroquial, colhendo informações do pároco e também de outras pessoas.
– Orações, novenas.
Visita
– A Visita Canônica é um encontro de toda a comunidade com o seu Bispo, o Pastor que vem conhecer mais de perto as suas ovelhas. Para que esse encontro seja realmente proveitoso, as lideranças e toda a comunidade precisam estar mais livres e disponíveis. Por isso, não se deve fazer festa ou promoções ou quaisquer outros eventos durante a Visita Canônica. Pode ser feita uma confraternização, se possível, preparada por algum outro grupo, deixando a comunidade local livre para dialogar com o Bispo.
– A Visita Canônica deve ser realizada na paróquia em seu conjunto, incluindo suas capelas e comunidades.
– A presença do visitador deve ser mais prolongada: por pelo menos um final de semana em cada comunidade, mesmo que seja muito pequena.
– Diálogo com os movimentos e grupos em reuniões conjuntas ou pessoalmente.
– Visita às salas de catequese. Se possível, visita às salas de aula em escolas.
– Visita ao convento de religiosas ou casa do nosso instituto secular.
– Visita ao pároco latino.
– Visita dos locais de trabalho onde se concentra maior número de funcionários paroquianos.
– Visita de algumas famílias.
– Verificação da documentação paroquial, dos livros, da biblioteca e do arquivo paroquial.
– Principais pontos a serem verificados: 1) situação geral do povo: nível de vida, recursos, emprego…; 2) manutenção da igreja: CAP, contabilidade, taxas, manutenção da Eparquia e dos padres…; 3) livros e documentação; 4) vida eclesial, litúrgica e cristã; 5) catequese; 6) adolescentes e jovens; 7) Apostolado da Oração; 8) outros.
– Exposição resumida dos resultados para a comunidade na homilia de encerramento da Visita Canônica. Problemas mais pessoais serão abordados de uma forma diferenciada.
Pós-visita
– Apresentação por escrito em documento oficial dos resultados da Visita Canônica, seguindo os pontos acima e de outros que se fizerem necessários, fazendo as correções e dando as devidas orientações.
– A carta deve ser entregue em várias cópias: ao pároco, à instituição de vida consagrada atuante na paróquia, ao Conselho Administrativo Paroquial, aos movimentos e pastorais, a outros grupos.
– Acompanhamento permanente: a ser ainda melhor estudado e definido. Mas é possível tentar as seguintes sugestões desse acompanhamento: 1) reunião com as lideranças de toda a paróquia em geral; 2) reunião com grupos específicos: CAPs, catequistas, Apostolado da Oração; Congregação Mariana, MEJ… 3) montar cursos de formação de líderes; 4) promoção de encontros e retiros especiais; 5) brochuras, cartas ou folders de orientação; 6) reunião com lideranças em geral ou grupos específicos para implantar algum projeto eparquial de pastoral; 7) as orientações gerais para as paróquias e comunidades serão divulgadas no Site e no Boletim Eparquial.
Esse projeto, aplicado e testado mais amplamente na Eparquia, contará com a participação, principalmente dos demais Bispos, e também de todos os agentes pastorais no aperfeiçoamento do mesmo. A união faz a força, diz o ditado popular. Espera-se, portanto, a colaboração de todos para o melhor encaminhamento da vida e missão eparquial, a fim de que o nosso trabalho em conjunto seja um verdadeiro instrumento de formação cristã e de construção do Reino de Deus e de sua Igreja, fundamentada nos moldes do Oriente Cristão, mas também inculturada em nossa realidade ucraíno-brasileira concreta.
A Visita Canônica faz parte da Pastoral de Conjunto, quando o bispo ou seu delegado, especialmente nomeado para essa tarefa, verifica detalhadamente a vida cristã e pastoral de determinada comunidade em sua totalidade, incluindo os aspectos sociais e materiais, como a situação financeira e manutenção da igreja. A presente matéria está dividida em três partes: 1ª Antes da vista; 2ª Durante a visita; 3ª Depois da visita.
ANTES DA VISITA
Comunicação. O padre que atende pastoralmente a comunidade deverá comunicar seus fiéis sobre a Visita Canônica: o que é, a data, o motivo, o método.
Preparação. É necessário para que toda a comunidade se prepare espiritualmente com orações e planeje suas atividades diárias para poder participar mais tranquilamente da Visita Canônica.
História da comunidade. O quanto possível, elaborar ao menos um breve histórico da comunidade.
Pontos para a elaboração da história: inícios (como começou a comunidade); padres que atenderam a comunidade; presença e atuação de algum instituto de vida consagrada; padres, religiosos e religiosas provenientes da comunidade; Conselhos Administrativos Paroquiais (comissões da igreja); Santas Missões (quem pregou, quando); construções (igreja, campanário, casa paroquial, salas de catequese, pavilhão, etc.).
Livros e documentos da comunidade. Pedir para que os líderes e demais responsáveis por algum setor da paróquia ou comunidade tragam, já para a recepção do bispo, todos os diários (crônicas), os livros de atas, de chamadas e de contabilidade do Conselho Administrativo Paroquial, Apostolado da Oração, Congregação Mariana, Movimento Eucarístico Jovem (MEJ), Catequese, anotações das intenções de Missas e outros.
Relatório sobre a comunidade. O padre deverá elaborar um relatório detalhado sobre a atual situação geral da comunidade, colocando suas observações e avaliações, bem como as diversas dificuldades e desafios. Tal relatório poderá ser solicitado de alguma outra liderança da comunidade, se o bispo achar conveniente.
A seguir é apresentado um esquema para facilitar a elaboração sistemática do relatório.
