FAPCOM promove o II Congresso Católico

Nos dias 4 e 5 de novembro de 2019, nas dependências da FAPCOM – Faculdade Paulus de Comunicação, situada à Rua Major Maragliano, 191, Vila Mariana, São Paulo, aconteceu o II Congresso Católico, que tratou de um tema altamente espinhoso e dolorido no âmbito da Igreja: Construindo identidades em meio à crise: “Igreja e escândalos sexuais: a urgência de uma nova cultura formativa”.

No ano de 2017, foi realizado, na faculdade do Mosteiro de São Bento, na região central de São Paulo, o I Congresso, que foi voltado à reflexão sobre os escândalos de pedofilia. Neste ano, refletiu-se sobre a mesma temática, mas sob um ângulo diferente. Os questionamentos e perspectivas foram centralizados na formação presbiteral – inicial e continuada. Para esse encontro, foram convidados especialistas que ajudaram de forma objetiva, clara e muito franca nessas reflexões, esclarecendo a problemática e animando os participantes na solução dos problemas tratados que são considerados, na verdade, urgentes, muito urgentes.

Tendo participado desse congresso, o autor do presente artigo organizou-o, apresentando os especialistas palestrantes, os temas por eles tratados durante o congresso e uma síntese dos elementos mais importantes a serem considerados na formação presbiteral. Os temas foram apresentados na forma de conferências e mesas-redondas, sempre abertas ao debate entre os participantes.

1. CONFERENCISTAS

Seguindo a ordem alfabética, são apresentadas as especializações e atuações acadêmicas dos palestrantes do II Congresso Católico. Para a verificação dos dados e um conhecimento mais detalhado, são citados os links das informações acadêmicas relativas aos conferencistas.

1.1. Alfredo Cesar Veiga

Graduação em Filosofia, História, Teologia e Psicologia. Mestre em Estética e História da Arte pela USP (aprovado com distinção), Doutor em História Social pela FFLCH-USP (aprovado com distinção) e doutorado em andamento em Psicologia Social (PUC-SP). Membro da International Association for the Psychology of Religion, membro da Associação Brasileira de Psicologia Social (ABRAPSO) e da Sociedade Brasileira de Psicologia. Pesquisador na área da Educação e das relações entre o emocionar e a alfabetização na idade adulta.

https://www.escavador.com/sobre/7035286/alfredo-cesar-da-veiga

1.2. Ana Cristina Canosa Gonçalves

Psicóloga. Especialização em educação sexual e terapia sexual. Diretora de publicações da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana (SBRASH). Editora responsável pela Revista Brasileira de Sexualidade Humana. Coordenadora da pós-graduação em educação sexual do Centro Universitário Salesiano (UNISAL). Atua principalmente nos seguintes temas: sexualidade humana, educação sexual, sexualidade infantil, interdisciplinaridade na educação.

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1.3. André Luiz Boccato de Almeida

Pós-Doutor em Teologia pela PUC-PR (2018-2019). Doutor em Teologia Moral e Bioética (Pontifícia Universidade Lateranense – Academia Afonsiana – Roma em 2016)). Mestre em Teologia (PUC-SP em 2009). Especialização (Lato Senso) em Educação Sexual (UNISAL-SP em 2009). Bacharel em Teologia (Escola Dominicana de Teologia – afiliada à Pontifícia Universidade Santo Tomás de Aquino em 2008). Licenciado em Ciências Sociais (FAFICA-PE em 2004). Curso de Filosofia. Psicanalista (IBCP). Atualmente se interessa pelo problema da ética nas suas relações com as questões bioéticas emergentes, a psicanálise (subjetividade e objetividade da afetividade humana nas decisões morais); fundamentos de uma ética em diálogo com outros saberes humanos e a formação da consciência moral dos novos sujeitos; a relação entre a ética das virtudes e os paradigmas éticos contemporâneos; a relação entre corpo e ética na contemporaneidade. É membro da Sociedade Brasileira de Teologia Moral (SBTM) e do grupo de pesquisa Teopatodiceia (PUC-PR). Líder do grupo de estudos (grupo de pesquisas em breve) chamado PHAES (Pessoa Humana, Antropologia, Ética e Sexualidade), na PUC-SP.

