Dona Gertrudes Maxemovicz Prestavski foi uma pessoa muito importante na Comunidade Ucraniana de São José dos Pinhais, sendo considerada a matriarca fundadora e uma das principais lideranças durante várias décadas.
Gertrudes nasceu em 07 de março de 1942 em Iracema (Iraputã), Itaiópolis, Santa Catarina. Filha de Rosa e Soter Maxemovicz. Casou-se com Nicolau Prestavski aos 12 de abril de 1964 na Paróquia Sagrada Família de Iracema. O matrimônio foi celebrado e abençoado pelo Revmo. Pe. Demétrio Zap, OSBM. O casal teve quatro filhos: Maria, Lídia, Soter e Lauro. Hoje, fazem parte da família o genro Sérgio e as noras: Silvana e Valdirene e seis netos: Rodrigo, Marcelo, Guilherme, Gustavo, Rafael e Alessandra.
Dona Gertrudes faleceu no dia 06 de janeiro de 2020. No dia seguinte, às 14 horas, foi celebrada a Divina Liturgia de corpo presente e a “Panakheda” na Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em São José dos Pinhais, presidida pelo Revmo. Pe. Edson Ternoski que atende a comunidade e que acompanhou Dona Gertrudes durante todos os anos de sua grave enfermidade. A Divina Liturgia foi concelebrada pelo Revmo. Pe. Soter Schiller, OSBM, amigo da família, e pelo Revmo. Pe. Kristoforus Muit, Pároco da Paróquia latina São Cristóvão. Também estiveram presentes as irmãs basilianas que trabalham na comunidade e algumas irmãs Servas de Maria Imaculada, amigas da família, e várias pessoas da comunidade, familiares e amigos. Seu corpo foi sepultado no cemitério Pe. Pedro Fus.
No dia 12 de janeiro, foi celebrada a Divina Liturgia de 7º dia, presidida pelo Pe. Edson Ternoski e concelebrada pelo Pe. Neomir Doopiat Gasperin, que no tempo em que era seminarista e atendia o grupo de jovens de São José dos Pinhais, sempre foi bem acolhido pela Dona Gertrudes, como sempre fazia com todos os seminaristas e religiosos. Antes de iniciar a Divina Liturgia, a Sra. Maria Busko fez a leitura de um breve histórico redigido pela mesma em homenagem à sua amiga e companheira de trabalho, Gertrudes Prestavski.
No histórico, Maria Busko sintetizou e ressaltou a participação de Dona Gertrudes como uma das fundadoras principais da Comunidade Ucraniana de São José dos Pinhais. Ela iniciou seu depoimento com as seguintes informações: “Venho, neste momento que antecede a Divina Liturgia de 7º dia em sufrágio da alma de Dona Gertrudes Prestavski, relembrar e dar a conhecer a todos quem foi esta senhora, esposa, mãe, avó, líder por natureza e bênção divina, e o que fez por esta comunidade. Foi, sem dúvida, uma mulher batalhadora, destemida, corajosa, caridosa, sábia e amiga em sua maneira simples e alegre de ser. Nossa amizade começou nos idos anos de 1972 em diante e cada vez mais fomos nos unindo e criando laços fortes”.
Os descendentes de ucranianos católicos sentiam falta de celebrações no seu Rito em São José dos Pinhais; e para conservar a sua origem com suas tradições, deslocavam-se para as celebrações dominicais nas igrejas Nossa Senhora Auxiliadora no Martim Afonso, São João Batista no Água Verde, hoje Arquicatedral, e São Josafat no Boqueirão. Na época, a locomoção era precária, nem todos possuíam carro e assim nem todos podiam ir. Aos poucos, foram descobrindo e buscando contatos com várias famílias ucranianas da região de São José dos Pinhais.
Diante disso, Dona Gertrudes começou a alimentar o desejo de construir uma igreja ucraniana na comunidade. Mas como começar? E pensando, planejando, tomou uma decisão: abriu as portas de sua própria casa e fez convites. Numa pequena sala, o Pe. Floro Vodonis, um grande incentivador para iniciar a formação da Comunidade em São José dos Pinhais, vinha de Curitiba para celebrar a Divina Liturgia. A comunidade já havia recebido a visita do Pe. Sergio Hrynievicz.
