Bispos refletem sobre o ateísmo

Entre os dias 22 a 26 de janeiro de 2018, no Centro de Estudos Sumaré, Arquidiocese do Rio de Janeiro, aproximadamente 60 Bispos, entre eles o Arcebispo Metropolita Dom Volodemer Koubetch, OSBM, presente pela primeira vez, participaram do 27º Curso para Bispos, ministrado em todo mês de janeiro desde o pastoreio do Cardeal Eugenio Sales. O curso é gratuito, ficando os participantes somente com as despesas de viagem. Como em todos os anos, também neste os Bispos passaram quase uma semana de estudos, oração, partilha, convivência, descanso e lazer, sendo muito bem acolhidos pelo pessoal da Arquidiocese, incluindo sacerdotes, diáconos, seminaristas e muitos leigos. O tema central do curso abordou o “O Ateísmo – Formas atuais e desafios à evangelização”.

A localização do Centro de Estudos Sumaré é privilegiada, situando-se no meio da floresta, no alto da montanha, de onde se vê boa parte da cidade, montanhas em volta. Os saguis, uma espécie de macacos, frequentemente se aproximam do edifício, fazendo suas algazarras no alto das árvores. Ao lado do Centro encontra-se a residência episcopal da arquidiocese. Um lugar que por si só convida à oração, meditação e estudos, oferecendo um ambiente muito propício para o relaxamento mental e físico. Muito legal. A grandeza e beleza do local faz o espírito se elevar e pensar em Deus, sentindo sua vivificante presença. É o Deus da criação e da vida!

O Núncio Apostólico Dom Giovanni d’Aniello marcou sua presença na abertura, no encerramento, nas celebrações e no passeio e estava disponível para atender os Bispos que tinham assuntos diocesanos a tratar. Lamentou não ter podido ouvir todas as conferências do curso devido ao intenso trabalho com os Bispos; mas, devido a urgência do tema, estudará a matéria, que foi distribuída eletronicamente em PDF e como apostilas impressas. Também será publicada pela revista da PUC-Rio “Atualidade Teológica”. Assinale-se ainda a participação sempre animada de Dom Vartan Waldir Boghossian – Exarca Armênio Católico para a América Latina.

Dia 24, à tarde, os Bispos participantes do Curso, conferencistas e assessores tiveram um belo passeio cultural de barco pela baía da Guanabara, com um guia turístico, professor de história, que passou muitas informações sobre as duas cidades vizinhas. Após as Vésperas celebradas numa capela, houve um alegre jantar no Iate Clube, comemorando especialmente o aniversário de um diácono.

Em seu artigo intitulado “Ateísmo hoje”, publicado na seção Formação: Voz do Pastor do site da Arquidiocese do Rio, o Arcebispo e Cardeal Dom Orani João Tempesta ressaltou a importância do tema para toda a Igreja e, especialmente para os Bispos, os primeiros a terem que encarar com muita competência essa realidade tão desafiadora. “A Igreja, ao defender a fé em Deus e a nossa pertença a ele, não quer de modo algum tirar do homem o que lhe é devido para atribuir a Deus, o que seria uma alienação grave. Ao contrário, a Igreja quer o bem do homem. E entende que esse bem está relacionado com a abertura que todos nós temos para Deus. Desse modo, a relação com o divino, longe de mutilar o homem ou de submetê-lo a uma servidão, vem ao encontro de seu desejo mais profundo de felicidade e eternidade e o liberta para realizar-se como ser que vive na imanência e é constitutivamente aberto à transcendência”, escreveu Dom Orani. Recordando as exortações do Papa Francisco, do Papa Emérito Bento XVI, que participou como grande conferencista na primeira edição do Curso dos Bispos no Sumaré em 1990, e de São João Paulo II, o Cardeal Tempesta conclui seu artigo afirmando que a Igreja respeita o ser humano em sua completude. “O humanismo integral defendido pela Igreja é uma posição que respeita o homem em todas as suas dimensões. Sem esquecer de que o homem é ser no mundo, na matéria, no tempo e na história, não nega a sua abertura para o Absoluto. Possa a Palavra da fé ajudar-nos a não tirar do nosso horizonte o que constitui a mais rica expressão do homem: a relação com Deus”, finalizou.

Os conferencistas, professores especialistas na temática proposta, foram:

Monsenhor Fernando Ocáriz. Nasceu em Paris em 27 de outubro de 1944, filho de uma família espanhola no exílio na França pela Guerra Civil. É o caçula de oito irmãos. Formou-se em Física pela Universidade de Barcelona (1966) e em Teologia pela Pontifícia Universidade Lateranense (1969). Obteve o doutorado em Teologia em 1971 na Universidade de Navarra. Nesse mesmo ano foi ordenado sacerdote. Em seus primeiros anos como um sacerdote dedicou-se especialmente à pastoral juvenil e universitária. Desde 1986 é consultor de diversos organismos da Cúria romana: Congregação para a Doutrina da Fé (desde 1986), Congregação para o Clero (desde 2003) e o Conselho Pontifício para a Promoção da Nova Evangelização (desde 2011). É membro da Academia Pontifícia de Teologia desde 1989. Na década de oitenta foi um dos professores que começou a Universidade Pontifícia da Santa Cruz, onde foi professor de Teologia Fundamental. É vigário geral do Opus Dei desde 1994, e em 2014 foi nomeado vigário auxiliar da Prelazia. É prelado do Opus Dei desde o dia 23 de janeiro de 2017.