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1.4. Boris Agustin Nef Ulloa

Possui Doutorado em Teologia Bíblica pela Pontifícia Universidade Gregoriana (2008); Mestrado em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção (2001); Graduação em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção (1995), Graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1989). Atualmente é Assistente Doutor no Departamento de Teologia Fundamental na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Tem experiência na área de Teologia, com ênfase em Teologia Bíblica, com atuação principalmente nos seguintes temas: Hermenêutica Bíblica, Obra Lucana (Lc-At), Escritos Paulinos e Evangelhos Sinóticos. Diretor da Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção da PUC-SP (Quadriênio 2018-2021).

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1.5. Dom Sérgio de Deus Borges

Dom Sergio de Deus Borges nasceu em Alfredo Wagner (SC) no dia 4 de setembro de 1966. Realizou os estudos filosóficos com os Freis Capuchinhos em Ponta Grossa (PR) e os estudos teológicos no Instituto Teológico Paulo VI, em Londrina (PR). É também licenciado em Pedagogia pela Universidade Luterana do Brasil e tem especialização em gestão do ambiente escolar pela mesma Universidade. Fez mestrado em Direito Canônico na Pontifícia Universidade Lateranense de Roma e tem especialização em Direito do Matrimônio e da Família pela Pontifícia Universidade Santa Cruz de Roma. É doutorando em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Católica de Buenos Aires. Foi ordenado presbítero no dia 6 de fevereiro de 1993, sendo incardinado na Diocese de Cornélio Procópio (PR), onde exerceu as funções: Pároco da Paróquia São Miguel e São Francisco (1993-1997); Membro do Conselho de Presbíteros e do Colégio de Consultores (1994-1997, 2000-2012); Assessor da Pastoral da Juventude (1992-1995); Assessor da Pastoral do Dízimo (1995-1997); Administrador Paroquial da Paróquia Nossa Senhora da Conceição (2001-2003); Assessor da Pastoral Familiar na Diocese (2000-2006); Reitor do Seminário Maior São José (2000-2011); Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Jataizinho, desde 2011. Exerceu as seguintes atividades acadêmicas: Professor de Direito Canônico do Instituto Teológico Paulo VI de Londrina (2001-2004) e Diretor do mesmo Instituto (2003-2004); Diretor do Curso de Teologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Campus de Londrina (2005-2007), e Professor da mesma Universidade, desde 2005. Professor e Coordenador do Pontifício Instituto Superior de Direito Canônico do Rio de Janeiro, em Londrina, desde 2005. Exerce o cargo de Juiz do Tribunal Eclesiástico Interdiocesano de Londrina, desde 2001; no mesmo Tribunal, foi Vigário Judicial Adjunto (2003-2006); e Vigário Judicial desde 2007. É Presidente da Sociedade Brasileira de Canonistas, desde 2011. Sua ordenação episcopal ocorreu, em 18 de agosto de 2012, em Cornélio Procópio (PR), e a tomada de posse como bispo auxiliar na Arquidiocese de São Paulo se deu na Catedral da Sé, dia 02 de setembro de 2012, e no mesmo dia foi acolhido como vigário episcopal para a Região Santana. Recentemente, Dom Sérgio tomou posse como Bispo Diocesano de Foz do Iguaçu.

http://arquisp.org.br/bispos-auxiliares-e-vigarios-episcopais/dom-sergio-de-deus-borges

1.6. Ênio Brito Pinto

Possui graduação em Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1979), especialização em Psicopedagogia pela UNIP (1994), mestrado em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2002, com o tema “Orientação Sexual na Escola e Religião: Um encontro não confessado”), é doutor em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (2007, com a tese “Gestalt-terapia de Curta Duração Para Clérigos Católicos: Elementos para a prática clínica”) e fez o pós-doc em Psicologia Clínica na PUC/SP (2012, “A Compreensão Diagnóstica em Gestalt-terapia em diálogo com o DSM-IV-TR”). Atualmente, além de ser psicoterapeuta (gestalt-terapeuta), é professor do Instituto Gestalt de São Paulo e professor convidado em diversos institutos de Gestalt-terapia no Brasil. É também membro do ITA (Instituto Terapêutico Acolher), especializado no atendimento ao clero católico e professor convidado do curso de pós-graduação Lato Sensu de Especialização para Formadores de Seminários e Casas de Formação Católicas. Tem experiência nas áreas de psicoterapia e de Ciências da Religião; atua principalmente com os seguintes temas: sexualidade; psicoterapia com base na gestalt-terapia, especialmente gestalt-terapia de curta duração; orientação sexual e psicologia da religião. Possui diversos artigos e capítulos de livros publicados nessas áreas, além de livros sobre psicoterapia de curta duração, compreensão diagnóstica, orientação sexual na escola e sexualidade adolescente publicados no Brasil e no México. Participa de grupo DIVERPSI, do CRP/SP, voltado para a compreensão da interface entre a psicologia e os saberes tradicionais.

