Sínodo de encontros marcantes

Por uma série de motivos históricos e estratégicos, o Sínodo ordinário anual dos Bispos Católicos Ucranianos aconteceu em Roma entre os dias 1 a 10 de setembro de 2019. O Sínodo foi celebrado no 90º aniversário das primeiras reuniões dos bispos greco-católicos, iniciadas em Roma pelo Metropolita Andriy Sheptytsky, em 1929. Mas Roma também é o local onde as reuniões sinodais da Igreja Greco-Católica da Ucrânia são retomadas depois do Concílio Vaticano II, em 1981, por vontade de São João Paulo II. A última reunião em Roma foi realizada há vinte e cinco anos.Foi um evento muito significativo para a nossa Igreja e teve uma dinâmica e colorido especial com vários encontros belamente marcantes.

1. AMBIENTAÇÃO – ABERTURA

O Pontifício Colégio Ucraniano São Josafat sediou o Sínodo. A seguir, encontram-se algumas datas e informações mais importantes sobre o colégio e sobre a abertura do sínodo.

1.1. Ambientação

O Pontifício Colégio Ucraniano São Josafat é um colégio de longa história, que acolhe seminaristas e sacerdotes ucranianos de todas as partes do mundo, que vem a Roma para fazer os estudos eclesiásticos e especializações em nível de mestrado e doutorado, sobre na área teológica. Está localizado na colina do Gianicolo, de onde se tem uma visão panorâmica muito bonita da cidade eterna.

A história desse colégio inicia na segunda metade do século XVI, em 1576, quando o Papa Gregório XIII fundou o Pontifício Colégio Grego Santo Atanásio para os estudantes das Igrejas Católicas Orientais, no qual também estudavam clérigos da Igreja kieviana.

Entre 1803 e 1845, o colégio foi fechado por causa das guerras napoleônicas.

Em 18 de dezembro de 1897, o Papa Leão XIII, atendendo ao pedido do Metropolita de Lviv Dom Silvestre Symbratovicz, criou o Pontificium Collegium Ruthenorum. Desse ano até 1932 a sede foi transferida para a Piazza Madonna dei Monti, junto aos Padres Basilianos, que assumiram a direção do colégio a partir de 1904, tendo na pessoa do Pe. Arcenio Lozynski, OSBM o primeiro reitor basiliano.

Durante a primeira guerra mundial, os alunos foram morar em Viena e retornaram em 1921.

Em 1925, o Reitor Pe. Dionísio Holovetzkij, OSBM dirigiu-se à Santa Sé solicitando um espaço maior por causa do número crescente de estudantes. Após o Tratado de Latrão, consumado entre o reino da Itália e a Santa Sé, em 1929, o Vaticano recebeu do governo italiano um terreno de grande extensão na colina do Gianicolo, onde foi iniciada a construção do novo colégio, cuja inauguração aconteceu no dia 13 de novembro de 1932.

No dia 16 de janeiro de 1983, por ocasião do 85º aniversário de fundação e 50 anos da construção atual, o colégio recebeu a visita do Santo Papa João Paulo II. Em 2017, celebrando 85 anos da nova sede no Gianicolo, o Papa Francisco recebeu a comunidade do colégio.

De 1897 a 2019, foram nomeados 16 reitores, entre os quais estão alguns brasileiros: Dom José Romão Martenetz, OSBM (de saudosa memória), Pe. Genésio Viomar, OSBM (atual Superior Geral), Pe. Estefano Starepravo, OSBM (atual Vice-Superior Geral). Atualmente, o reitor também é brasileiro Pe. Luis Caciano, OSBM (Consultor Geral). Foram nomeados 14 vice-reitores e mais de 20 padres espirituais, que acompanharam aproximadamente 1.000 estudantes dos quais cerca de 100 foram ordenados presbíteros e uns 10 tornaram-se bispos.