Os ucranianos começaram a aparecer e se agregar na casa de Dona Gertrudes e Nicolau Prestavski, de modo que o espaço foi ficando pequeno. Dona Gertrudes dirigiu-se então ao Revmo. Pe. Pedro Fus da Paróquia São Cristóvão, explicou-lhe a situação e pediu ajuda. O sacerdote ouviu sua explanação e permitiu que os ucranianos utilizassem a igreja latina no domingo à tarde. Nesta igreja, as celebrações no rito ucraniano aconteceram por um bom tempo.
“Dona Gertrudes, persistente que era, dizia: ‘Ми маємо мати нашу церкву! Nós temos que ter a nossa Igreja! Vamos Maria! Будемо робили, просили і то має бути! – Vamos trabalhar, pedir e isso tem que acontecer! E lá íamos como pedintes“, relatou Maria Busko em seu depoimento. Várias reuniões foram realizadas com o Bispo Dom Efraim, sacerdotes, religiosas e famílias que se reuniam na casa da Família Prestavski.
Finalmente, foi comprado o terreno, e satisfazendo o grande desejo de Dona Gertrudes: perto da sua casa, porque ela é quem iria cuidar. Quanta alegria!
Era também seu desejo ter uma casa de religiosas, mas não deu certo seu projeto. Tudo começou pequeno, porém com a participação dos fiéis ucranianos e também latinos, os resultados foram aparecendo: aos poucos começou a surgir uma capela dedicada à Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. De acordo com as filhas de Dona Gertrudes, foi sua mãe que sugeriu o nome da Padroeira, porque não havia ainda igrejas na região com este título.
Para ornamentar os altares, flores nunca faltaram, porque Dona Gertrudes tinha sempre belos jardins com rosas, camélias, margaridas, lírios… Ela plantava especialmente para embelezar a casa de Deus. A casa da Família Prestavski era também a casa dos religiosos: Bispos, sacerdotes, religiosas e seminaristas. Com muita alegria, sempre havia almoços e confraternizações para as visitas. Amava recebê-los! Constantemente, recebia irmãs da Colônia Marcelino, Iracema e Curitiba.
Na época de festas, todos os preparativos eram realizados na casa de Dona Gertrudes: pães, bolos, doces, salgados, etc. O forno a lenha funcionava mesmo! E era brincando, cantando e trabalhando que tudo saía! Em momentos de catequese, missões, as irmãs e sacerdotes ficavam hospedados em sua casa durante uma e até duas semanas. O Pe. Gregório Hunka, OSBM foi um dos últimos missionários a pernoitar em sua residência. As Irmãs Eugênia, Damiana e muitas outras também pernoitaram em sua casa.
Dona Gertrudes queria muito que em São José dos Pinhais tivesse o Movimento do Apostolado da Oração, fato que se concretizou. Ela fundou o grupo do Apostolado da Oração e por longos anos assumiu a presidência. Enquanto podia, trabalhou incansavelmente nesta comunidade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. “Saudades sentiremos sempre!”, exclamou a amiga Maria.
Como voluntária, Gertrudes trabalhou nas festas da Paróquia latina São Cristóvão, na nossa comunidade ucraniana da Colônia Marcelino, onde ficava por 3 a 4 dias. Na Comunidade de Iracema, chegou a trabalhar várias vezes por até 15 dias como voluntária nos preparativos das Romarias e Vias-sacras. Também ajudou na Colônia Papanduva da Serra, na capela Nossa Senhora das Dores.
Seus últimos anos de vida não foram fáceis. Durante três anos e nove meses sofreu com o Mal de Alzheimer, que a foi debilitando severamente a ponto de fazê-la perder totalmente a memória, não reconhecendo até mesmo seus familiares mais próximos.