https://www.escavador.com/sobre/2928910/enio-brito-pinto

1.7. Georgia Pinheiro de Moura Bezerra

Georgia é especialista em Formação Humana (Instituto de Aconselhamento e Terapia do Sentido de Ser, IATES, Curitiba) e Atendimento de Casais (Universidade de Guarulhos, UNG), graduada em Psicologia (UNG) e mentora do Instituto de Desenvolvimento Humano FindWay (São Paulo). Este instituto está construindo um novo site: http://www.institutofindway.com.br

1.8. Humberto Robson de Carvalho

Possui graduação em Filosofia pela Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras (1984), graduação em Pedagogia pela Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras (1983), graduação em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (1989) e mestrado em Educação pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo (2000). Educador. Padre da Paróquia N. Sra. dos Prazeres, Região Episcopal Santana, Arquidiocese de São Paulo. Participa da Comissão dos Presbíteros e atua como Coordenador da Escola de Formação Pastoral da Região Episcopal Santana. Coordenador do Curso de Espiritualidade no Centro Universitário Salesiano de São Paulo, Campus Pio XI, e Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Catequese no mesmo Campus.

https://www.escavador.com/sobre/2822197/humberto-robson-de-carvalho

1.9. Maria Inês de Castro Millen

Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1971), graduação em Teologia pela PUC-Rio (1992), mestrado em Ciência da Religião pela Universidade Federal de Juiz de Fora (1997) e doutorado em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (2003). Atualmente é ouvidora e assessora pedagógica do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora, e professora titular no curso de Teologia do Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. Tem experiência na área de Medicina, com ênfase em Ginecologia e Obstetrícia, atuando principalmente nos seguintes temas: moral fundamental, moral social, moral sexual conjugal e familiar, bioética e antropologia teológica.

https://www.escavador.com/sobre/5644217/maria-ines-de-castro-millen

1.10. Michel Dutra de Faria

Seminarista salesiano do terceiro ano de Teologia. Palestrou no encerramento do congresso como representante dos formandos.

1.11. Ronaldo Zacharias

Possui pós-doutorado em Democracia e Direitos Humanos (Universidade de Coimbra – Human Rights Centre – Ius Gentium Conimbrigae (Coimbra – Portugal), doutorado em Teologia Moral (Weston Jesuit School of Theology – Cambridge-USA), especialização em Educação Sexual (Faculdade de Medicina do ABC – Santo André-SP), mestrado em Teologia Moral (Academia Alfonsiana – Roma), graduação em Teologia (Universidade Pontifícia Salesiana – Roma), graduação em Filosofia (Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras – Lorena-SP) e graduação em Pedagogia (Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras – Lorena-SP). É Coordenador da Pós-Graduação em Educação em Sexualidade do Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL – desde 2005) e professor de Teologia Moral (desde 1992). Foi Reitor do Centro Universitário Salesiano de São Paulo – UNISAL (2012-2017), Diretor do Campus Pio XI do Centro UNISAL (de 2004 a 2010) e Coordenador do Curso de Teologia (de 1994 a 1996 e de 2004 a 2011). É membro do Conselho Editorial da Revista de Catequese (desde 2004), da Revista de Cultura Teológica (desde 2011) e da Revista de Ciências Humanas, Sociales y Educación, da Universidad Politécnica Salesiana do Equador (desde 2013). É Secretário da Sociedade Brasileira de Teologia Moral (2004-2009; 2012-2015; 2016-2018; 2018-2021); Membro do Regional Committee: Latin America Region on Moral Theology – Catholic Theological Ethics in the World Church (Boston – USA, desde 2010); Consultor para a Pastoral Universitária Salesiana (Roma/Madri 2016-2020); Membro da Comissão Internacional para a Pastoral Juvenil e Família (Roma, desde 2018). Foi Consultor da Ecumenical Advocacy Alliance sobre a Prevenção do HIV no Mundo (Johannesburg – South Africa, 2008); Membro do New Scholars Committee on Moral Theology – Catholic Theological Ethics in the World Church (Boston – USA, de 2005 a 2010); Consultor para o Repensamento da Pastoral Juvenil Salesiana (Roma – Itália 2009-2010). Tem experiência na área de Teologia, com ênfase em Teologia Moral, atuando principalmente nos seguintes temas: sexualidade, educação sexual, bioética, fundamentos da ética cristã, teologia moral.

