Seminário em tempo de pandemia

COTIDIANO E VIDA ESPIRITUAL DO SEMINÁRIO MAIOR SÃO JOSAFAT ANTES E DURANTE A PANDEMIA

A Metropolia Católica Ucraniana São João Batista possui dois Seminários para o discernimento vocacional e formação sacerdotal de seus padres seculares ou diocesanos, como geralmente é falado. Atualmente, nestes Seminários também são formados conjuntamente os seminaristas candidatos ao sacerdócio que optam em servir a Eparquia Imaculada Conceição em Prudentópolis. O Seminário Maior São Josafat está localizado no Bairro Água Verde – Curitiba e foi erigido em 1958. Inicialmente, foi a sede episcopal do primeiro Eparca para os ucranianos no Brasil: Dom José Romão Martenetz, OSBM e também de Dom Efraim Basílio Krevey, OSBM, até a construção da atual sede, em 1973. Em 1985 e 1986, o Seminário Maior foi ampliado e inaugurado no dia 4 de setembro de 1986.

O Seminário Menor está localizado em Mallet. Sua construção iniciou em 1955 e foi inaugurada aos 20 de novembro de 1959. Hoje, há três seminaristas que cursam o último ano do Ensino Médio. Atualmente, o Reitor do Seminário Menor é o Revmo. Pe. Clayton Katerenhuk, o qual conta com a ajuda de dois diáconos: Sr. João Basniak, diácono permanente já idoso, e do jovem Samoel Hupolo, recém-ordenado diácono transitório.

A vida no Seminário Maior São Josafat em Curitiba é gratificante e repleta de bons momentos e excelentes oportunidades de amadurecimento e crescimento humano, pessoal, intelectual e espiritual. A vida cotidiana dos seminaristas é puxada. As atividades começam cedo e é preciso organizar o tempo para conciliar os estudos, a vida espiritual, o trabalho, a vida comunitária e o descanso pessoal.

Atualmente, há cinco seminaristas no Seminário Maior em Curitiba: três desejam servir a Metropolia: Iwan Kerneski, Elivelton Jonko e Willian Carlos Noga Ferreira; e dois à Eparquia Imaculada Conceição de Prudentópolis: Jairo Kuczynski e Alexandre Hanchuck. Os seminaristas são naturais de União da Vitória, Canoinhas (Colônia Ouro Verde), Três Barras, Mallet (Dorizon) e Paulo Frontin (Colônia Limoeiro). A família do seminarista de Canoinhas reside atualmente em Foz do Iguaçu.

Durante a semana, o seminarista responsável em fazer o café da manhã levanta bem mais cedo que os demais, por volta das 05h30 da manhã. Às 06h15, todos estão na capela para a oração da manhã ou para a celebração da Divina Liturgia, a qual, se não é celebrada na parte da manhã, é celebrada à tarde. A Divina Liturgia é celebrada diariamente porque a Eucaristia, além de ser o ápice da vida cristã, é por excelência o alimento da vocação sacerdotal diocesana.

Antes da pandemia, a Divina Liturgia era celebrada pelo Reitor do Seminário ou pelo Vice-Reitor, ou por ambos. Durante a pandemia, a programação e a rotina do Seminário foram alteradas. A maior parte das celebrações da Divina Liturgia foram presididas pelo Arcebispo Metropolita Dom Volodemer Koubetch. O motivo se deve à transferência da cozinha e refeições do Arcebispo, do Chanceler Pe. Basílio Koubetch e do seu Vice Chanceler, o Subdiácono Michael Barbusa para o Seminário. Por isso, as celebrações diárias são presididas pelo Arcebispo e concelebradas pelos padres presentes. Este, sem dúvida, é o momento central e principal da vida espiritual do Seminário, pois, Arcebispo, padres e seminaristas estão todos juntos celebrando o Mistério da paixão, morte e ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo e oferecendo diariamente a celebração na intenção geral do povo ou nas intenções particulares que são encomendadas. Após a Divina Liturgia, às 7 horas, é servido o café. O café não pode demorar, porque os seminaristas da Filosofia iniciam seus estudos às 07h30 e são os próprios seminaristas que lavam a louça após as refeições.

Como foi relatado na edição anterior do Boletim, nesse período da pandemia, as aulas presenciais foram substituídas pelas aulas online, mantendo os mesmos horários e grade curricular. É claro que a metodologia dos professores precisou ser diferente. O bom é que nenhum seminarista foi prejudicado nos estudos por causa da suspensão das aulas presenciais. A grade curricular e o cronograma escolar seguiram normalmente. O curso de Filosofia tem início às 7 horas e término às 11h45. As aulas do curso de Teologia iniciam às 8 horas e terminam às 11h20. O almoço é servido ao meio-dia. Após o almoço, há um período de descanso, cujo tempo varia de acordo com a necessidade e os compromissos do dia-a-dia.