Professor Dr. Rafael José Stanziona de Moraes. Doutor em Teologia Moral pela Universidade de Navarra. Especialista em Moral Fundamental e Ética. Antes de receber a ordenação sacerdotal em 1976, fez os cursos de engenharia e de física na Universidade de São Paulo e foi professor do Instituto de Matemática e Estatística da mesma universidade. É sacerdote secular incardinado na Prelazia Pessoal do Opus Dei. Desde a sua ordenação, além de exercer o magistério, dedicou-se, sobretudo, ao trabalho pastoral de formação de leigos e de clérigos, especialmente no ambiente universitário, através da direção espiritual de da pregação de retiros. Colaborou na formação nos seminários diocesanos de Santo Amaro, Anápolis e Brasília. Anualmente prega um retiro para o clero de várias dioceses. Durante quinze anos foi professor de ética profissional nos cursos de pós-graduação para juristas do Instituto Internacional de Ciências Sociais em São Paulo. Foi capelão desse instituto e é professor dos Cursos de Atualização Sacerdotal que esse centro universitário oferece anualmente. Foi um dos organizadores do simpósio internacional sobre a laicidade do Estado e a liberdade religiosa, promovido pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) em 2011. Na qualidade de assessor ministrou vários cursos de moral para o clero de diversas dioceses do país. Escreveu e traduziu livros de espiritualidade.

Professor Dr. Francesco Botturi. Nasceu em Milão, em 1947. Formou-se em Filosofia na Universidade Católica de Milão em 1970. Ele continuou seus estudos no Departamento de Estudos Religiosos da Universidade Católica de 1970 a 1974. De 1979 a 1995, ensinou Filosofia da História. Ensinou Filosofia Moral na Universidade de Lecce de 1990 a 1995. Desde 1997 foi professor de Antropologia Filosófica e Filosofia Moral na Universidade Católica de Milão. Elaborou publicações sobre modernidade (Sabedoria e História, Giambattista Vico e Filosofia Prática, 1991 e Tempo, Língua, Ação, Vichian Lines da “Eterna História Ideal”, 1996) e escreveu vários ensaios sobre antropologia (Desejo e Verdade). Para uma antropologia cristã na era da secularização, 1986). Atualmente é vice-reitor da Universidade Católica de Milão.

Frei Francisco Paton, OFM. Nasceu em Vigo Meano, na província e na diocese de Trento em 23 de dezembro de 1963. Pertence à província franciscana de Santo Antônio, na Itália. Fez sua primeira profissão religiosa em 7 de setembro de 1983 e sua profissão solene em 4 de outubro de 1986. Foi ordenado sacerdote em 26 de maio de 1989. Em 1993, obteve um Licenciado em Ciências da Comunicação na Pontifícia Universidade Salesiana de Roma. Exerceu várias funções em sua província e também dentro da Ordem. Foi duas vezes secretário geral dos capítulos gerais em 2003 e 2009; Visitador Geral em 2003, Ministro Provincial de St. Vigilium (Trent, Itália) de 2008 a 2016; Presidente da Conferência dos Ministros provinciais da Itália e Albânia (Compi). Também serviu fora da Ordem: como membro do Conselho Presbiteral Diocesano e secretário do Conselho Pastoral Diocesano da Arquidiocese de Trento; professor de Comunicação Social no Studio Teologico Accademico Tridentino; colaborador do semanário diocesano, da rádio diocesana e do Telepace Trento. É fluente em inglês e espanhol, além de seu italiano nativo.

Os subtemas relacionados ao ateísmo foram distribuídos da seguinte maneira: Monsenhor Fernando Ocáriz, que desenvolveu os seguintes temas: “Panorama do marxismo”, “O chamado novo ateísmo”, “Uma redefinição da pessoa humana”; Padre Rafael José Stanziona de Moraes falou sobre: “Laicidade e laicismo”, “O Relativismo: perda do amor à verdade, obstáculo para o diálogo”, “A comunhão constitutiva da Igreja reduzida a dimensões horizontais”; Professor Francesco Botturi desenvolveu os temas: “Ateísmo”, “Secularização”, “Niilismo”; Frei Francisco Paton falou sobre “Oito séculos de presença pela paz”, trata-se da presença da Ordem Franciscana na Terra Santa.

O tema é muito interessante e instigante e as exposições muito competentes dos conferencistas certamente ajudará os Bispos, diante de um tempo de tantas contestações e dificuldades, a evangelizar com mais acerto e firmeza, principalmente nas grandes cidades, diante de um sistema de comunicação que costuma interpretar pejorativamente as manifestações religiosas. De fato, as exposições foram muito profundas e abrangentes em seus aspectos teóricos, relevantes e pertinentes na sua aplicação prática.

Em nosso mundo tão conturbado e confuso, mergulhado em tantas crises, principalmente na crise existencial, é preciso continuar os estudos sobre o ateísmo contemporâneo e suas manifestações, buscando sempre mais a verdade, o bem com todos os valores, o belo e o próprio Deus, origem e causa de tudo o que existe. E, com muita coragem e alegria, colocar em prática o que dizia São Pedro aos seus cristãos: “Estai sempre prontos a responder, para a vossa defesa, com doçura e respeito, a todo aquele que vos perguntar a razão da vossa esperança” (1Pd 3,15).

Muito obrigado e parabéns, Dom Orani! Parabéns Arquidiocese São Sebastião!