Redescoberto Cemitério Ucraniano de Castelhanos

A mais nova Paróquia Santíssima Trindade de Colônia Marcelino, em São José dos Pinhais, além de estar bastante movimentada e estar se destacando pelo zelo litúrgico, espiritual e pastoral, conta com ótimas lideranças leigas, vários ainda jovens e também padres jovens. É uma Paróquia promissora em muitos aspectos que, além do mencionado acima, está se preocupando pelo resgate cultural e histórico. Destaque-se o interesse da comunidade local e do Pároco Neomir Doopiat Gasperin em resgatar e preservar a memória dos antepassados imigrantes ucranianos que pereceram vítimas do tifo e da fome.

Na região de Serra de Castelhanos e Santos Andrade, cerca de 100 famílias de ucranianos foram colocadas pelo governo para colonizar a região e desbravar a densa mata atlântica em 1896. Estas localidades onde os ucranianos foram distribuídos situam-se na Serra do Mar, próximas de Guaratuba. Estima-se que foram enviados pelos colonizadores mais de 400 imigrantes ucranianos entre jovens, crianças, adultos e idosos. Deste montante, cerca de 300 pessoas faleceram vítimas do tifo, da fome e picadas de cobras. Foi a maior tragédia ocorrida com imigrantes ucranianos no Brasil.

Na região, há dois cemitérios onde descansaram os restos mortais dos imigrantes. O primeiro cemitério era chamado de Cemitério de Cunhay e já não há mais vestígios, porém, a comunidade de Colônia Marcelino está à procura da localização. Já há indícios de que o local foi descoberto, mas ainda é preciso se certificar melhor. O segundo cemitério é conhecido e localiza-se na região chamada Fazenda Osso da Anta, distante cerca de 30 quilômetros da Colônia Marcelino. O Cemitério Osso da Anta também está na região de Castelhanos e Santos Andrade, por isso, várias pessoas conhecem como Cemitério de Castelhanos.

A Colônia Marcelino, incentivada pela Pároco Pe. Neomir, está se responsabilizando em cuidar e zelar por estes cemitérios, porque os fundadores da Colônia Marcelino são sobreviventes que conseguiram fugir de Santos Andrade e Castelhanos. Ressalte-se que agentes do governo do Paraná impediam a saída dos imigrantes, porque foi planejada a povoação da serra e o pagamento dos respectivos terrenos. Os sobreviventes simplesmente abandonaram tudo e se dirigiram para outras comunidades: Colônia Marcelino, Campo Largo da Roseira, Contenda, Campestre da Faxina, Faxina, etc.

A Colônia Marcelino sente-se no dever moral de preservar a memória e o local onde os corpos de parentes de seus antepassados repousam. Por isso, no dia 11 de abril, terceiro dia após a Páscoa, às 13 horas, os senhores Pedro Nogas, Irineu Ivankio, Valmor Nogas e o Pe. Neomir foram até o Cemitério de Osso da Anta para iniciar uma primeira manutenção, pois fazia cerca de 20 anos que ninguém mais acessava o local. Chegando, os trabalhos precisaram ser todos manuais: o Presidente- Executivo da Paróquia Valmor Nogas e o Pe. Neomir, com foice, roçaram o mato. Os senhores Pedro Nogas e Irineu Ivankio, com enxadas, cobriram algumas valas (talvez sepulturas), abertas por vândalos, e ajudaram a capinar ao redor do cruzeiro. Como a tarde passou e o trabalho não foi concluído, outra data foi agendada para voltar e concluir a limpeza do local. No dia 20 de abril, novamente, o Pe. Neomir, o Seminarista Iwan Kerneski e os senhores Pedro Nogas e Nilton Roncoski retornaram ao cemitério e, com roçadeiras e outras ferramentas, prepararam o cemitério e a entrada para a celebração da “Voskresna Panakheda”, agendada para ser celebrada no sábado, dia 22 de abril às 14:30.

No dia 22 de abril, cerca de 30 pessoas se reuniram em frente à Matriz Santíssima Trindade de Colônia Marcelino e, guiados pelo Sr. Pedro Nogas, seguiram em caravana até o Cemitério de Osso da Anta. Antes, o Pe. Neomir instruiu os motoristas para que dirigissem devagar e com muita atenção, pois há várias curvas na estrada e locais onde ouve deslizamentos de terra que danificaram a beira da estrada, que em geral é boa.

Às 14:30, iniciou a celebração da “Voskresna Panakheda”. Primeiramente, o Pároco Neomir saudou a todos e agradeceu pela presença dos paroquianos da Colônia Marcelino e também outras pessoas de Curitiba, que se fizeram presentes; entre elas: o Pe. Joaquim Sedorowicz – Pároco da Arquicatedral São João Batista, a Catequista Maria Aparecida Pankievicz, o Diácono João Basniak, o Sr. Paulo Nogas e o Sr. Vitório Sorotiuk – Presidente da Representação Central Ucraniana no Brasil. Havia outras pessoas de Curitiba, cujos antepassados eram da região.

O Pe. Neomir proferiu um discurso sobre a história dos imigrantes sepultados nestes cemitérios e enfatizou: “como Pároco da Paróquia de Marcelino, jurei perante o Bispo e a comunidade zelar pela fé, pela liturgia, pelo bem-estar espiritual das famílias e também pelo patrimônio histórico e cultural. Por isso, enquanto for Pároco desta comunidade, vou sempre incentivar e motivar o cuidado para com este espaço sagrado. Este cemitério, apesar de ser o marco de uma tragédia, faz parte da história da imigração ucraniana no Brasil. Celebremos esta ‘Voskresna Panakheda’ com fé e concentração, suplicando ao Deus Eterno, cujos séculos são tão pequenos, que os receba na sua glória. E que todos estes falecidos sejam para nós fiéis intercessores junto a Deus pelo bem-estar e prosperidade da nossa Igreja ucraniana no Brasil, pelas nossas comunidades e famílias e também que intercedam a Deus pelo fim da guerra em sua pátria natal, a Ucrânia”.

No final da celebração, o Sr. Vitório Sorotiuk fez uso da palavra e elogiou a iniciativa da comunidade em resgatar e preservar a memória dos antepassados ucranianos. O Sr. Vitório afirmou que esta foi a única e a pior tragédia que se tem conhecimento e que dizimou quase todo o grupo de imigrantes.

Após a fala do Sr. Vitório, novamente o Pe. Neomir agradeceu a todos pela presença e, em seguida, vários registros fotográficos foram efetuados. Salientamos, que toda a celebração foi gravada e publicada nas páginas da Paróquia Santíssima Trindade de Colônia Marcelino e arquivadas no arquivo online paroquial.

Após as fotos, o povo permaneceu por alguns minutos conversando, olhando o local e, em seguida, todos retornaram para a Colônia Marcelino e Curitiba.

Fonte: PASCOM Paróquia Santíssima Trindade – Colônia Marcelino – São José dos Pinhais – Paraná