Além do Reitor já lembrado, o atual Vice-Reitor Pe. Teodósio Hrenh, OSBM e o Pe. Espiritual Roberto Lіceyko, OSBM prestaram inestimáveis serviços, que contribuíram para o ótimo andamento do Sínodo. Tanto os Bispos, como os palestrantes e assessores foram muito bem acolhidos e servidos pelas cozinheiras, que são Irmãs Servas da Polônia e por um grupo de seminaristas do colégio, provenientes da Ucrânia. O translado aos principais locais das celebrações e encontros ficou por conta dos padres da nova congregação de origem espanhola Opera dela Chiesa, fundada por Madre Trinidad, que recebeu a visita dos Bispos sinodais no dia 7 de setembro à tarde.

1.2. Abertura

A abertura pública celebrativa do Sínodo se deu de manhã na Basílica Santa Sofia, sobre a qual se falará mais adiante.

De forma mais reservada e formal, com a reza do “Molebenh” ao Espírito Santo, a abertura do Sínodo foi realizada à tarde na capela do Colégio São Josafat. Este momento se caracteriza pelo juramento que cada participante faz pessoalmente, incluindo os secretários e assessores técnicos, colocando a mão sobre o evangeliário.

Realizada a cerimônia religiosa, o evangeliário foi solenemente levado da capela para a sala das sessões sinodais. Imediatamente, aconteceu a primeira sessão introdutória com a apresentação dos assessores, programa, orientações sobre a estadia e teste do equipamento de votação eletrônica, usado pela primeira vez.

2. GRANDES CELEBRAÇÕES

Durante o Sínodo aconteceram quatro grandes celebrações nas seguintes igrejas: Basílica Santa Sofia, Basílica Santa Maria Maggiore, Capela das Irmãs Servas Divina, igrejas de Roma e cidades próximas.

2.1. Basílica Santa Sofia

Como já foi acenado acima, domingo, dia 1 de setembro, foi aberto liturgicamente o Sínodo da Igreja Católica Ucraniana com o tema “Comunhão na vida e testemunho da Igreja Greco-Católica Ucraniana”. O evento foi realizado para celebrar o 50º aniversário da inauguração da Basílica Menor Santa Sofia.

Todos os cerca de 50 Bispos do mundo católico ucraniano estavam presentes. Uma multidão de fiéis, vindos principalmente da Ucrânia, Itália e de outros países da Europa e do mundo vieram prestigiar a solenidade, sob um sol brilhante, tendo que acompanhar a celebração por meio de telões.

Na hora do Angelus, o Papa Francisco cumprimentou os peregrinos ucranianos que vieram para a ocasião.

O Prefeito das Igrejas Orientais Cardeal Leonardo Sandri e o Cardeal Domenico Calcania marcaram presença. Também a Embaixadora da Ucrânia junto à Santa Sé a Sra. Tetiana Ijevska. O Presidente da Ucrânia Petro Poroshenko participou da celebração com sua esposa. Abrilhantou a Divina Liturgia o coral do Seminário Espírito Santo de Lviv.

Em sua longa homilia, o Arcebispo Maior perpassou momentos históricos da Basílica Santa Sofia e buscou seu significado para a nossa Igreja. “Eu, olhando para essas pedrinhas no mosaico da Sabedoria Divina, apelo para todos vocês a encontrarem o seu lugar no desígnio de Deus em relação à Ucrânia e ao mundo. Em sua coloração, na grandeza, e mesmo na pequenez, é preciso encontrar o seu papel para que a Sabedoria Divina se manifeste no mundo atual”, enfatizou Sviatoslav.

Ao final, representando o Papa Francisco, o Cardeal Sandri agradeceu a todos que foram construtores da Igreja Greco-Católica Ucraniana nos tempos das catacumbas e nos tempos da Ucrânia independente.