https://www.escavador.com/sobre/8491422/ronaldo-zacharias

2. TEMAS ABORDADOS

Nesta seção, o leitor pode verificar os temas, seus expositores e também a citação da maior parte dos textos, na ordem como foram expostos, que foram antecipadamente publicados pela Editora Paulus: VEIGA, Alfredo César da e ZACHARIAS, Ronaldo (orgs). Igreja e escândalos sexuais: por uma nova cultura formativa. São Paulo: Paulus, 2019.

2.1. Escândalos sexuais: impactos na vida da IgrejaNelson Giovanelli Rosendo dos Santos – Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores – Fazenda da Esperança (conferência).

Conferir VEIGA…, pp. 9-36.

2.2. Na origem dos escândalos sexuais: sexualidade, afetividade, sensibilidade e qualidade das relaçõesAna Cristina Canosa Gonçalves (Sociedade Brasileira de Sexualidade Humana).

Ana Cristina não pôde apresentar em tempo seu texto para a publicação, mas que será publicado no segundo volume da obra “Formação: desafios morais” a ser lançado em fevereiro ou março de 2020. Este livro foi também uma referência importante no congresso:

TRASFERETTI, José Antonio – MILLEN, Maria Inês de Castro – ZACHARIAS, Ronaldo (orgs). Formação: desafios morais. São Paulo: Paulus, 2018.

– Sexualidade, celibato, continência e castidadeAndré Luiz Boccato de Almeida (PUC – São Paulo) (mesa-redonda).

Título no livro VEIGA…: “Da ferida incurável à cicatrização dolorosa: uma reflexão propositiva diante dos desafios formativos na Igreja”, conferir pp. 113-134.

2.3. Equívocos no processo formativoRonaldo Zacharias (Sociedade Brasileira de Teologia Moral) (conferência).

Conferir VEIGA…, pp. 209-252.

2.4. Formação e repressão do erosMaria Inês de Castro Millen (CES – Juiz de Fora).

Conferir VEIGA…, pp. 173-190.

– A urgência de formar o coraçãoHumberto Robson de Carvalho (UNISAL – Pio XI) (mesa-redonda).

Conferir VEIGA…, pp. 135-156.

2.5. Igreja e escândalos sexuais: o que mudou e o que precisa mudarDom Sérgio de Deus Borges (Bispo Diocesano de Foz do Iguaçu) (conferência).

Conferir VEIGA…, pp. 89-111.

2.6. A formação dos formadoresÊnio Brito Pinto (Instituto Acolher – Instituto Gestalt de São Paulo).

Conferir VEIGA…, pp. 253-274.

– O acompanhamento afetivo-sexual como parte da formação do seminaristaAlfredo Veiga (PUC – São Paulo) (mesa-redonda).

Conferir VEIGA…, pp. 157-171.

2.7. Amar como pastoresBoris Agustin Nef Ulloa (PUC – São Paulo) (conferência).

Não foi publicado no livro do VEIGA…

2.8. Com o que deveríamos sonhar – Integração entre eros e agape no processo formativoGeorgia Pinheiro de Moura Bezerra (Instituto de Desenvolvimento Humano – Guarulhos).

Conferir VEIGA…, pp. 191-208.

– A urgência de itinerários de formação à castidadeMichel Dutra de Faria (UNISAL – Pio XI) (mesa-redonda).

Não foi publicado no livro do VEIGA…

3. ALGUNS ELEMENTOS FORMATIVOS

No esforço em destacar ao menos alguns pontos da rica explanação temática do congresso, apresento algumas ideias que percorrem a via da percepção da realidade, alguma luz a iluminá-la e alguma pista de ação: 1 – Formação – tantas pedras no caminho; 2 – Formação – Cristo, o caminho; 3 – Formação – o caminho a percorrer juntos.

