Dom George Khoury Eparca Melquita

A Eparquia Nossa Senhora do Paraíso dos Greco-Católicos Melquitas no Brasil, com sede em São Paulo, recebeu oficialmente seu novo Bispo Eparca na pessoa de Dom George Khoury em cerimônia celebrada na respectiva catedral, domingo, dia 22 de setembro de 2019. A seguir, são apresentadas as informações centrais sobre a história da Igreja Católica Melquita em geral e aqui no Brasil, a nomeação de Dom George, sua biografia, ordenação episcopal e entronização-posse.

Igreja Católica Melquita sui iuris

A Igreja Católica Greco-Melquita é uma das 24 igrejas autônomas que constituem a Igreja Católica no mundo, em plena comunhão com o Romano Pontífice, o Papa. A maior e mais conhecida delas é a ocidental, a Igreja Católica Apostólica Romana, também chamada de Igreja Latina, de rito romano. As demais têm sua origem no Oriente Médio e seguem os diversos ritos orientais.

Todas as 24 igrejas são sui iuris, isto é, autônomas para legislar a respeito de seu rito e da sua disciplina, com exceção às matérias dogmáticas, que são universais e comuns a todas e garantem a unidade de fé, formando uma única Igreja Católica sob o pastoreio do Santo Padre, que a todas preside na caridade. Internamente, as Igrejas orientais são governadas por um patriarca ou arcebispo-maior e por seu sínodo, que o elege e submete seu nome à aprovação do Papa.

Criada em Antioquia, a Igreja Greco-Melquita é a mais antiga Igreja enquanto instituição no mundo e é a única entre as orientais que não é uma Igreja nacional, pois seu patriarcado envolve três sés apostólicas: Antioquia, Jerusalém e Alexandria.

O nome “melquita” vem de mèlek, que é a raiz siríaca para palavras como “rei”, “real” e “reino”. Isso se deve ao fato de todos aqueles que ficaram ao lado do imperador bizantino Marciano no Concílio de Calcedônia, no ano 451, defendendo a fé nas duas naturezas de Cristo, terem sido apelidados de “reais” pelos monofisistas, aqueles que não aceitaram esse dogma. O termo “greco” é atribuído ao idioma oficial do Império Romano, falado pela maioria dos cristãos. Isso também influenciou o rito adotado pelos melquitas, conhecido como bizantino, cuja Divina Liturgia foi escrita por São João Crisóstomo e São Basílio de Cesareia. Atualmente, o idioma oficial da liturgia do melquitas é o árabe, mas também há orações em grego e no idioma do país onde se celebra a liturgia, no caso do Brasil, o português.

A princípio, o título do Patriarca Melquita Católico compreendia apenas a região de Antioquia. As sedes de Alexandria e Jerusalém foram agregadas em 1838 ao título do Patriarca Máximo III Mazloum pelo Papa Gregório XVI, como título pessoal, mas a partir daí os sucessores de Máximo III passaram a adotar as três sedes.

Em 1724, após a morte do Patriarca de Antioquia Atanásio III Dabbas, foi eleito o Patriarca Cirilo Tanás, que era favorável à comunhão com Roma. Em oposição a essa eleição, o Patriarca de Constantinopla Jeremias III nomeou um patriarca com posicionamento contrário à comunhão, Silvestre de Chipre, o que originou duas linhas de sucessão patriarcal: a católica e a ortodoxa. Cinco anos mais tarde, o Papa de Roma anunciou que o patriarca legítimo era Cirilo Tanás e recebeu os melquitas na comunhão da Igreja Católica. Esse movimento de união dos Melquitas com à Sé de Pedro foi bastante motivado pela presença dos missionários católicos europeus na região, como os jesuítas, franciscanos, capuchinhos e carmelitas.

O atual mandatário é Youssef I Absi, eleito no dia 21 de junho de 2017, Patriarca Greco-Melquita de Antioquia e de todo Oriente, Alexandria e Jerusalém desde 21 de junho de 2017, quando foi eleito pelo santo sínodo dos bispos melquitas. (cf. O São Paulo / Wikipedia)

Eparquia Melquita Brasileira

Os primeiros cristãos greco-melquitas imigraram para o Brasil entre os anos de 1869 e 1890, e foram genericamente chamados de “turcos”, pelo fato de seus passaportes terem sido fornecidos pelo Império Otomano. Com o crescimento dos imigrantes, a Igreja Católica Greco-Melquita começou a se preocupar com os seus fiéis na diáspora e, em 1939, enviou ao Rio de Janeiro seu o primeiro Pároco, o Arquimandrita (equivalente a Monsenhor) sírio Elias Couéter, que, durante muitos anos, foi o único sacerdote melquita no País.