COMUNIDADE DE …………
PARÓQUIA ……………
HISTÓRIA: primórdios da comunidade, desenvolvimento, padres que atenderam a comunidade, atuação de alguma congregação religiosa, Santas Missões, comissões, catequistas, histórico dos movimentos, vocações provenientes da comunidade.
INFORMAÇÕES GERAIS: desde quando o atual padre atende a comunidade, distância da igreja matriz, padroeiro, número de famílias, etc.
SITUAÇÃO SOCIOECONÔMICA e financeira das famílias. Descrever os meios de subsistência, profissões, condições, se existe famílias com necessidades, etc.
CONSELHO ADMINISTRATIVO PAROQUIAL: nome dos membros, desde quando estão no cargo, seus projetos, como trabalham para a comunidade.
VIDA ECLESIAL ATUAL, espiritual e moral das famílias: educação dos filhos, vivência dos Mandamentos da Lei de Deus e da Igreja, convivência, participação nas celebrações e nos eventos comunitários.
PASTORAIS: descrever as pastorais existentes na comunidade.
Catequese: nome das catequistas, número de crianças na catequese, andamento da catequese, colaboração dos pais, equipe de apoio à catequese…
Pastoral da Juventude: assistentes espirituais, número de inscritos no grupo, número de participantes, como estão organizados, ações…
Pastoral Vocacional: responsáveis, ações concretas…
Outras pastorais: da mesma forma, descrever outras pastorais atuantes na comunidade.
MOVIMENTOS: descrever os movimentos que atuam na comunidade.
Apostolado da Oração: número de membros, assistentes espirituais, zeladores, funcionamento, participação, ações…
Movimento Eucarístico Jovem (MEJ): número de membros, assistentes espirituais, responsáveis, funcionamento, participação, ações…
Congregação Mariana: número de membros, assistentes espirituais, responsáveis, funcionamento, participação, ações…
Outros movimentos: número de membros, assistentes espirituais, zeladores, funcionamento, participação, ações…
OUTRAS INFORMAÇÕES. Se tiver algum tipo de informação que não consta do esquema acima, pode relatá-la livremente.
Local …………………………….., data………………………………..
Pe. ………………………………………
Presença do padre. O padre sempre deverá estar presente na abertura e no encerramento da visita, concelebrando com o bispo. O padre não estará presente durante os encontros do bispo com os diversos grupos ou com as pessoas a fim de que estas possam se expressar e comunicar livremente o que for necessário.
Abertura solene. O início da Visita Canônica deve ser solene, segundo a nossa tradição, com pão e sal, quando toda a comunidade, tendo à frente seu pastor local, o padre, recebe o bispo como o bom pastor. A recepção pode incluir canções religiosas e declamações de poesias, mas com a preocupação de focalizar a recepção de uma autoridade da Igreja. Representantes de todos os grupos podem discursar, mas é necessário ter o cuidado para não se estender demais. O critério da ordem dos que tomam a palavra é do menor ao maior, ou seja: primeiro as crianças da Catequese ou Movimento Eucarístico Jovem, depois os jovens do Apostolado da Oração ou Congregação Mariana ou de outro grupo, segue a fala dos adultos do Conselho Administrativo Paroquial ou Apostolado da Oração, e finalmente o padre que atende a comunidade. Para o início da Visita Canônica pode ser celebrada a Divina Liturgia, Akathisto ou Novena.
Entrega dos livros e documentos. Como explicado no item 1.4, o padre entregará toda a documentação da comunidade ao bispo, que a examinará e colocará um carimbo próprio com indicação do local, data e sua assinatura.
Verificação dos elementos materiais. O visitador verificará a igreja, a casa paroquial e todas as construções, pertences e objetos da comunidade, avaliando sua preservação e manutenção.
Verificação da administração e das pastorais e movimentos. O bispo terá encontros devidamente agendados com a equipe administrativa, com todos os grupos de ação pastoral ou de movimentos a fim de se informar sobre sua atuação e suas eventuais dificuldades.
Relatório do visitador. O visitador elaborará um relatório geral sobre sua visita, cujo material será arquivado no arquivo da Eparquia e será utilizado para a conclusão da visita a ser apresentada durante a homilia da Divina Liturgia de encerramento, para a elaboração de um artigo a ser publicado no portal da Eparquia e, mais tarde, no respectivo boletim informativo.
Encerramento. O encerramento da Visita Canônica se dará com a Divina Liturgia, sempre solene pontifical. Recomenda-se que se faça um almoço de confraternização pelo menos com as principais lideranças da comunidade.
Documento. O visitador elaborará um documento oficial em que informará os principais dados da Visita Canônica e apresentará sinteticamente os pontos positivos e aqueles que precisam ser melhorados. Tal documento será entregue ao padre e a todas as lideranças da comunidade.
Melhoramentos. A comunidade estudará, em grupos e conjuntamente, as observações apresentadas no referido documento para progredir e melhorar sempre mais em todas as dimensões e em todos os sentidos, a fim de alcançar as metas como pessoas, como famílias, como comunidade, como paróquia e como Igreja, que busca realmente construir o Reino de Deus, de acordo com os valores, características e normas próprias da Igreja Greco-Católica Ucraniana.
Atividades. Na medida do possível, o bispo, partindo das visitas realizadas e registradas em documentos próprios, juntamente com os párocos e outros agentes de pastoral, organizará encontros e reuniões com as lideranças, com objetivos previamente determinados, visando a formação permanente das mesmas e o melhoramento da pastoral em geral na Eparquia São João Batista.
Dom Volodemer Koubetch, OSBM
Arcebispo Metropolita