Finalizada a celebração litúrgica, o Arcebispo Maior procedeu a bênção de uma cruz ao lado da basílica. Depois, aconteceu um concerto jubilar com a orquestra do Seminário e corais da Arquicatedral de Lviv, Seminário Espirito Santo da cidade de Lviv e do coral amador do “celó” Veryn. Outras atividades culturais entretiveram os numerosos peregrinos.

Os Bispos e convidados destacados tiveram uma recepção numa vila romana.

2.2. Basílica Santa Maria Maggiore

Outra belíssima celebração aconteceu na Basílica Santa Maria Maggiore no dia 5 de setembro, à tarde, por ocasião do 150º aniversário do nascimento e 100º da morte da Beata Madre Josafata Hordachevska.

Participaram da celebração: o Arcipreste da Basílica Santa Maria Maggiore Cardeal Stanislaw Rylko, o Secretário da Congregação para as Igrejas Orientais Arcebispo Cyril Vasil, o Ordinário para os católicos de Rito Bizantino na Rússia Dom Iosyf Vert, o Exarca dos greco-católicos da Sérvia Dom Jurij Djudjar, a Embaixadora da Ucrânia junto à Santa Sé Sra. Tetiana Ijevska, os Bispos sinodais, a Superiora Geral da Congregação das Irmãs Servas de Maria Imaculada Ir. Sofia Lebedovicz, SMI, que veio com grande número de religiosas da Congregação, representantes de outras congregações ucranianas e latinas e muitos fiéis.

Antes de iniciar a Divina Liturgia, o Arcipreste deu as boas-vindas ao Arcebispo Maior, aos Bispos ucranianos, às Irmãs Servas e a todos, destacando o significado histórico e eclesial da celebração.

Em sua homilia, o Arcebispo Maior Dom Sviatoslav, comentando o texto do Evangelho sobre a cura da sogra do Apóstolo Pedro, descreveu o contexto social dos tempos da Beata Josafata e os tempos atuais como de “febre”, que precisa ser debelada por Cristo. Como foi no tempo de Jesus, também na história de hoje em dia, temos os servidores que ajudam a curar as diversas “febres” da existência humana, principalmente as das diversas periferias. É uma missão marcante da Beata Josafata e de suas coirmãs. Dom Sviatoslav lembrou que nesta basílica os evangelizadores dos eslavos Santos Cirilo e Metódio celebraram a primeira Liturgia na língua paleoeslava e obtiveram do Papa a aprovação da tradução dos textos litúrgicos. “Nesta basílica, nós hoje pedimos à Santíssima Mãe de Deus a intercessão pelo nosso povo ucraniano. Senhor, venha a nós! Tome-nos pelas mãos a fim de que saibamos que estamos caminhando por esta luz, por esta história, junto contigo. Dai-nos ouvir hoje as palavras da nossa Josafata: ‘Glória a Deus, honra a Maria e a nós – a paz’”, concluiu o pregador.

Ao final da Divina Liturgia, a Superiora Geral dirigiu palavras de agradecimento e de júbilo pelo dom de Josafata, pelo seu exemplo de vida. “Para nós, irmãs, este evento é uma oportunidade para se aproximar mais da Beata Josafata. Ela foi filha de sua Igreja, ela percebeu a necessidade de servir aos imigrantes ucranianos nos longínquas países de colonização, enviando irmãs até aí. Madre Josafata nos reuniu aqui nesta maravilhosa basílica mariana e isso é um sinal de que Maria nos toma pelas mãos”, enfatizou Madre Sofia.

2.3. Bênção da iconóstase da Capela das Irmãs Servas

No dia 5 de setembro, ao entardecer de um belo dia veranil ensolarado, os Bispos sinodais foram até a sede geral da Congregação das Irmãs Servas, onde o Arcebispo Maior presidiu a bênção da iconóstase e do relicário com as relíquias das Beatas Irmãs Josafata e Tarcísia.

Os autores da iconóstase são de Lviv: Volodemer Sviderskij, Zenovij Menhshykh e Andrij Jarema. Eles continuaram o mesmo estilo e com o mesmo material pré-existente em mosaico.