Após o descanso do meio dia, por volta das 13h30 ou 14h00, independente se, com ou sem pandemia, inicia a segunda jornada de formação para os seminaristas com atividades e afazeres distribuídos ao longo dos dias da semana: estudo pessoal e realização dos trabalhos e pesquisas acadêmicas, aulas no Seminário, ensaios de cantos, trabalhos de manutenção e limpeza da casa, jardim, horta e vida comunitária. O jantar geralmente é servido às 19 horas. Após o jantar, os seminaristas têm o tempo livre para estudar, ler ou fazer o que mais lhes apraz. Às 21 horas, todos se reúnem na capela para a oração da noite. Após a oração, todos, em seus quartos, dedicam mais um tempo aos estudos, sendo recomendado o repouso noturno para as 22h30 ou no máximo 23 horas. Ter uma boa noite de sono é fundamental para encarar o próximo dia com disposição.

Algumas vezes durante a semana é celebrada as vésperas, em ucraniano “vetchirnia”, às 18 horas. Aos sábados, às 07h30 é celebrado o “Molében” em honra ao Padroeiro São Josafat – o mártir da união. No período da tarde, todos os seminaristas se dedicam à Pastoral Catequética na Arquicatedral São João Batista ou no atendimento dos grupos de jovens ou do MEJ nas comunidades pertencentes à Arquicatedral e no Apostolado da Oração. O serviço pastoral é muito importante para a formação no Seminário, pois é aí que o seminarista desenvolve suas habilidades para o atendimento e serviço ao povo, virtude imprescindível para o candidato ao sacerdócio que deseja ingressar ao clero diocesano.

O Arcebispo Metropolita é o principal responsável pela formação e acompanha a vida do Seminário de perto, pois sempre está presente nas celebrações ou durante as refeições. Porém, devido às suas várias funções, o trabalho de formação é delegado ao Padre Reitor do Seminário, portanto responsável direto e próximo da formação e administração do Seminário.

Atualmente, o responsável pela formação dos seminaristas é o Revmo. Pe. Edson Ternoski, que, além de exercer a função de Reitor, é também o Ecônomo da Metropolia. O Pe. Edson assumiu o Seminário no final de 2015 e vem apresentando um ótimo trabalho na formação, pois cursou o Mestrado em Liturgia Oriental em Roma durante três anos e também realizou um curso de treinamento para a formação dos novos sacerdotes. Além das suas funções específicas no Seminário e na Metropolia, leciona as disciplinas de Liturgia e Ano Litúrgico na Faculdade Claretiana de Teologia em Curitiba e Espiritualidade Oriental na Faculdade São Basílio Magno dos padres Basilianos, também em Curitiba. Dessa forma, além de oferecer seus préstimos para a formação sacerdotal da Metropolia e da Eparquia, o Reitor, com suas atividades no meio acadêmico, colabora para a formação litúrgica e teológica de outros Seminários. Sublinhamos que para a Metropolia São João Batista e Eparquia Imaculada Conceição o trabalho de um Reitor perito em Liturgia é de fundamental importância para a conscientização e formação litúrgica de seus seminaristas e futuros sacerdotes, pois a Liturgia é sagrada e os sacerdotes devem ser os primeiros tutores da Liturgia e da preservação do Rito Bizantino.

O Reitor é auxiliado na formação pelo Vice-Reitor, o Revmo. Pe. Neomir Doopiat Gasperin, Doutor em Direito Canônico pela Faculdade São Paulo Apóstolo em São Paulo, o qual também desempenha a função de Vigário Judicial da Metropolia São João Batista e Vigário paroquial da Arquicatedral. O Pe. Neomir substituiu na função de Vice-Reitor o Revmo. Pe. Joaquim Sedorowicz, que durante vários anos foi Reitor (2008-2015) e Vice-reitor (2015-2020). A formação canônica também é imprescindível para os seminaristas aprenderem a prática pastoral. Desse modo, o Vice-Reitor consegue sanar as dúvidas jurídicas e canônicas dos seminaristas que surgem no campo pastoral e que constituem a praxe da Igreja, com a qual os padres se deparam no dia-a-dia.

Além das atividades mencionadas e relacionadas aos estudos e vida espiritual, os seminaristas realizam vários cursos de extensão oferecidos pelas faculdades em outros horários do dia. Durante essa pandemia foram oferecidas várias palestras para serem assistidas online.

O Seminário ainda oferece aos seminaristas aulas semanais de língua ucraniana, ministradas pela Irmã Maria Demetrio, OSBM; aulas semanais de cantos, ministradas pelo Revmo. Pe. Basílio Koubetch – Chanceler da Metropolia; encontros de formação humana e direção espiritual com o padre espiritual, geralmente um sacerdote da Ordem de São Basílio Magno. Na pandemia, estas atividades sofreram alterações e algumas foram canceladas ou substituídas conforme relatado na edição anterior do Boletim Metropolitano, mas que neste segundo semestre serão retomadas de alguma forma, uma vez que a pandemia não cessou.

