Falece João Burko

Vítima de um linfoma descoberto em 2018, sendo internado na Santa Casa de Prudentópolis no dia 25 de fevereiro de 2025 à tarde, o Sr. João Burko veio a falecer na madrugada do dia 27. Durante todo esse dia e a noite seu corpo foi velado na capela mortuária da Paróquia São Josafat.

No dia seguinte, às 08h30min, foi celebrada a Divina Liturgia de corpo presente na igreja São Josafat. A celebração foi presidida pelo Arcebispo Metropolita Dom Volodemer Koubetch e concelebrada pelo Bispo Eparca Dom Meron Mazur, Pe. Vassilio Burko Neto, que é filho do falecido, e pelos seguintes sacerdotes: Dionísio Horbus, OSBM – Pároco da Paróquia São Josafat, Pe. Claudio Melnicki – Pároco-reitor da Catedral de Prudentópolis, Pe. Michael Barbusa – Pároco de Dorizon, Pe. Walmor Szeremeta, OSBM, Pe. Bonifácio Zaluski, OSBM, Pe. Jaime Valus, OSBM – Vigários Paroquiais da Paróquia São Josafat.

Em sua homilia, Dom Volodemer destacou a transformação ocorrida na vida do falecido João a partir de sua fé e participação na Eucaristia. Jesus disse: “Eu sou o pão da vida” (Jo 6,48); “Este pão é o que desce do céu” (Jo 6,50); “Quem comer deste pão viverá para sempre” (Jo 6,51). É o pão da Eucaristia, pão que alimenta o espírito, a alma, pão que dá vida, pão que salva, pão que transforma. São Paulo, em sua Carta aos Coríntios, fala sobre a transformação espiritual definitiva, eterna. O primeiro homem, desta terra, é transformado em segundo homem, que vem do céu e que vai para o céu (1Cor 15,47). O ser humano corruptível se transforma num ser incorruptível. Por isso, o Apóstolo diz “que nem todos morreremos, mas todos seremos transformados” (1Cor 15,51).

Assim, vivendo sua vida na fé, João Burko batalhou para transformar sua vida, a vida de sua família e a vida dos outros conforme a vontade de Deus. E a vontade de Deus decretou o fim de sua missão aqui na terra. Agora, transformado num ser espiritualizado, parte para a vida eterna.

Prosseguindo a homilia, Dom Volodemer narrou as passagens principais da rica biografia e testemunho de vida humana e cristã do falecido João Burko. Neste momento difícil, a família se reuniu não somente para orar e se despedir de seu amado esposo, pai, irmão, sogro, tio, avô, bisavô, mas também para refletir, registrar e assimilar seu testemunho de vida, lembrando principalmente o passado de luta pela vida e sua amorosa dedicação à família e à comunidade. Emocionados e muito agradecidos, elaboraram um testemunho por escrito, que foi concluído com a seguinte mensagem: “Hoje, sentimos a dor da saudade, mas também a gratidão por termos compartilhado momentos preciosos ao seu lado. João nos deixa um legado de amor, integridade e devoção, que seguirá iluminando nossos caminhos. Que Deus o acolha em Sua paz eterna, e que sua memória continue viva em nossos corações. Descanse em paz, João Burko”. Para concluir sua homilia, o Metropolita fez suas as palavras dessa mensagem de despedida e gratidão.

Rezada a Panakhyda e a oração de despedida, em procissão, o corpo foi levado num carro da Funerário São Josafat até o Cemitério São Josafat, onde foi sepultado no jazigo da família.

Вічна йому пам’ять!

Biografia

João Burko faz parte de uma família ucraniana tradicional, que contribuiu para a preservação da cultura ucraniana e fortalecimento da Igreja Católica Ucraniana. O pai de João, Vassílio Burko, casou-se com Sophia Bardal Burko. Vassílio foi um homem batalhador, que defendeu os valores religiosos e culturais do povo ucraniano, que se instalou em terras brasileiras, principalmente no sul do país. Na época das primeiras décadas da imigração ucraniana, todo o Paraná era uma vasta terra selvagem que os ucranianos souberam desbravar e torná-la fértil graças ao seu trabalho árduo.

