Arcebispo visitou a Colônia Eufrozina

Nos dias 23 e 24 de abril de 2016, o Arcebispo Metropolita Dom Volodemer Koubetch, OSBM realizou a Visita Canônica na comunidade ucraniana da Colônia Eufrozina, Distrito de Fluviópolis, Município de São Mateus do Sul, pertencente à Paróquia Natividade de Nossa Senhora, com sede em Vera Guarani, Município de Paulo Frontin. Como outras já publicadas, a presente matéria é composta por quatro partes: 1 – História, 2 – Informações gerais, 3 – Vida eclesial, 4 – Visita Canônica.

1. HISTÓRIA

O presente histórico é um trabalho elaborado por Terezinha e Josiane Lakonski e o Pe. Sergio Hryniewicz.

A comunidade da igreja São Pedro e São Paulo é uma das primeiras comunidades ucranianas no Brasil. Está situada ao lado da BR 104 que liga Mallet a BR 476, a 5 km do Distrito de Rio Claro, a 2 km da BR 476 e a 6 km do antigo porto fluvial Barra Feia, hoje Fluviópolis, às margens do Rio Iguaçu. O Porto Barra Feia era um dos mais movimentados no tempo em que o Rio Iguaçu era navegável. Além de servir como local de desembarque para milhares de imigrantes ucranianos, servia também de local de embarque e desembarque de produtos de primeira necessidade.

Em 1891, conforme relato do Sr. Ivan Pachevicz (Carta 12/12/1951), chegaram a Barra Feia os primeiros imigrantes. Alguns se fixaram não longe do porto na atual Colônia Eufrozina, outros em Rio Claro e Colônia Cinco de Mallet. Nos anos posteriores, os imigrantes chegavam e praticamente todos passavam em frente à nossa atual igreja, eram assentados nas colônias e vicinais ao redor do Rio Claro, Colônia Cinco, Colônia Três de Mallet, Serra do Tigre, Limoeiro, Candido de Abreu e Vera Guarani.

Não havia nenhuma igreja, templo. Celebrava-se o Natal do Senhor e a Páscoa na casa de família. Assim era a celebração da Páscoa: o pai benzia os alimentos com água benta enquanto todos rezavam o “Pai Nosso”.

O cemitério da comunidade está ao lado da igreja. O primeiro enterro aconteceu em 1902 com o sepultamento do Sr. Bartolomeu Delaba, nascido na Ucrânia em 1853.

Em 1896, chega ao Brasil o Pe. Nikon Rosdoski; também ele desembarca no Porto de Barra Feia. Conforme relato dos mais antigos, antes de se estabelecer e construir a primeira igreja ucraniana no Brasil na Colônia 5 de Mallet, abençoada aos 11/04/1897, ele celebrava a Divina Liturgia e administrava os sacramentos nas casas das famílias em Barra Feia e Rio Claro do Sul. O mestre de construção foi o Sr. Panás (Panhko) Zavadzskey que residia em Barra Feia. Na época, o povo continuava a se reunir e rezar em casas de famílias nos dias santos maiores, ia a pé até a igreja da Colônia 5 (18 km).

Mais tarde, o Pe. Nikon fixa residência na Serra do Tigre, onde foi construída a atual igreja São Miguel, em 1903. Conforme relato dos mais antigos, por algumas vezes ele veio celebrar na região de Rio Claro e Barra Feia. Com a igreja de Serra do Tigre pronta, o povo, além de ir a Colônia 5, também frequentava a igreja São Miguel na Serra do Tigre.

Pe. Nikon foi o primeiro padre que deu assistência espiritual à Comunidade da Colônia Eufrozina. Em 1906, a comunidade se reuniu e decidiu construir uma igreja na localidade, onde está a atual igreja São Pedro e São Paulo. Infelizmente, naquele ano o Pe. Nikon veio a falecer. Mesmo com a sua morte, o povo não desiste do objetivo. No mesmo ano, o Pe. Cirilo Semkiv, OSBM é nomeado Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus na Colônia Três, o qual, conforme relato, esteve algumas vezes visitando a comunidade da igreja São Pedro e São Paulo.

