Despedida do Papa Francisco

Com muita comoção pelo falecimento, mas também gratidão pela missão tão bem cumprida pelo Papa Francisco, a Igreja Católica, fiéis de outras Igrejas cristãs, confissões religiosas e o mundo todo dele se despediu com muito reconhecimento e admiração pelas suas atitudes e ações humanistas. Uma despedida de pesar, mas também de esperança para que as sementes por ele plantadas germinem e produzam frutos de uma sociedade melhor. A presente matéria, de quatro autores, relata o sepultamento do Papa Francisco na Basílica Santa Maria Maior em Roma, a celebração em memória do Pontífice na Arquicatedral São João Batista de Curitiba, uma breve biografia e seu legado espiritual e pastoral.

SEPULTAMENTO NA BASÍLICA SANTA MARIA MAIOR

Na manhã de 26 de abril de 2025, sábado, a Igreja e o mundo se despediram do Papa Francisco com a missa exequial, seguida do sepultamento. A Missa aconteceu no adro da Basílica de São Pedro e foi presidida pelo decano do Colégio Cardinalício, cardeal Giovanni Battista Re.

Cerca de 250 mil fiéis participaram da missa, entre eles cardeais, bispos, sacerdotes, religiosos, religiosas, chefes de Estado e de Governo e fiéis leigos de todo o mundo. A cerimônia refletiu o estilo simples e pastoral que caracterizou o pontificado de Francisco, com a presença de representantes de comunidades marginalizadas, como migrantes, pessoas em situação de rua e vítimas de tráfico humano, que saudaram o caixão do papa durante a procissão.

O Papa Francisco (Jorge Mario Bergoglio), faleceu na segunda-feira, 21 de abril, aos 88 anos, após sofrer um acidente vascular cerebral. Seu corpo foi velado na Basílica de São Pedro até a noite do dia 25 de abril, quando houve a cerimônia de fechamento do caixão. Durante esses dias, milhares de fiéis prestaram suas homenagens.

Em conformidade com seu desejo expresso em testamento, Francisco foi sepultado na Basílica de Santa Maria Maior, em Roma. Ele é o primeiro papa a ser enterrado fora do Vaticano desde Leão XIII, em 1903; e o 8º papa a ser sepultado nessa Basílica, após mais de 400 anos. O último a ser sepultado ali foi o Papa Paulo V, em 1621.

Em seu testamento, Francisco optou por um funeral simples, abolindo a tradição dos três caixões e escolhendo um único de madeira, alinhado ao seu estilo de vida austero e próximo dos mais necessitados.

Durante a homilia, o cardeal Giovanni Battista Re destacou que o pontificado do Papa Francisco estabeleceu “um contato direto com cada pessoa e com as populações, desejoso de ser próximo a todos, com uma atenção especial às pessoas em dificuldade, gastando-se sem medida, em particular pelos últimos da terra, os marginalizados. Foi também um Papa atento àquilo que de novo estava a surgir na sociedade e àquilo que o Espírito Santo estava a suscitar na Igreja”.

Após a missa, o cortejo fúnebre, da Praça de São Pedro até a Basílica de Santa Maria Maior, foi acompanhado pelo badalar dos sinos e por aplausos de uma multidão de pessoas que se dividiram em diferentes pontos do trajeto de mais de 4km.

Segundo o site do Vatican News, o sepultamento do Papa Francisco aconteceu com uma cerimônia reservada e seguiu o seguinte roteiro:

O sepultamento, no nicho no corredor lateral da basílica liberiana, entre a Capela Paulina e a Capela Sforza, foi precedido pelo canto de quatro salmos e acompanhado por cinco intercessões, e então o Pai-Nosso foi entoado. Após a oração final, no caixão que contém os restos mortais do Papa Francisco foram impressos os sigilos do cardeal camerlengo da Santa Igreja Romana, Kevin Joseph Farrell, da Prefeitura da Casa Pontifícia, do Escritório de Celebrações Litúrgicas do Romano Pontífice e do Capítulo Liberiano.

Após esses gestos, o caixão foi colocado no túmulo e aspergido com água benta, enquanto o Regina Caeli foi entoado. Em seguida, a última formalidade: o notário do Capítulo Liberiano redigiu o ato autêntico atestando o sepultamento e o leu aos presentes. Assinaram-no, então, o cardeal camerlengo, o regente da Casa Pontifícia, monsenhor Leonardo Sapienza, o mestre das Celebrações Litúrgicas Pontifícias, dom Diego Ravelli e, finalmente, o notário.