Com a ajuda do falecido Pe. Basílio Zinko, OSBM, Vassílio relatou num livro o quotidiano de imigrantes ucranianos e seus descendentes no Brasil, focalizando a história de superação de sua própria família. Seu livro, intitulado “História de Vassílio”, foi traduzido para o português pelo neto Doroteu, filho de João, sob o patrocínio da Secretaria da Cultura do Estado do Paraná, contribuindo assim para a preservação da cultura ucraniana. Especialmente, o livro é um testemunho autobiográfico e familiar, que relata a religiosidade e a fé cristã e católica da família, na fidelidade à Igreja Católica Ucraniana.

Na apresentação do livro, o neto Doroteu, diz que Vassílio foi um homem que “soube amar a sua terra e a sua gente” (História de Vassílio, 5). Sobretudo, ele soube amar a Deus e a Igreja e soube passar essa espiritualidade aos filhos e netos.

O testemunho dos netos sobre a pessoa do avô Vassílio é muito significativa: “Quanto a nós, netos, o que mais lembramos é que ele sempre cuidava muito bem de nós desde pequenos. Lembramos muito da bodega e que o ‘dido’ sempre comprava salgadinhos e doces para nós. Era um homem muito sereno, de bom coração, uma pessoa tranquila, cuidadoso e se importava de maneira especial com cada pessoa da família. Um grande exemplo também é o cuidado com as coisas de Deus: o ‘dido’ era uma pessoa de muita oração; mesmo no final da sua vida, quando estava mais debilitado, não deixou de participar das celebrações da Divina Liturgia. Em casa, sempre com seu terço, sempre rezando, era um homem de muita fé”.

O filho de Vassílio, João, nasceu na Linha Matão, no dia 17 de março de 1944, sendo o mais novo de 10 irmãos. A chegada de João ao mundo está narrada pelo pai Vassílio: “Os anos passaram e Deus nos presenteou com mais um filho, ao qual demos o nome de João. Quanto mais trabalhávamos, mas rápido passavam os anos. Deus nos deu dez filhos, seis rapazes e quatro moças. Cresceram bonitos. Uns casaram cedo, outros preferiram dedicar-se aos estudos antes. Levávamos para os colégios em Prudentópolis, pois lá somente poderiam ter a oportunidade de aperfeiçoar seus estudos” (História de Vassílio, 163).

Quando o filho Nicolau decidiu ir estudar e ser padre, Vassilio lhe disse: “Vá, estude bem filho, escute seus superiores e professores. Se Deus quiser, um dia você se tornará um zeloso sacerdote Basiliano e servirá à Santa e Madre Igreja” (História de Vassílio, 159). Nicolau se tornou padre basiliano com o nome religioso de Valdomiro – Volodemer. Ele escreveu um livro “Imigração ucraniana no Brasil”, que é a sua tese de especialização jornalística, defendida na Universidade Internacional de Estudos Sociais “Pro Deo” em Roma, publicado em 1963.

João foi casado por 57 anos com Teófila Muzeka Burko, sua companheira de vida, com quem construiu uma família baseada no amor, na dedicação e na fé́. Juntos, compartilharam momentos de alegria, desafios e uma caminhada de união, sempre guiados pelos ensinamentos de Deus. Seu casamento foi um exemplo de cumplicidade e respeito, um verdadeiro testemunho de amor duradouro.

Tiveram seis filhos: Vassilio Burko Neto, que é padre do Clero diocesano da Metropolia, Maria Goretti, Doroteu (em memória), Marta, Andreia e Irene, 5 netos e 1 bisneta.

Encontrou seu lar e construiu sua história na comunidade de Tijuco Preto, onde foi uma presença marcante e querida por todos.