Após a celebração, ao ar livre, em meio às árvores e flores, foi servido um alegre jantar jubilar.

2.4. Divina Liturgia nas igrejas de Roma

Domingo, dia 8 de setembro, os Bispos sinodais celebraram em diversas localidades de Roma e fora dela, onde existem comunidades formadas de ucranianos católicos: Colégio São Josafat, Mosteiro dos Padres Basilianos, Paróquia São Sérgio e Bacco, Basílica Santa Sofia, Nápoles, igreja do antigo Mosteiro dos Estuditas e outras.

O Metropolita Dom Volodemer presidiu a Divina Liturgia na pequena igreja em Albano, onde era o Mosteiro dos Estuditas, que agora moram na Vila Santo André, bem próximo do Castelgandolfo. Concelebram Dom Pedro Staciuk – Eparca da Austrália, Dom Pedro Kryk – Exarca da Alemanha, Dom Pedro Loza – Auxiliar da Eparquia de Sokalh-Jovkva, Dom Hilb Lonchyna – Administrador Apostólico da Eparquia da França, Dom Venedykt – Eparca de Chicago, que proferiu a homilia, Dom Teodoro Martenhuk – Auxiliar da Arquieparquia de Ternopilh-Zboriv, Pe. Mykola Matviisvkij – Administrador da Eparquia da Inglaterra, Pe. Orest Kozak – Superior do Mosteiro Estudita. Um Diácono prestou serviços litúrgicos.

Estava presente a Superiora Geral Ir. Sofia Lebedovicz, SMI com algumas coirmãs. O Diácono Daniel Galadza dirigiu os cantos.

O almoço foi servido na Vila Santo André, de cujo terraço se tem uma visão privilegiada do lago Albano e suas redondezas.

3. ESPIRITUALIDADE

Todas as atividades sinodais são realizadas espiritualmente, mas aqui se destacam três como especificamente destinadas para o cultivo da espiritualidade durante o Sínodo: retiro – reflexões espirituais, homenagem aos jubilandos, “Panakheda” pelos Bispos falecidos

3.1. Celebrações diárias

Diariamente, havia a celebração da Divina Liturgia, Hora Sexta e Vésperas. Às 9 horas da noite, se fazia a oração pela Ucrânia.

Os Metropolitas presidiam a celebração da Divina Liturgia, sempre muito bem cantada pelos seminaristas e servida pelos diáconos.

3.2. Retiro – reflexões espirituais

Após a proclamação do Evangelho, o Diretor Espiritual do Colégio São Josafat Pe. Roberto Liceyko, OSBM fazia uma reflexão em base ao texto do dia. Ele se esforçava em ligar as reflexões com o tema do Sínodo, que foi sobre a comunhão e a unidade. Ele mesmo explicou: “Por isso, eu sempre enfatizava algum aspecto da leitura evangélica, que é fundamento da unidade, isto é, o exemplo de Cristo, como Ele reunia seus discípulos e pregava ao povo, como os unia ao seu redor, o que ensinava”. Pe. Roberto disse que o princípio da união é o amor.

O mesmo sacerdote fez colocações mais longas e aprofundadas no dia 5 de setembro, destinado ao retiro espiritual.

3.3. Homenagem aos jubilandos

Não somente os programas formais, mas também os informais criam a espiritualidade da união. Para isso, como já se faz há muitos anos, foi aproveitado um jantar – 6 de setembro.

No pátio do colégio, foi servido um jantar animado durante o qual os Bispos e Padres que celebravam algum tipo de jubileu foram especialmente homenageados e presenteados.