3.1. Formação – tantas pedras no caminho  

 O contexto atual vivenciado pela Igreja é de uma crise profunda, de incertezas e contradições, marcada por graves erros formativos do passado e do presente que trouxeram consequências nefastas para a vivência cristã e eclesial: ocultamento e acobertamento de problemas afetivo-sexuais e também dos escândalos sexuais; incapacidade, incompetência e medo de afrontar os problemas diretamente; amadorismo e improvisação no enfrentamento desses problemas; priorização exclusiva da dimensão intelectual, cultural e disciplinar no processo formativo; dualismo teórico-cognitivo e prático, fragmentação, separação radical entre alma e corpo; Teologia Moral e moralidade-espiritualidade exageradamente voltada aos pecados e, entre esses, aos pecados sexuais; certa persistência do preconceito diante da Psicologia e Psiquiatria; alienação – fuga da realidade – vida seminarística separada do drama humano e social; ignorância do passado familiar e comunitário dos candidatos; machismo – visão negativa da feminilidade e a consequente desvalorização da mulher; visão negativa da sexualidade; falta de integração da sexualidade na personalidade; ausência de acompanhamento psicoafetivo dos formandos; formadores despreparados; ausência de equipes formadoras nos seminários e casas de formação das ordens e congregações; mediocridade na vivência cristã em geral; admissão de candidatos que jamais deveriam ter sido ordenados ou professado os votos perpétuos; conformismo com a realidade moral-espiritual medíocre; clericalismo – centralismo clerical – autoritarismo, poder erradamente exercido; tolerância diante dos abusadores.

Em resumo, falando em geral, o processo formativo, a formação seminarística e das casas de formação dos religiosos fracassaram e produziram muitos presbíteros e pessoas consagradas imaturas, que, por sua vez, acabaram cometendo diversos abusos. Para ilustrar um pouco essa pesada constatação, cito uma passagem de Karlijn Demasure, Doutora em Teologia (Bélgica) e Professora e Diretora Executiva do Centro de Proteção Infantil da Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma). Suas afirmações partem de algumas pesquisas, como os de E. Kennedy e do John Jay Institute.

“A falta de maturidade tem sido apontada como uma razão importante para o problema dos abusos. … Um bom processo formativo no seminário pode levar a uma maior maturidade; no entanto, tais programas formativos são acusados de prover educação inadequada. Os seminários têm sido vistos como lugares que não provêm espaço para discutir os reais desafios do sacerdócio. A educação no seminário está mais preocupada com a formação espiritual e intelectual, deixando de lado a formação psicológica, emocional e sexual. A ausência de formação humana no seminário não permite ao candidato ao sacerdócio crescer emocionalmente. … Sacerdotes que não tiveram formação humana durante sua educação no seminário estavam mais envolvidos em comportamentos abusivos do que aqueles que tiveram formação nessa área” (DEMASURE, Karlijn. Abuso sexual na Igreja Católica: compreendendo as dinâmicas. In: VEIGA… pp. 55-56).

3.2. Formação – Cristo, o caminho

Em termos de fundamentação teológica e de princípios, a formação presbiteral falhou e falhará sempre se for apagada ou ofuscada a luz da verdadeira Luz – Cristo crucificado e glorificado – o Caminho, a Verdade e a Vida. Ser cristão autêntico e ser presbítero ou pessoa consagrada é ser filho no e pelo Filho, discípulo fiel, ingressando num caminho – processo permanente de conformação, configuração ao ser de Jesus Cristo, em quem a divindade e a humanidade se integraram de forma absolutamente perfeita e harmoniosa, constituindo o paradigma – modelo ideal de pessoa humana divinizada.

“Nesse discipulado de Jesus, vamos, ao longo da vida, descobrindo e amadurecendo convicções: o Reino de Deus, do qual somos anunciadores, não é uma ideia, mas a atuação de Deus na vida pessoal e social de cada um, que liberta o coração do pecado e torna a sociedade mais justa e fraterna, conforme os desígnios divinos; seguir Jesus, como cristãos e sacerdotes ou consagrados que somos, é percorrer um caminho de obediência ao Pai, como Ele fez; Jesus, por sua prática de vida, mostrou que é só no relacionamento fraterno – que leva à entrega de si e ao compromisso com o irmãos – que a pessoa encontra seu caminho, sua verdade, e realiza sua vocação” (GALHARDO, Antonio Carlos. Jesus, caminho que educa. In: VEIGA…, p. 318).