Em 1946, Dom Jaime de Barros Câmara, então Arcebispo do Rio de Janeiro, erigiu a primeira Paróquia Greco-Melquita do Brasil, dedicada a São Basílio. Depois de o Patriarca Maximos IV insistir junto à Santa Sé para que existisse uma disciplina eclesiástica adequada para a sua Igreja na diáspora, em 1951, o Papa Pio XII instituiu um Ordinariado para os fiéis católicos de ritos orientais no Brasil, tendo como Ordinário Dom Jaime Câmara, que nomeou o Arquimandrita Elias Couéter como Vigário Geral para os Greco-Melquitas

O Arquimandrita cumpriu o cargo de Vigário Geral até a criação da eparquia em 26 de maio de 1972. O Papa Paulo VI criou, então, a Eparquia Nossa Senhora do Paraíso, sendo sua Sé a Catedral Nossa Senhora do Paraíso, na cidade de São Paulo e nomeou seu primeiro Eparca o Arquimandrita Elias Couéter. Em comunhão com a Igreja Católica Apostólica Romana, a Eparquia Nossa Senhora do Paraíso é uma circunscrição eclesiástica da Igreja Greco-Melquita Católica no Brasil, sendo uma das igrejas sui iuris.

Dom Elias dirigiu a Eparquia até 1978, quando renunciou por limite de idade. Seus sucessores foram: Spiridon Mattar – 1978-1990; Pierre Mouallem – 1990-1998; Farès Maakaroun – 1999-2014; Joseph Gébara – 2014-2018. Dom George Khoury é o sexto Eparca Greco-Melquita do Brasil. (cf. Wikipedia / O São Paulo)

Nomeação de Dom George

No dia 17 de junho, o Papa Francisco nomeou Bispo da Eparquia Nossa Senhora do Paraíso em São Paulo dos Greco-Melquitas, o Monsenhor George Khoury.

A Eparquia Greco-Melquita Nossa Senhora do Paraíso estava vacante desde fevereiro de 2018, quando o Papa Francisco autorizou a transferência de Dom Joseph Gébara para a Arquieparquia Greco-Melquita de Petra e Filadélfia, na Jordânia.

Desde então, a Eparquia no Brasil estava sendo conduzida pelo Bispo Auxiliar de São Paulo Dom Sérgio de Deus Borges, designado como Administrador Apostólico em 23 de maio de 2018 e que no dia 7 de setembro de 2019 tomou posse como Bispo Diocesano de Foz do Iguaçu. (cf. CNBB)

Biografia de Dom George

Nomeado Bispo da Eparquia Greco-Melquita Nossa Senhora do Paraíso, Monsenhor George Khoury é natural da cidade de Safita, no Estado de Tartous, noroeste da Síria. Nascido em 1970, cursou faculdade de letras em Al-Baath Universidade-Homs, formando-se em 1992. Atuou como professor de língua inglesa nas escolas das periferias da cidade de Safita.

No final de 1994, entrou no convento de São Paulo, em Safita, onde estudou Teologia de 1994 a 1998. Foi ordenado diácono em 1998 por Dom Michael Yatim e sacerdote, em 1999, por Dom Farès Maakaroun. Em 2000, pela autorização do Patriarca Makssimos Hakim, foi enviado ao Brasil.

Desde então, atuou como Pároco na Catedral Nossa Senhora do Paraíso em São Paulo. Em 2003, foi transferido para a Paróquia São Basílio e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, no Rio de Janeiro. Em janeiro de 2009, recebeu o título de Monsenhor.

Possui especialização em Sagradas Escrituras e pós-graduação em Docência do Ensino Religioso pela faculdade Futura, de Votuporanga. (cf. CNBB)

Saudação da CNBB a Dom George

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil enviou saudação ao novo membro do episcopado:

Saudação da CNBB ao Monsenhor George Khoury

Brasília-DF, 17 de junho de 2019

Prezado Monsenhor George Khoury,

Paz!

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) manifesta alegria com o anúncio de sua nomeação feita nesta segunda-feira, 17 de junho, pelo Papa Francisco como novo bispo da Eparquia Greco-Melquita Nossa Senhora do Paraíso.

Unimo-nos fraternalmente ao senhor por sua nomeação e reiteramos nossas preces e nosso afeto, extensivo a toda a comunidade melquita agora confiada ao seu pastoreio e a todo o povo sírio, rogando sempre pela paz em toda a Terra.

O Senhor sempre abençoe os seus caminhos e o seu ministério episcopal, com a intercessão materna de Nossa Senhora. Conte com nosso apoio e orações.

Em Cristo,

Assinaturas: Dom Walmor Oliveira de Azevedo – Arcebispo de Belo Horizonte (MG) – Presidente da CNBB; Dom Jaime Spengler – Arcebispo de Porto Alegre (RS) – Primeiro Vice-Presidente da CNBB; Dom Mário Antônio da Silva – Bispo de Roraima (RR) – Segundo Vice-Presidente da CNBB; Dom Joel Portella Amado – Bispo Auxiliar da arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ) – Secretário Geral da CNBB.

Ordenação episcopal de Dom George

Monsenhor George Khoury, nomeado pelo Papa Francisco Bispo da Eparquia Greco-Melquita Nossa Senhora do Paraíso, em São Paulo, foi ordenado na sua cidade natal, em Safita, noroeste da Síria, domingo, dia 25 de agosto de 2019.