 3.4. “Panakheda” pelos Bispos falecidos

Sendo uma prática antiga, também durante este Sínodo, no dia 7 de setembro, foi celebrada uma “Panakheda” pelos falecidos Bispos, exatamente no dia de hoje, lembrando especialmente o Patriarca Iosyf Slipyj pelo 35º aniversário de sua morte

4. ENCONTROS

Seis encontros que aconteceram durante o Sínodo foram excepcionalmente marcantes: Papa Francisco, Secretário de Estado Cardeal Parolin, Vigário pontifício Cardeal De Donatis, Presidente da Conferência Episcopal Italiana Cardeal Basetti, Reitoria do Pontifício Instituto Oriental, Papa Emérito Bento XVI.

4.1. Encontro com o Papa Francisco

Certamente, o encontro com o Papa Francisco, ocorrido no dia 2 de setembro, foi um dos momentos mais aguardados e significativos.

Em nome dos Bispos, dirigindo-se a Sua Santidade, o Arcebispo Maior Sviatoslav falou sobre o tema central do Sínodo e reforçou a fidelidade e a comunhão de nossa Igreja com o Santo Padre.

Francisco decidiu não ler o texto de seu discurso, afirmando que já disse o que era necessário no encontro realizado no início de julho. Ele argumentou que o Sínodo não deve funcionar como um parlamento, onde os políticos debatem e negociam, mas é preciso “ser sínodo”, no qual age o Espírito Santo. “Se não há Espírito Santo, não há Sínodo. Se não há Espírito Santo, não há sinodalidade”, enfatizou o Pontífice. “Qual é a identidade da Igreja? – perguntou o Papa. O Santo Paulo VI disse claramente: a vocação da Igreja é evangelizar, mais ainda, a evangelização é sua identidade”. Recomendou: “Rezem ao Espírito Santo… Queremos transformar-se não numa Igreja congregacional, mas sinodal. Sigam por esse caminho”.

Após esse diálogo, Francisco preferiu o contato pessoal com cada um dos Bispos presentes.

4.2. Encontro com o Secretário de Estado Cardeal Parolin

O Secretário de Estado Cardeal Pietro Parolin visitou o Sínodo durante a primeira sessão do dia 3 de setembro. O diálogo muito aberto e franco, girou em torno a duas questões: o Patriarcado e a estruturação do Exarcado na Itália.

Referente ao Patriarcado, após ouvir a argumentação de alguns Bispos, o Cardeal disse que se trata de “uma questão delicada” e que o momento atual não é propício e orientou para que se pense menos na dimensão institucional e se busque mais a evangelização.

Em relação ao Exarcado na Itália, tendo ouvido principalmente Dom Dionísio Lachovicz, Parolin assegurou sua ajuda nessa fase inicial em que pesa a resolução de problemas práticos.

4.3. Encontro com o Vigário pontifício em Roma e Administrador apostólico dos católicos ucranianos na Itália Cardeal De Donatis

Visitando o Sínodo na segunda sessão da manhã do dia 4 de setembro, o Cardeal Angelo de Donatis manifestou seu apreço pela presença e fidelidade da Igreja Greco-Católica à Santa Sé, o que lhe custou muitos sacrifícios. “Vossos mártires constituem uma luz, que ilumina vossa Igreja sui juris e toda a Igreja Católica”, enfatizou. Especialmente, reconheceu a presença de tantas mulheres ucranianas nas famílias italianas, o que aproximou os dois povos e transmitiu a fé: “são verdadeiras heroínas”.

Dom Sviatoslav e Dom Dionísio relataram mais detalhes sobre a situação dos ucranianos na Itália, agradeceram ao episcopado italiano pelo apoio e ajuda e auguraram ao Cardeal um profícuo trabalho de colaboração.

De fato, o encontro acelerou o encaminhamento de alguns requisitos básicos para a efetiva estruturação do Exarcado, como a concessão da cidadania italiana a Dom Dionísio, que poderá demorar um pouco mais, e sua nomeação como delegado com amplos poderes, que aconteceu no dia seguinte.