3.3. Formação – o caminho a percorrer juntos

Remover tantas pedras do caminho, que dificultam o autêntico discipulado, no seguimento fiel de Cristo, não é uma tarefa fácil e rápida, de resultados imediatos. Por tantos motivos, trata-se de um assunto muito espinhoso e indigesto, porém urgente e desafiador a ser encarado por todos que buscam a verdade, o bem e o belo na perfeição e santidade cristã, dentro da Igreja, que constitui a comunidade dos discípulos de Cristo, movidos pelo Espírito Santo.

Os Papas Bento XVI e Francisco romperam o “código do silêncio” diante da gravíssima problemática dos escândalos para que a própria Igreja, em missão profética de denúncia dessas pedras que feriram e ferem, dos cuidados pastorais aos feridos e para prevenir novos ferimentos, em humildade e transparência, pedindo perdão, punindo mas também curando, inclusive os agressores, iniciasse urgentemente um caminho para edificar uma nova cultura formativa. “Por isso, urge abordar o assunto durante todo o processo formativo – tanto inicial quanto permanente –, para que o discernimento diário da vontade de Deus leve à progressiva conformação com os sentimentos e as ações de Jesus Cristo e à sincera e confiante abertura à ação do Espírito” (Dom José Negri. Apresentação. In: VEIGA…, p. 5; Bispo Diocesano de Santo Amaro, Doutor em Psicologia, Membro do PIME – Pontifício Instituto das Missões Exteriores, Presidente da Comissão para a Proteção dos Menores, responsável por assessorar a CNBB sobre o assunto).

O processo formativo, portanto, deverá acontecer durante toda a vida: da concepção e gestação até o último suspiro; não de forma dualista, binária e fragmentada, mas de forma integral, holística; não de forma assexuada, mas integrando a sexualidade ao ser presbiteral; não de forma individual narcísica, mas pessoal, familiar, comunitária, eclesial e social; pensando na humanidade redimida pelo amor de Deus em Cristo, pela energia do Espírito.

O II Congresso Católico insistiu fortemente que, no momento eclesial atual, dever-se-á envidar com urgência todos os esforços, e de forma comunitária, no sentido de promover a formação humana dos nossos seminaristas e presbíteros. O padre salesiano Humberto Robson de Carvalho, organizador do congresso, falou sobre “A urgência de formar o coração”. Finalizo com o pensamento do Papa Francisco, exposta nesse artigo.

Em seu discurso por ocasião dos cinquenta anos dos decretos conciliares Optatam totius e Presbyterorum ordinis, o Papa salientou que a formação humana, intelectual e espiritual está diretamente relacionada com a formação pastoral: quando essas dimensões estão em sintonia, o presbítero realiza de maneira exemplar o seu ministério em favor do povo de Deus. Ele comentou que o padre foi chamado do meio do povo, dentro de um contexto familiar, e que a família é o lugar primeiro e essencial de formação humana. Afirmou que “um bom padre é, antes de tudo, um homem dotado da própria humanidade, que conhece a sua história, com suas riquezas e feridas, e que aprendeu a fazer as pazes com ela, alcançando a serenidade de fundo, própria do discípulo do Senhor” (In: VEIGA…, pp. 149-150).

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As palestras do II Congresso Católico, mesmo não podendo abordar exaustivamente os temas tratados, devido ao tempo restrito, à sua vastidão e complexidade, as palestras foram muito provocadoras, esclarecedoras e estimuladoras. Ainda bem que a maior parte foi publicada em livro disponível aos participantes. Palestrantes altamente competentes! Ouviu-se a reclamação de que muitos que precisariam ouvir o que foi dito não estavam presentes, o que é muito preocupante, significando que as mudanças necessárias, na verdade, urgentes, serão muito mais demoradas e até postergadas, ou, até mesmo, ignoradas. Mas é sabido que a mudança de mentalidade é uma tarefa realmente lenta, árdua. Afinal, a conversão profunda é mesmo longa – de toda uma vida. Admirável o profetismo do Papa Francisco! Atitude de santo. Em obediência à Igreja por ele dirigida, como representante de Cristo na terra, é preciso agir com muito mais vigor para o bem da própria Igreja e do povo de Deus.

Dom Volodemer Koubetch