Em 1908, chega a Serra do Tigre o Pe. Paulo Petreski. Por ser padre casado, que é canonicamente normal na Ucrânia até hoje, foi proibido de exercer o seu ministério. Mas foi ele que incentivou, ajudou e iniciou a construção da primeira igreja naquele ano.

Em 1912, a igreja já estava pronta, fruto de muito sacrifício e esforço. A madeira foi doada pela comunidade, serradas manualmente e trazidas nas costas de até 5 km de distância. Segundo o que relata Dona Helena Such (87 anos), os mestres de obra foram Ivan (ou Panhko) Zawaskey e Teodoro Susla; as famílias fundadoras foram: Such, Susla, Retcheskiy, Kastchuk, Loyko, Dolenney, Novakovski, Lumikowski, Derevlianey, Stachechen, Basniak, Remeniuk, Rosniak, Zawadzskey, Zarichen, Delaba, Jaremtchuk, Paiteka, Handocha, Lakowski e tantos outros.

No ano de 1968, devido à precária condição, a igreja foi desmanchada, pois apresentava muitas goteiras e a madeira estava se deteriorando. No mesmo ano, começa a construção da nova igreja que demorou muitos anos para ser concluída. A igreja começou a ser construída pelo Sr. Boris Ochinski e seus dois filhos Eduardo, que era pedreiro, e Celino Ochinski, ajudante. Foram pagos em dinheiro e também havia ajuda de voluntários da comunidade. Eles moravam em Rio Claro e já são falecidos.

As telhas vinham de Paula Perreira, trazidas de carroça pelos senhores Nicolau Lakonski e Miguel Such. “Eles saíam de carroça de manhã e só voltavam carregados à noite, pois era longe’’, relata a Sra. Helena. E o Sr. Miguel Lakonski conta: “As pedras para a fundação eram trazidas de caminhão pelo senhor Omelian Kotianski da Serrinha e eram quebradas com marreta à mão’’.

Por muitos anos, foram presidentes das comissões administrativas: Miguel Such, Leonardo Such, João Derevlianey, João Rastchuk depois Gregório Loyko, Waldomiro Suda, Floriano Zarichen, André Kastchuk, Miguel Lakonski, Miroslau Susla, Marquiano Susla, Orlando Zarichen, Severo Loyko, Lauro Derevlianei, Altamir Bastos.

O Apostolado da Oração, grupo das senhoras, foi fundado pelo Pe. Metódio Koval, em junho de 1952. A primeira “revnetelhka” foi a Sra. Paulina Haltchuk Stachechen, com 20 associadas. As senhoras Maria Lakonski e Lidia Novakoski a sucederam.

Além dos Padres Nikon Rosdolski, Paulo Petreski e Cirilo Senkiv, OSBM, a comunidade nesses mais de cem anos foi atendida pelos Padres: Pe. Emiliano Ananevicz, Pe. Valdomiro Haneiko, Pe. Pedro Busko, Mateus Siantchuk. De 1949 até 1977, atendia a comunidade o Pe. Metódio Koval. Durante o seu pastoreio, por motivo de sua enfermidade, o Pe. Severo Preima (de Mallet) o auxiliava nas celebrações. Graças ao Pe. Severo, o altar principal foi uma doação da Paróquia Sagrado Coração de Jesus de Mallet.

Aos 22 de janeiro de 1978, é ordenado sacerdote Jaroslau Susla, filho da comunidade, filho de Valdomiro e Eugênia Dolenei Susla. Ele assume a Paróquia de Vera Guarani até 1980. Lembrando que, desde 1938, a igreja São Pedro e São Paulo pertence à Paróquia Natividade de Nossa Senhora.

A sequência dos párocos posteriores é a seguinte: em março de 1980, assume o Pe. Sergio Hryniewicz, até 1987; Pe. Dionizio Zaluski – 1988-1995; Pe. Sergio Krasniak – 1996-1999; Pe. Mario Carlos Lazoski – 1999-2001; Pe. Luiz Pedro Polomanei – 2001-2008; em maio de 2008, reassume a Paróquia o Pe. Sergio Hryniewicz, que está à frente até o dia de hoje.

Dom Efraim Basilio Krevey, OSBM visitou a comunidade em 1983 e em 2003, quando oficiou a bênção da atual Igreja, depois de uma nova reforma, em especial a troca de telhas.