Sublinhamos a dedicação dos formadores e dos seminaristas para com as transmissões das liturgias pela página do Facebook da Metropolia e do Pe. Edson Ternoski durante a pandemia. Vários momentos de oração e espiritualidade do Seminário foram transmitidos e compartilhados com todos os fiéis da nossa Metropolia, especialmente com os fiéis da Arquicatedral e comunidades a ela adjacentes e da região de Curitiba.

Muito se dedicaram os seminaristas, principalmente no período quaresmal, aos ensaios de cantos e das liturgias próprias da Quaresma e Semana Santa. Convém ressaltar que os cantores mais experientes são do grupo de risco, a maioria idosos, por isso não puderam participar das celebrações. Várias destas liturgias precisaram ser encaradas pelos seminaristas, alguns novos no Seminário, mas que se dedicaram aos ensaios com responsabilidade e vontade de compartilhar com o povo uma celebração bonita e bem cantada para que o fiel de casa pudesse suprir pelo menos um pouco a falta das celebrações presenciais. Várias vezes, os seminaristas vinham para os ensaios de cantos sentindo-se psicologicamente pressionados ou nervosos quando as melodias não se encaixavam, principalmente nas celebrações em português, mas venceram, porque o zelo em oferecer ao povo uma bonita celebração, apesar das limitações, falou mais alto.

Durante o período da Quaresma, do Seminário Maior São Josafat foram transmitidas nas quartas feiras as Via-Sacras e a Divina Liturgia toda cantada em português. Nas sextas feiras da Quaresma, os seminaristas participavam da Liturgia dos Dons Pré-Santificados celebradas e transmitidas da Arquicatedral. Durante a Semana Santa, foram realizados vários ensaios de cantos para as celebrações especiais deste período que também foram celebradas e transmitidas da Arquicatedral, com a participação dos seminaristas, das Catequistas do Sagrado Coração de Jesus, das Irmãs Basilianas e de alguns fiéis leigos da Paróquia.

Aprender as celebrações da Páscoa também foi um desafio. Ainda falta muito, mas um grande passo foi dado. Após a Páscoa, o Seminário continuou transmitindo as celebrações da Divina Liturgia aos sábados. Durante a semana foram transmitidas algumas celebrações eucarísticas especiais de sétimo dia por alguns falecidos da comunidade, cujas famílias não podiam participar presencialmente, pedindo, então, a transmissão.

Durante o mês de maio, em todas as quartas feiras, o Seminário transmitiu o “Molében” em hora à Mãe de Deus e em junho o “Molében” em honra ao Sagrado Coração de Jesus. Algumas vezes foi transmitido o Santo Terço em ucraniano e português.  Nas primeiras sextas feiras de cada mês, foi celebrada a Divina Liturgia e os seminaristas ou o subdiácono conduziram uma reflexão sobre o tema da intenção do Apostolado da Oração. A Divina Liturgia era celebrada na intenção dos membros do Apostolado da Oração.

Durante a solenidade de Corpus Christi, todas as celebrações foram transmitidas da capela do Seminário e cantadas pelos seminaristas com ajuda do Subdiácono e do Vice-Reitor e celebradas pelo Reitor. Na véspera de Corpus Christi, o Seminário realizou um momento de preparação para a festa com a exposição do Santíssimo e a celebração do “Molében” e da “Suplicatzia” cantados em ucraniano e partes em português para que todos os fiéis que participavam online pudessem fazer sua adoração ao Santíssimo Sacramento.

A verdade é que durante esta pandemia, os seminaristas e formadores passaram várias horas do dia na capela do Seminário: rezando, transmitindo ou ensaiando as celebrações, para que os fiéis pudessem receber a mensagem da Igreja em suas casas – a Igreja doméstica.

Aproveitamos para agradecer aos leitores desta matéria e aos membros das mais diversas comunidades pelo apoio, pelo incentivo através das mensagens na página do Facebook e pela ajuda que prestam ao Seminário Maior São Josafat que tem formado e oferecido para a Igreja vários padres diocesanos.

Uma boa parte das taxas que as comunidades se esforçam para enviar às suas Paróquias e estas à Metropolia e à Eparquia são investidas na formação de novos sacerdotes. Os estudos e as despesas não são baratos. Agradecemos às Paróquias pelas contribuições, às senhoras das capelinhas, membros do Apostolado da Oração, aos benfeitores e doadores individuais que de uma forma ou de outra contribuem com a formação seminarística, especialmente às famílias da Arquicatedral e das comunidades do Boqueirão, Vila Oficinas, Pinhais e São José do Pinhais, que sempre estão fazendo doações em prol da manutenção do Seminário. Uma vez li em um panfleto: “Quem ajuda as vocações, tem um lugar privilegiado no coração de Cristo”. Deus abençoe e recompense a todos e conceda santas novas vocações sacerdotais e religiosas para a Igreja Católica Ucraniana no Brasil.

Pe. Neomir Doopiat Gasperin

Vice Reitor