4.4. Encontro com o Presidente da Conferência Episcopal Italiana Cardeal Basetti e o Diretor da Fundação “Migrantes” Pe. Giovanni de Robertis

Na segunda sessão matinal do dia 6 de setembro, o Sínodo teve a honra de receber Presidente da Conferência Episcopal Italiana Cardeal Gualtiero Basetti. Sua Beatitude Sviatoslav lhe agradeceu pela prestimosa ajuda financeira da parte do Episcopado italiano, o que indica um verdadeiro sinal de comunhão e sinodalidade. Em sua fala, Basetti enalteceu a beleza da união na diversidade de ritos e possibilidades. Shevchuk agradeceu pelo apoio dado à criação do Exarcado. Dom Dionísio e outros Bispos reforçaram o agradecimento e o pedido de ajuda na estruturação do Exarcado. O Presidente da CEI manifestou particular sentimento diante da triste situação de muitas mulheres ucranianas que são rejeitadas pelos familiares quando voltam para casa.

Tomando a palavra, o Pe. Robertis falou sobre o fenômeno migratório na Itália e focalizou a migração ucraniana. Em números, os ucranianos ocupam o quinto lugar na Itália, atrás da Romênia, Albânia, Marrocos e China. Em sua maioria, são mulheres que cuidam de pessoas idosas. Porém, existe um grave problema: gerações inteiras crescem sem suas mães, em muitos casos sem os dois, sem o pai e sem a mãe. Tanto é que, em 2005, foi diagnosticada uma nova doença psíquica cunhada de “Síndrome da Itália”: ao retornarem à Ucrânia, muitas mães não são admitidas em seus próprios lares e, por isso, até cometem suicídio.

O que a Igreja deve fazer diante dessa dramática situação? Pe. Giovanni acenou para algumas soluções, como, por exemplo, a criação de espaços paroquiais de acolhida dessas senhoras heroínas, mas abandonadas pelas suas próprias famílias.

4.5. Encontro com a Reitoria do Pontifício Instituto Oriental

Por ocasião do 1030º aniversário do Batismo da Rus de Kiev, celebrado no ano passado, a partir de intensos trabalhos de pesquisa da Universidade Católica de Lviv, foi lançada uma volumosa coleção de 20 livros sobre o Cristianismo de Kiev. Esta tem por objetivo examinar criticamente as fontes teológicas, canônicas e socioculturais da transmissão da fé nas terras ucranianas, dentro do contexto das tradições cristãs de Bizâncio, das comunidades latino-ocidentais e ortodoxas orientais e no âmbito da União de Brest.

No dia 7 de setembro à tarde, os Bispos do Sínodo visitaram o Pontifício Instituto Oriental e o presentearam com a referida coleção.

O Reitor do Instituto Pe. David Nazar, jesuíta, falou em ucraniano sobre sua vivência pessoal, da diáspora ao retorno à Ucrânia, experiência que o tem reconectado à tantos outros cristãos em países como a Síria, de onde o Instituto recebe muitos estudantes. “Trata-se de um lugar seguro, onde se pode fazer perguntas difíceis e onde uma Igreja pode aprender da experiência de outras Igrejas, entre as quais a Igreja Greco-Católica Ucraniana desenvolve um papel fundamental”, disse Nazar.

A formação dos estudantes ucranianos foi assunto desenvolvido pelo Decano da Faculdade de Direito Canônico Oriental Pe. Georges Ruyssen. Muitos Bispos estudaram no Instituto, lembrou Pe. Georges.

Sua Beatitude Shevchuk sublinhou que o futuro das Igrejas Orientais pode ser voltado à proteção e transmissão da herança cultural das nossas Igrejas por meio do trabalho da pesquisa científica e da formação. Após o discurso, ele fez a doação da coleção.

Os Bispos visitaram a biblioteca e outras repartições do Instituto e puderam servir-se de um bom lanche.