Faleceu no dia 06 de janeiro – Festa da Epifania – “Iórdan”, dia do Batismo de Jesus no Rio Jordão. Seguiu para junto dos eleitos no Reino dos Céus. Deixou viúvo o Sr. Nicolau Prestavski, com o qual viveu 55 anos de vida matrimonial. Mulher de muita fé, vida de oração, doação, amor e generosidade. Conquistou inúmeras amizades e deixou belos exemplos de virtudes, ações, bravura e esperança. “Obrigada meu Deus, pela vida da Dona Gertrudes entre nós”, com essas palavras foi encerrado o depoimento.
Em nome da Família Prestavski, Dona Maria Busko transmitiu os agradecimentos, especialmente a Maria Bileski que se dedicou tanto a Dona Gertrudes como se fosse sua própria mãe. A sobrinha de Dona Maria, Rita Busko, também leu um agradecimento em nome da família para Maria Bileski.
Vale lembrar que Dona Gertrudes, no final de sua vida, teve uma fase em que falava somente o idioma ucraniano; por isso, Maria Bileski foi convidada a trabalhar, justamente para poder entender e atender Dona Gertrudes em suas necessidades e também auxiliar a filha de Dona Gertrudes: Maria Prestavski, que sempre esteve ao lado da mãe. A Maria, ou melhor Marecha, como é conhecida e era chamada pela mãe, os irmãos dedicaram um sincero agradecimento: “Um agradecimento especial para você Maria Prestavski (Marecha como a mãe sempre a chamava) dos irmãos: Lauro, Soter e Lídia, pelos anos de dedicação, amor, paciência, carinho, bondade, doçura e muito zelo nos cuidados da nossa mãe Gertrudes. Muito obrigado por tudo que você fez por ela. Que Deus a abençoe! Maria: nós amamos você!”
Dona Maria Busko, também em nome da família, dirigiu um agradecimento especial ao Pe. Edson Ternoski pelas visitas semanais, comunhões e assistência prestada. Ao grupo dos “koliadneke” pelas canções e visita. Mesmo sem falar, Dona Maria testemunhou que era visível no semblante de Dona Gertrudes a alegria em ouvir as canções natalinas que tanto amava. Também dirigiu agradecimentos à equipe médica, ao Roberto – fisioterapeuta, aos voluntários da Fábrica Sóter Móveis, que muito ajudaram os movimentos de Dona Gertrudes. Dona Maria Busko terminou a leitura e homenagem agradecendo a todos os amigos e familiares de Dona Gertrudes pelo apoio e presença durante a enfermidade, velório e sepultamento do seu corpo.
Durante a homilia, o Pe. Edson Ternoski comentou os textos do Evangelho de Mateus 4,12-17 sobre o início da pregação de Jesus e de Efésios 4,7-13, ressaltando a importância dos vários dons e carismas para o enriquecimento do Corpo Místico de Cristo, que foi enriquecido pelas virtudes e dons de Dona Gertrudes. Generosamente, seus dons e virtudes foram colocados a serviço da edificação da Comunidade Ucraniana de São José dos Pinhais e demais comunidades às quais ela auxiliou. O Pe. Edson concluiu a homilia destacando que, assim como Deus se manifestou no Jordão revelando seu filho amado, com certeza também se manifestou para Dona Gertrudes recebendo-a no Reino dos Céu como uma filha muito amada.
Após a Divina Liturgia, a atual Presidente-executiva da Comissão Administrativa Sra. Odete Gugik, em nome da Comunidade Ucraniana de São José dos Pinhais, agradeceu à Família Prestavski por compartilhar o dom da vida de Dona Gertrudes com toda a comunidade. O menino Mateus Orzechovski entoou a “koliada” “Nebo i zémlia” como homenagem da comunidade, lembrando as sementes de um sonho que foram plantadas no passado e que floresce no presente com a atuação das crianças e de toda a comunidade que se empenha para ser melhor a cada dia.
Que Deus conceda à Dona Gertrudes a felicidade eterna e que sua memória permaneça para sempre no meio de nós.
Pe. Neomir Doopiat Gasperin e Maria Busko