Karina de Carvalho Nadal

CELEBRAÇÃO NA ARQUICATEDRAL DE CURITIBA

Na noite do dia 25 de abril de 2025, dia em que celebramos a memória de São Marcos Evangelista, às 19h, na Arquicatedral Católica Ucraniana São João Batista, foi celebrada a Divina Liturgia pela alma do servo de Deus, Papa Francisco, que deixa o mundo em luto, mas também repleto de esperança na ressurreição, firmados na fé em Deus.

A celebração foi presidida pelo Arcebispo Metropolita Dom Volodemer Koubetch e concelebrada pelos Padres Genésio Viomar, OSBM – Superior do Mosteiro São Basílio Magno, Edson Ternoski – pároco da Arquicatedral São João Batista, Neomir Doopiat Gasperin – pároco da Igreja Santíssima Trindade na Colônia Marcelino, São José dos Pinhais, Samoel Hupolo – pároco da Igreja Santa Ana, no bairro Pinheirinho em Curitiba, e Iwan Kerneski – vigário paroquial da Arquicatedral São João Batista e da Paróquia Santíssima Trindade da Colônia Marcelino.

Estiveram presentes as religiosas do Mosteiro São Basílio Magno e Santa Macrina, representadas por sua Superiora – Irmã Maria Demetriv e pela Irmã Margarete Kavetski, as Irmãs Catequistas de Santa Ana, com a presença da Irmã Edilma Vesolovski – Superiora geral e da Irmã Claudia Michalichen, e as Irmãs Servas de Maria Imaculada, nas pessoas das Irmãs Elisangêla Borges dos Santos, Marcia Nahirnei e Bernadete Karabinoski.

O Seminarista Willian Carlos Ferreira apresentou uma breve biografia sobre o Papa Francisco, recordando sua trajetória marcada pela simplicidade, pela dedicação aos pobres e pela ousadia pastoral que renovou a face da Igreja.

Em clima pascal, seguiu-se a Liturgia conforme o rito próprio deste tempo, em que celebramos a alegria da vitória de Cristo sobre a morte.

Na primeira leitura, retirada da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios (15,47-57), o apóstolo estabelece um contraste entre Adão, o primeiro homem, e Cristo, o segundo homem. Adão, formado do pó da terra, representa a natureza humana sujeita à corrupção e à morte. Cristo, vindo do céu, é a promessa de uma nova humanidade, incorruptível e imortal. Paulo revela o “mistério” da transformação que ocorrerá na ressurreição: “Num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados”. Essa passagem nos assegura que a morte não tem a palavra final, pois, por meio de Jesus Cristo, “a morte foi tragada pela vitória”.

Em seguida, Dom Volodemer proclamou o Santo Evangelho segundo São João (6,48-54), que apresenta Jesus como o “Pão da Vida” que desceu do céu. Cristo enfatiza que quem comer de sua carne e beber de seu sangue terá a vida eterna e será ressuscitado no último dia. Essa linguagem aponta para a Eucaristia, onde Cristo se oferece como alimento espiritual. Ao participar desse banquete, os fiéis se unem intimamente a Cristo, recebendo a promessa da vida eterna.

A partir deste ensinamento, o Arcebispo Metropolita refletiu sobre a vida e o legado de Papa Francisco, destacando três aspectos: 1) Papa Francisco, um grande ser humano; 2) Papa Francisco, propagador do cristianismo originário; 3) Papa Francisco, animador de uma Igreja missionária.

Ao final da Divina Liturgia, foi celebrada a “Voskresna Panakhyda”, tradicional no rito bizantino, especialmente no tempo pascal, entoada em honra dos mortos, relembrando com fé, esperança e caridade tudo o que Francisco ensinou, não só em palavras, mas principalmente pela vida.

Que a memória do Papa Francisco nos inspire a viver com fé e esperança, firmes na certeza de que, em Cristo, a morte foi vencida e a vida eterna nos aguarda. Que sua memória seja eterna!

Cristo ressuscitou! Em verdade, ressuscitou! Aleluia!

Seminarista Matheus Kreczkiuski    

BIOGRAFIA DO PAPA FRANCISCO  

Jorge Mario Bergoglio nasceu na capital argentina no dia 17 de dezembro de 1936, filho de imigrantes piemonteses, da Itália: seu pai, Mário, trabalhava como contabilista no caminho de ferro; e sua mãe, Regina Sivori, ocupava-se da casa e da educação dos cinco filhos.