A igreja São Pedro e São Paulo é a única igreja da Paróquia Natividade que tem “iconostás”. A pintura interna foi feita pelo Sr. Igor Pelech.

Desde a chegada do Pe. Metódio Koval, em1949, as Irmãs Catequistas de Sant’Ana têm muito mérito na formação e desenvolvimento da comunidade. As crianças eram preparadas para a Primeira Comunhão pelas Irmãs durante em cursos intensivos durante as férias de janeiro, até o ano 2000, conforme a prática da antiga Eparquia. Além da catequese das crianças, elas também ministravam a catequese, cantos litúrgicos, língua ucraniana aos jovens e adultos. Desde o ano de 2001, a catequese tomou um novo formato em 3 anos (1º, 2º e 3º nível). A catequese passou a ser ministrada então pelas catequistas da própria comunidade, sempre sob a coordenação das Irmãs Catequistas de Sant’Ana.

2. INFORMAÇÕES GERAIS

São aproximadamente 40 famílias ucranianas que fazem parte da comunidade. Praticamente todas são de agricultores que plantam soja, milho, trigo, fumo, feijão, melancia, erva-mate, madeira, leite.

3. VIDA ECLESIAL

A vida eclesial da comunidade pode ser descrita considerando os seguintes pontos: administração, espiritualidade, Pastoral Catequética e Movimento do Apostolado da Oração.

O atual Conselho Administrativo Paroquial (CAP), eleito no dia 14 de janeiro de 2014, é assim formado: Presidente Executivo – Adão Such; 1º Vice Presidente – Miguel Celso Twardowski; Tesoureiro – Marquiano Susla; 1º Vice Tesoureiro – Mauro Susla; Secretário –  Mauricio Alfredo Gulanowski; 1º Vice Secretária – Lindarci Gulanowski; Conselho Fiscal: Hilário Roberto Laconski, João Orestes Zarichen, Hilário D. Such, André Marcio Prosciak, Angélica Hamera, Vanda Kaminski, Denise Susla, Marta Churtkowski, Amélia Cezne, Franciele Rozniak, Fernando Farias e Luiz Carlos Dreviane.

A estrutura para a realização de festas é boa. “Estamos sempre melhorando”, relatou o Sr. Adão Such. São realizadas duas festas por ano: uma grande do padroeiro – próximo da data de São Pedro e São Paulo e outra menor – no fim de outubro. Desde a posse da nova comissão, foram feitos os banheiros, a calçada em volta da igreja e a cozinha foi reformada (azulejo, telhado, móveis, bancos mesas, forno). Como planos para o futuro constam: pintura da igreja, construção do muro do cemitério, muro em volta do terreno da igreja.

As celebrações litúrgicas acontecem uma ou duas vezes ao mês, em ucraniano, com algumas partes em português, pois muitas famílias do Rito latino (poloneses) frequentam e auxiliam a comunidade. No dia do Padroeiro São Pedro e São Paulo e Corpus Christi é realizada a procissão. São rezadas as novenas em preparação para o Natal e a Via-Sacra na Quaresma. Por ocasião do Natal se mantém a tradição de ir cantar “kolhadas” nas famílias. Além de todas as famílias ucranianas, também muitas do Rito latino são visitadas.

A catequista é a Sra. Rosa Kastchuk Loiko, tendo como auxiliar a Sra. Izabel Katchka Susla. Atualmente, são seis crianças que estão no 1º nível. Sempre são feitas comemorações por ocasião do dia das mães, pais, padre, crianças.

A Sra. Josiane Dudas Lakonski, desde o ano 2000, comanda seu grupo, hoje com 15 integrantes – só mulheres. O grupo dos homens por muitos anos foi coordenado pelo Sr. Valdomiro Susla, já falecido. Atualmente, é o Sr. Estefano Kastchuk que acompanha o grupo, contando com 12 membros. As reuniões, são realizadas separadamente, e sempre aos domingos, na igreja ou na casa de algum dos associados que esteja doente.

4. VISITA CANÔNICA

O Arcebispo Metropolita Dom Volodemer Koubetch, OSBM esteve em Visita Canônica na comunidade de Colônia Eufrozina nos dias 23, sábado à tarde, e 24 de abril de 2016, domingo de manhã.