A cerimônia foi presidida pelo Patriarca Greco-Melquita, Youssef Absi e contou com a presença de brasileiros. Fizeram-se presentes seis bispos da Eparquia local, o Núncio Apostólico Dom Mario Zenari, sacerdotes e bispos ortodoxos.

O Prior da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, subdivisão do Rio de Janeiro, Monsenhor André Sampaio, foi um dos brasileiros presentes na cerimônia de ordenação de Monsenhor George. Formado em Direito Canônico Oriental, Monsenhor André comentou sobre o “amor à dimensão dessa Igreja que se manifesta por uma diversidade tão grande”. “Isso é a beleza da Igreja: diversidade. Não a uniformidade. Se nós olharmos os Apóstolos, os 12 eram diferentes. … Essa é a riqueza e é com isso que devemos trabalhar e viver o espírito de comunhão, de respeito e de amor. Imagina uma Igreja que fosse toda uniforme? Seriam como androides. Não. É o Espírito Santo primeiro que sopra onde quer. Isso é maravilhoso. A gente encontrou lá Deus e vai pra onde ele quer, vai suscitando nos corações e vai provocando essa diversidade”. (cf. Vatican News / Gaudium Press)

Entronização-posse de Dom George

A entronização, ou seja, a tomada de posse canônica do novo Bispo Eparca da Eparquia Greco-Católica Melquita Nossa Senhora do Paraíso Dom George Khoury foi celebrada durante a Solene Pontifical Divina Liturgia na catedral homônima, no centro de São Paulo, domingo, dia 22 de setembro de 2019. Com início às 11 horas, a celebração foi presidida pelo Patriarca Melquita de Antioquia, Alexandria, Jerusalém e todo Oriente Dom Youssef Absi, fazendo sua primeira visita ao Brasil.

A celebração seguiu o Rito bizantino, toda cantada pelo coral local, em árabe e algumas partes em português. A homilia foi proferida pelo Eparca Emérito Dom Farès Maakaroun, seguida do pronunciamento do Administrador Apostólico Dom Sérgio de Deus Borges, que no dia 7 de setembro tomou posse da Diocese de Foz do Iguaçu. Dom Farès discorreu sobre o significado da Eparquia Melquita no contexto da Igreja no Brasil. Dom Sérgio destacou o enriquecimento espiritual que obteve estando à frente da Eparquia por 14 meses como Administrador Apostólico.

Ao final da Divina Liturgia, Dom George tomou a palavra para fazer seus agradecimentos e apresentar as linhas de sua pastoral episcopal. Ele reforçou o que já havia dito em suas entrevistas. “Primeiramente, agradeço a Deus pelo chamado a esta nova missão. A expectativa é muito grande e desafiadora para assumir a Eparquia. Esta é uma grande responsabilidade. É um enorme desafio. Através das palavras de São Paulo Apóstolo, encontro-me pequeno diante da grandeza do Senhor. Somente a graça, sim, a graça de Deus vai me fortalecer, encorajar e dar firmeza para continuar, sem desistir, a missão a mim confiada”, afirmou Dom George Khoury.

Ele ressaltou que ser bispo não é ocupar um cargo de honrarias, mas é, antes de tudo, ser servo da “verdade de Cristo confiada à sua Igreja”. “Esta missão é grande, pelo teor de sua imensa responsabilidade; mesmo fraco e limitado, farei o possível para tornar-me tudo para todos, pois este é o meu propósito, transcrito no meu lema episcopal: ‘Fiz-me tudo para todos’ (2Cor 9,22). Este mistério é grande”.

De acordo com o Eparca, numa de suas entrevistas, o Rito Bizantino não é muito conhecido no Brasil, e cabe ao bispo torná-lo conhecido pela divulgação e celebração em outras Igrejas do Rito Latino, pois a Igreja não é somente Latina, como todo mundo pensa. Ele falou da diversidade na Igreja: “A diversidade, sim, é um caminho importante para a unidade da Igreja, pois o amor à dimensão da Igreja Católica Apostólica Romana se manifesta por uma diversidade tão grande. Isso é a beleza da Igreja: diversidade. Não a uniformidade”, disse.

Muitas autoridades eclesiásticas, entre bispos e sacerdotes, como o Eparca Maronita Dom Edgar Madi, e civis, como o Cônsul da Síria, participaram do evento. O Arcebispo Metropolita Dom Volodemer Koubetch e os Padres Neomir Doopiat e Estefano Wonsik, OSBM representaram a Metropolia Católica Ucraniana São João Batista. A bela catedral estava repleta de fiéis, com destaque a um grupo de paroquianos vindos do Rio de Janeiro, onde o novo Eparca foi pároco.

Houve uma permuta de presentes religiosos entre as autoridades melquitas. Ainda foi lido e traduzido o decreto de nomeação em árabe do próprio Patriarca Youssef Absi. Dom George abençoou a todos, foi calorosamente cumprimentado e pediu orações a seu novo ministério.

A Metropolia parabeniza Dom George Khoury pela nomeação e posse e lhe deseja muito sucesso espiritual e pastoral à frente de sua Eparquia e manifesta os melhores propósitos de união e colaboração eclesial.

Fotos: Metropolia e fontes citadas

Texto: Secretariado Metropolitano