Diplomou-se como técnico químico, e depois escolheu o caminho do sacerdócio, entrando no seminário diocesano de Villa Devoto. Em 11 de março de 1958, entrou no noviciado da Companhia de Jesus. Completou os estudos humanísticos no Chile e, tendo voltado para a Argentina, em 1963 obteve a licenciatura em filosofia no colégio de São José em San Miguel.

De 1964 a 1965, foi professor de literatura e psicologia no colégio da Imaculada de Santa Fé e em 1966 ensinou essas mesmas matérias no colégio do Salvador, em Buenos Aires.

De 1967 a 1970, estudou teologia, licenciando-se também no colégio de São José. Em 13 de dezembro de 1969, foi ordenado sacerdote por Dom Ramón José Castellano.

De 1970 a 1971, deu continuidade à sua preparação em Alcalá de Henares, na Espanha, e em 22 de abril de 1973 emitiu a profissão perpétua na ordem dos jesuítas.

Regressou à Argentina, onde foi mestre de noviços na Villa Barilari em San Miguel, professor na faculdade de Teologia, consultor da província da Companhia de Jesus e também Reitor do colégio.

No dia 31 de julho de 1973, foi eleito provincial dos jesuítas da Argentina, cargo que desempenhou durante seis anos. Depois, retomou o trabalho no campo universitário e, de 1980 a 1986, foi novamente reitor do colégio de São José, e inclusive pároco em San Miguel. No mês de março de 1986, partiu para a Alemanha, onde concluiu a tese de doutoramento; em seguida, os superiores enviaram-no para o colégio do Salvador em Buenos Aires e sucessivamente para a igreja da Companhia, na cidade de Córdoba, onde foi diretor espiritual e confessor.

O Cardeal Antonio Quarracino convidou-o a ser o seu estreito colaborador em Buenos Aires. Assim, a 20 de maio de 1992, São João Paulo II nomeou-o bispo titular de Auca e Auxiliar de Buenos Aires. No dia 27 de junho, recebeu na catedral a ordenação episcopal precisamente do cardeal. Como lema, escolheu Miserando atque eligendo e no seu brasão inseriu o cristograma IHS, símbolo da Companhia de Jesus.

Em 3 de Junho de 1997, foi promovido a arcebispo coadjutor de Buenos Aires. Nove meses depois, com o falecimento do Cardeal Quarracino, sucedeu-lhe em 28 de fevereiro de 1998. Três anos mais tarde, no Consistório de 21 de fevereiro de 2001, São João Paulo II criou-o cardeal. Em abril de 2005, participou no conclave durante o qual foi eleito Bento XVI.

O então Cardeal Jorge Mario Bergoglio participou da V Conferência do CELAM, em Aparecida, em 2007, e foi relator do Documento de Aparecida.

É autor dos livros Meditaciones para religiosos (1982), Reflexiones sobre la vida apostólica (1986) e Reflexiones de esperanza (1992).

VIAGENS E DOCUMENTOS

Eleito sucessor de Pedro em 13 de março de 2013, após a renúncia do Papa Bento XVI, ele se tornou o primeiro Papa nascido no continente americano e o primeiro do Hemisfério Sul. Foi entronado em 19 de março de 2013. Ao longo de seu pontificado, Papa Francisco fez 47 viagens apostólicas, além de viagens dentro da Itália, tornando-se o Papa com maior número de viagens na história.

Publicou três encíclicas: a primeira, Lumen fidei, a quatro mãos com Bento XVI, em 2013, e outras três de próprio punho: Laudato si’ (2015), Fratelli tutti (2020) e Dilexit nos (2024). Suas exortações apostólicas também foram muito importantes: Evangelii gaudium (2013), Amoris laetitia (2016), Gaudete et exsultate (2018), Christus vivit (2019), Querida Amazônia (2020), Laudate Deum (2023) e C’est la confiance (2023).

Seminarista Willian Carlos Ferreira

LEGADO DO PAPA FRANCISCO

O legado do pontificado do Papa Francisco de 12 anos é muito rico, extenso, complexo, original, criativo, transformador e profético, sendo difícil fazer uma síntese. Destaco alguns aspectos que mais me tocam e impressionam e que impulsionam o meu ministério episcopal, esforçando-me no respeito, fidelidade e na devida obediência ao Santo Padre – sucessor de Pedro. Foi o Papa Francisco que me nomeou Arcebispo Metropolita.