Desde jovem, João teve uma trajetória de trabalho e dedicação. Serviu no Exército Brasileiro em Foz do Iguaçu, onde aprendeu disciplina, responsabilidade e o valor do serviço à pátria. Mais tarde, trabalhou na Tipografia dos Padres Basilianos em Prudentópolis, contribuindo com sua habilidade e dedicação para o trabalho gráfico da comunidade religiosa (História de Vassílio, 165).

Após essa fase, dedicou-se ao trabalho árduo na roça. Enfrentou o sol forte, a chuva e as dificuldades do trabalho pesado com coragem e determinação. Sua força vinha não apenas de seus braços e mãos calejadas pelo esforço diário, mas também de sua fé inabalável, que o sustentava em todos os momentos. Foi um homem batalhador, que nunca mediu esforços para garantir o sustento da família e proporcionar uma vida digna a todos ao seu redor.

Além de trabalhar na terra, João também empreendeu e teve sua própria bodega, onde atendeu a comunidade com carinho e dedicação. O comércio foi mais do que um meio de sustento: tornou-se um ponto de encontro para vizinhos e amigos, um local onde ele podia compartilhar histórias, oferecer um café e sempre ter uma palavra amiga para quem passava por ali.

João foi um pai presente e generoso, que sempre ajudou seus filhos em tudo que pôde. Ele acreditava na importância de educar pelo exemplo, transmitindo valores como honestidade, respeito e perseverança. Com seu coração bondoso e sua experiência de vida, estava sempre disposto a aconselhar, apoiar e fazer tudo o que estivesse ao seu alcance para o bem-estar de sua família. Seu amor pelos filhos era incondicional e se manifestava em cada gesto de cuidado e proteção.

Sua ligação com a Igreja também foi profunda. João teve a honra de ser presidente-coordenador do Conselho Administrativo Paroquial da igreja de Tijuco Preto, onde contribuiu ativamente para a organização e fortalecimento da vida espiritual da comunidade. Com seu trabalho dedicado e sua fé inabalável, foi um líder exemplar, sempre guiando sua comunidade com humildade e zelo. Sua liderança foi fundamental para manter a chama da fé́ acesa e para que a Igreja fosse um lugar de acolhimento e amor para todos.

A fé́ sempre teve um papel central em sua vida. Ele gostava muito de participar da Divina Liturgia e encontrava na oração e na comunhão com Deus a força para enfrentar os desafios do dia a dia. Como membro ativo do Apostolado da Oração, foi grande devoto do Sagrado Coração de Jesus e participava ardorosamente das novenas.

Precisa destacar que a família de João é uma família vocacionada, tendo em seu seio um irmão padre – Valdomiro Nicolau Burko e um filho padre – Vassilio Burko Neto. João cultivava assiduamente a vivência sacramental. Mudando-se de Tijuco Preto para a cidade de Prudentópolis a fim de cuidar melhor da saúde, sempre esteve presente nas celebrações da Divina Liturgia aqui na igreja São Josafat. O Pároco Dionísio Horbus, OSBM o definiu como um “bom católico, pessoa acolhedora, amigável, que respeitava e valorizava muito os padres”. Seu pai Vassílio dizia: “Nós nos sentimos muito orgulhosos por termos filhos servindo a Deus” (História de Vassílio, 165).

João vinha lutando contra um linfoma desde 2018. Foi uma luta árdua. Mas ele a encarou com coragem. A doença, muito grave, não o abalou. Ele não ficava triste. Não perdeu a fé. E quando a medicina não lhe deu mais esperança, não tendo mais o que fazer, ele continuou firme na fé e aceitou humildemente a vontade de Deus. Sendo internado na Santa Casa de Prudentópolis no dia 25 à tarde, na madrugada do dia 27, João encerrou sua batalha nesta terra, sendo chamado para outra vida, onde não há mais dor nem sofrimento, mas a vida da alegria e felicidade eterna.

Secretariado Metropolitano