23 de abril – sábado

Tendo celebrado a Divina Liturgia de encerramento e participado do almoço de confraternização em Carazinho I, despedindo-se da comunidade e seguindo o carro do Pe. Sergio Hryniewicz, dirigido por seu irmão de União da Vitória, o Metropolita fez uma rápida visita à igreja de Cândido de Abreu e chegou à Colônia Eufrozina pelas 15 horas.

Dom Volodemer verificou a manutenção da igreja, dos pavilhões e do cemitério, que fica atrás da igreja. Fez registros fotográficos, conversou com algumas pessoas e preparou os paramentos para a Divina Liturgia

Em frente à igreja, com o sol ainda a pique, às 17 horas, a comunidade prestou uma singela homenagem ao Arcebispo em sua primeira visita. A catequista Rosa Kastchuk Loiko fez um discurso em ucraniano. “Saudamos o senhor como o nosso pai espiritual e pastor, que zela pelo seu rebanho a exemplo dos pregadores Santos Apóstolos Pedro e Paulo. … Confirme e fortaleça a nossa fé para o nosso melhor serviço a Deus e sua Santa Igreja”, disse Rosa. A seguir, no mesmo espírito, a jovem Denise Susla discursou em português. Em nome dos catequizandos e das crianças, Tainara Kastchuk Nunes pronunciou umas palavras carinhosas e entregou ao visitante um buquê de flores. Com as palavras explicativas do Pároco Sergio Hryniewicz, o Presidente-Executivo Sr. Adão Such e sua esposa Sra. Salete Olestchechen Such saudaram o Arcebispo Metropolita tradicionalmente, segundo o costume ucraniano, com pão e sal. O Pe. Sergio Hryniewicz finalizou a acolhida.

Dentro da igreja foram lidas as intenções e se celebrou a Divina Liturgia, toda cantada. A homilia do Metropolita discorreu sobre a misericórdia a partir da parábola sobre o bom samaritano. Dom Volodemer focalizou especialmente a crítica de Jesus à estrutura social e religiosa da época, apontando para uma mudança radical nos relacionamentos entre as pessoas. Seguindo a linha dos grandes profetas do Antigo Testamento, Jesus disse: “Ide, pois, e aprendei o que significa: Misericórdia é que eu quero, e não sacrifício” (Mt 9,13).

As Irmãs Catequistas de Sant’Ana, vindas de Vera Guarani, Amélia Makohin e Salete Melnik, auxiliaram nos preparativos da recepção e no canto litúrgico.

Após a Divina Liturgia, o Arcebispo teve uma reunião com os membros do CAP e do Apostolado da Oração. Ele verificou o funcionamento, as atividades e os projetos das duas instituições.

Dom Volodemer foi recebido pelo casal Valeriano Alfredo Gulanowski e Lindarci Manchak Gulanowski que lhe ofereceram o jantar e a hospedagem. Mesmo já terem formado cinco filhos, Valeriano e Lindarci continuam trabalhando, ela na produção leiteira e ele na agricultura. Participaram e auxiliaram nos preparativos o filho Maurício Alfredo Gulanowski e a nora Eliane Alice Kastchak Gulanowski, que moram ao lado. O jovem casal trabalha com o pai e a sogra e tem uma filha de quatro anos, Rayane Maria.

24 de abril – domingo

Às 08:30, o Arcebispo Metropolita encontrou-se com as crianças da catequese e suas catequistas as Senhoras Rosa Kastchuk Loiko e Izabel Katchka Susla.

As Irmãs de Sant’Ana Amélia Makohin e Salete Melnik estiveram presentes à reunião catequética e logo a seguir também auxiliaram na celebração da Divina Liturgia, que começou às 09:30. O Diácono permanente João Basniak de Mallet cumpriu sua função e ainda trouxe o acólito Tiago Oszust. Em sua homilia, Dom Volodemer continuou a temática dos relacionamentos humanos transformados pelo ensinamento e exemplo de Jesus Cristo. Seu relacionamento com o ser humano é de amorização e salvação e, assim, ele transformou a mulher samaritana, cujo domingo é lembrado hoje.

Após as costumeiras fotos e a distribuição do pão abençoado, a comunidade preparou uma bonita confraternização na qual não faltou bolo para o visitante Arcebispo Metropolita e aos aniversariantes da comunidade.