4.6. Encontro com o Papa Emérito Bento XVI

Um momento de elevado afeto e sinodalidade foi a visita que Sua Beatitude Sviatoslav e os Metropolitas fizeram ao querido Papa Emérito após o encerramento oficial do Sínodo, no dia 10 de setembro à tarde.

Bento XVI mora no mosteiro “Mater Ecclesiae” e, apesar de sua condição física bastante frágil, que enfraqueceu muito sua voz, ele muito prontamente fez questão de se encontrar com a nossa delegação, informou Dom Georg Haysven, Prefeito da Casa Pontifícia e secretário particular de Sua Santidade.

O Arcebispo Maior comentou sobre o Sínodo e sobre a dramática situação na Ucrânia. Com mente atenta e aguda, diante da fragmentação contemporânea, Joseph Ratzinger sinalizou para a unidade e demonstrou preocupação com a militarização das fronteiras na Europa oriental. É necessário dar testemunho de unidade “no mundo atual dividido e fragmentado; o mundo de hoje precisa de unidade”, enfatizou o Pontífice Emérito.

5. TEMAS ESTUDADOS

Há vários anos, o Sínodo vem se aperfeiçoando em sua metodologia e se ampliando em sua temática. Faz-se aqui uma panorâmica temática, classificando-a em temas diversos e tema principal, lembrando que todos são importantes, mas o tema principal dá o tom de todo o Sínodo e dos respectivos trabalhos nas Arqui/Eparquias durante um ano.

5.1. Temas diversos

Os temas de maior destaque, com seus expositores, foram: eleição de bispos para as sedes vacantes ou que necessitam de bispos auxiliares – Arcebispo Maior; 300 anos do Sínodo de Zamoisth – Dr. Ihor Skotchelhas; Catecismo da IGCU para os jovens – Dom David Motiuk; documentos e providências da Igreja em geral e da IGCU em defesa das crianças e da juventude – Dom Teodoro Martenhuk; Assembleia Geral da UGCU em 2020 – Pe. Roman Chafran; Sínodo dos Bispos em 2020 – Arcebispo Maior e Secretário Dom Bohdan Dziurach; Cúria Patriarcal – Pe. Andrij Maksymovicz; Pastoral de Conjunto da IGCU para 2020 – Dom Ken Nowakivskij; questões litúrgicas – Dom Venedykt Oleksijtchuk e Dom Hlib Lonchyna; Pastoral Social aos imigrantes na Itália – Dom Dionísio Lachovicz e Pe. Giovanni de Robertis; auxílio social aos afetados pela guerra na Ucrânia – Sr. Andrij Vashkovicz; criação da nova eparquia na Polônia – Metropolita Euhen Popovicz; situação jurídica na IGCU – Metropolita Ihor Voznhak; questões econômicas – Pe. Lubomyr Javorskij.

5.2. Tema principal

O tema principal – Comunhão na vida e testemunho da UGCU – foi apresentado pelo Arcebispo Maior com a complementação de tipo mais analítico das realidades regionais feita pelos Metropolitas Lourenço Huçulak – Canadá, Euhen Popovicz – Polônia, Boris Gudziak – Estados Unidos e Volodemer Koubetch – Brasil.

A partir dessas exposições, foram realizados trabalhos em grupos, houve um debate mais extenso em plenário, foram elaborados uma lista bastante longa de decisões práticas, um comunicado geral e uma carta pastoral. Serão traduzidos e estudados no decorrer do ano.

Segundo o Arcebispo Maior, duas dimensões são bem evidentes na questão da união e unidade: a dimensão ad extra – o relacionamento externo, para fora das nossas próprias estruturas e vivências, constituindo a catolicidade, a universalidade da nossa Igreja; a dimensão ad intra é a unidade interna vivenciada por nós a partir dos valores fundacionais, daquilo que nos identifica eclesial e culturalmente. “Nossa Igreja se faz global não pela geografia, mas pela união interna”, declarou ele.