Papa Francisco – um grande ser humano

Francisco teve o intelecto de um jesuíta e o espírito de um franciscano. Mas sua formação teológica e espiritual foi essencialmente inaciana, quer dizer, de Santo Inácio de Loyola, fundador da Ordem dos Jesuítas ou Companhia de Jesus. Foi um intelectual de enorme grandeza e sagacidade, comunicando as grandes verdades da fé de um modo acessível e compreensível a todos.

Bergoglio foi uma pessoa extraordinária que transmitia ao mesmo tempo a força divina e a energia humana, apesar de sua saúde ser um tanto fragilizada. Um líder que valorizava o passado como aprendizado e olhava para o futuro com esperança, mas vivia o momento presente com alegria e entusiasmo. Um senhor da seriedade, firmeza e segurança no trato das grandes questões, mas também de humanismo, simplicidade e humildade nas coisas comuns da vida.

O Papa Francisco foi um homem da harmonia e coerência entre fé e vida, teologia e pastoral, liturgia e convivência, oração e ação. Todas as vezes em que nos encontramos, ele terminava a nossa conversa dizendo: “reza por mim”.

Papa Francisco – propagador do cristianismo originário

Como São Basílio Magno no século IV e São Francisco de Assis no século XII, o Papa Francisco se esforçou na renovação do cristianismo a partir da sua essência original, centralizada e fundamentada na pessoa de Jesus Cristo. No decorrer da história, as fraquezas humanas sempre tenderam a enfraquecer e corromper a autenticidade, veracidade e dinamismo do Evangelho. Porém, a Providência Divina sempre convocou seus escolhidos e os preparou para reverter e mudar os caminhos tortuosos.

Nos tempos atuais, de tanta violência bélica e tantas outras violências, corrupção e escândalos de todo o tipo, o Papa Francisco foi um desses escolhidos. Ele, então, propagou e viveu o cristianismo das origens, espelhando-se na comunidade cristã primitiva, na qual a fraternidade, a união e a comunhão, profunda e intimamente ligadas à fração do pão – a Sagrada Liturgia, era o elemento primordial.

Papa Francisco – animador de uma Igreja missionária

O cristianismo originário e autêntico, na sua essência, existência e dinâmica cristocêntrica, tendo Cristo no centro de tudo, não se fecha em si mesmo. Porque a fé cristã não é autorreferencial, egoísta, centrada em si mesma, preocupada consigo mesma; ela é católica, ou seja, universal; e, assim, é voltada a todo o mundo, obedecendo ao mandato de Cristo, que disse aos seus discípulos: “Ide, portanto, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!” (Mt 28,19-20).

A missionariedade, a missão da Igreja, o espírito missionário de Francisco: em escala mundial, se voltava para a busca da paz, da justiça social e da preservação do planeta; em escala grupal e pessoal, se voltava para as periferias existenciais. Enfim, o Papa se voltava a um mundo doente e carente de amor.

Com o objetivo de reanimar a missão e, assim, renovar a dinâmica da Igreja, Francisco retomou a eclesiologia de comunhão do Concílio Vaticano II, focalizando na sinodalidade, que é o viver juntos, o caminhar junto, o que significa uma dinâmica de conversão e superação, ou seja: superar a autorreferencialidade, superar seus limites, superar suas fronteiras, superar seus egoísmos, superar seus desamores a fim de se voltar para os outros e ajudando-os nas mais diversas carências e necessidades. É nesse sentido da eclesiologia conciliar e da moral cristã, essencialmente evangélica, que entendemos o ensinamento do Papa Francisco quando ele fala de uma “Igreja em saída”.

O Papa faleceu no tempo litúrgico da Páscoa, um dia após tê-la celebrado. Páscoa significa passagem, vitória, superação, saída: saída da morte terrena para a entrada na vida eterna; significa esperança na ressurreição, que é a maior esperança possível, confirmada e garantida pela Ressurreição de Jesus Cristo. Que o Cristo Ressuscitado o recompense pela sua missão tão bem cumprida e o acolha em suas luzes eternas.

Eterna é a sua memória! Вічна Йому пам’ять!

Dom Volodemer Koubetch

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Site Vatican News

Seminarista Matheus Kreczkiuski