6. RESULTADOS

Algumas decisões importantes foram tomadas durante o Sínodo, haja vista a presença e a proximidade com as autoridades vaticanas. Entre outras, destacam-se duas: Visita do Papa à Ucrânia, Exarcado na Itália e Eparca de Kamianetz-Podilhskij.

6.1. Visita do Papa à Ucrânia

Com o encontro realizado no início de julho e as conversações com as autoridades pontifícias durante o Sínodo, a visita do Papa Francisco à Ucrânia tornou-se uma possibilidade mais próxima. Na verdade, diante da situação dramática em que se encontra o país, a visita do Pontífice é uma necessidade prioritária senão urgente. A esperança de que acontecerá real mudança e melhoria na Ucrânia com a visita do Papa é muito grande entre a hierarquia e o povo ucraniano em geral.

6.2. Exarcado na Itália

Dia 11 de julho de 2019, o Papa Francisco criou o Exarcado e nomeou seu Vigário o Cardeal Angelo de Donatis como Administrador apostólico. Por um decreto do Cardeal, Dom Dionísio Lachovicz foi nomeado Delegado com todos os direitos de um Exarca para os fiéis católicos ucranianos na Itália. O decreto foi promulgado na Basílica Santa Maria Maggiore, no dia 5 de setembro, no final da celebração litúrgica por ocasião do 100º da morte da Madre Josafata.

“Hoje, o Papa Francisco, por intermédio de seu Vigário, entrega ao senhor a missão da salvação das almas desse Exarcado, o qual tanto queríamos e que foi criado pelo Santo Padre a fim de que cada ucraniano na Itália se se sinta amado e protegido pela Igreja”, disse o Arcebispo Maior a Dom Dionísio, desejando-lhe um fecundo serviço. Dom Dionísio respondeu: “Agradeço a Deus por tudo, e também a todos que me apoiaram. Foi uma longa caminhada e nós chegamos ao início de uma nova etapa com a vossa ajuda e orações”.

O Exarcado conta com aproximadamente 70.000 fiéis, organizados em 145 comunidades, atendidas por 62 sacerdotes. A Catedral será a igreja São Sérgio e Bacco em Roma.

6.3. Eparca de Kamianetz-Podilhskij

É uma nova Eparquia com sede em Chmelhnetskij, criada pelo Sínodo dos Bispos, e aprovada pelo Papa Francisco no dia 11 de dezembro de 2015, sendo dirigida pelo Administrador apostólico o Metropolita de Ternopilh-Zboriv Dom Vasilij Semeniuk.

Dom Semeniuk administrou a nova Eparquia até a nomeação do primeiro Eparca, que ocorreu no dia 10 de setembro de 2019, na pessoa do Pe. Ivan Kulek, pároco da paróquia São Sérgio e Bacco, em Roma.

A nova Eparquia faz parte da Metropolia de Ternopilh-Zboriv.

 7. ENCERRAMENTO

As últimas sessões sinodais transcorreram na manhã do dia 10 de setembro, com a aprovação do comunicado. Em seguida, foram chamados todos os assessores que prestaram diversos serviços ao Sínodo e receberam o devido reconhecimento.

A cerimônia de encerramento aconteceu por volta do meio-dia com o translado do evangeliário e da vela para a capela, onde os Bispos agradeceram a Deus pelo ótimo andamento do Sínodo.

Durante o almoço, o Sínodo agradeceu também às cozinheiras, quase todas Irmãs Servas da Polônia. Após o almoço, os Bispos assinaram as resoluções.

Segundo Sua Beatitude Sviatoslav, o tema do Sínodo, que abordou a questão da comunhão e da unidade, foi “muito importante, muito interessante e muito profunda”.

O tema terá continuidade com a realização da Assembleia Geral da IGCU no próximo ano em Lviv e, certamente, levará a nossa Igreja a um patamar estrutural, eclesial e pastoral ainda mais elevado.

Fotos: Vaticano, IGCU, Metropolia brasileira

Texto: Dom Volodemer Koubetch