59ª Assembleia Geral da CNBB

A 59ª Assembleia Geral (AG) da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil deste ano aconteceu em duas etapas: uma online, entre os dias 25 e 29 de abril, e outra presencial, em Aparecida, entre os dias 29 de agosto e 02 de setembro de 2022. Uma matéria completa sobre o evento implicaria em uma reportagem de dezenas de páginas, porque essas assembleias abordam a realidade eclesial e social brasileira em profundidade e riqueza de detalhes.

Numa visão de conjunto, os temas abordados na AG foram os seguintes: 18º Congresso Eucarístico Nacional; Análise de Conjuntura Eclesial; Análise de Conjuntura Social; Assuntos relacionados ao Celam (Conselho Episcopal Latino-Americano); Celebração dos 70 anos da CNBB

Assuntos relacionados ao Ceris (Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais); Comissão Especial para a Mineração e Ecologia Integral; Jornada Mundial da Juventude 2023; Campanha Junho Verde; Apresentação da nova marca da CNBB (Identidade Visual); Pesquisa sobre “Saúde Integral do Clero”; Questões relacionadas à Proteção de Crianças e Adolescentes; Questões jurídicas; Sínodo dos Bispos 2023.

Utilizando-se de informações publicadas no site da CNBB, o presente relato destaca apenas os momentos e elementos mais significativos para a realidade da nossa Igreja Católica Ucraniana no Brasil: espírito sinodal da 59ª AG; presença sinodal dos Bispos orientais; resoluções eclesiais sinodais.

1. ESPÍRITO SINODAL DA 59ª ASSEMBLEIA GERAL

Um elemento teológico, espiritual e pastoral fundamental das assembleias é a comunhão dos Bispos, que atualmente está sendo tematizada, estudada e vivida em termos de sinodalidade. Na abertura da 59ª AG, o Presidente Dom Walmor disse os Bispos não vieram à Aparecida para realizar uma convenção, mas para realizar uma experiência de comunhão: “Que esse caminho seja fecundo. Estamos aqui para uma experiência bonita para fortalecer o que é mais importante da experiência episcopal dos Bispos do Brasil: ‘a comunhão’. Viemos para fortalecer a nossa comunhão de modo que as nossas diferenças se tornem riqueza, nossos modos de ver diferentes se tornem consenso eclesial e que possamos servir melhor o povo amado de Deus”.

Os 70 anos da CNBB, comemorados em 2022 e celebrados também durante os dias da AG, foram destacados por Dom Walmor que, ao fazer memória das sete décadas da Conferência Episcopal, lembrou de “figuras ilustres”, os cristãos leigas e leigas, religiosos e religiosas, padres assessores e Bispos que se dedicaram na construção da história: “os que nos precederam e que já partiram deste mundo, e os que continuam conosco, nos introduziram na experiência sinodal”.

O fato de realizar presencialmente a segunda etapa aumentou e melhorou a sinodalidade entre os Bispos. Para o Arcebispo de Feira de Santana (BA), Dom Zanoni Demettino Castro, a Assembleia é um momento de alegria e satisfação. “Nós, Bispos do Brasil vivendo, convivendo, celebrando juntos a Eucaristia, caminhando do hotel até a Basílica, é um momento de graça e de alegria que nos confirma na unidade e na fé.  Os encontros online foram muito eficazes e produtivos, mas não chega aos pés desse encontro de irmãos. Aqui se fortalece a colegialidade, se expressa a sinodalidade da Igreja e nos aponta para uma Igreja atenta, presente, que tem em si mesma a vida, as alegrias, as dores, os sofrimentos e, sobretudo, o sofrimento do povo”, relatou o Arcebispo.

2. PRESENÇA SINODAL DOS BISPOS ORIENTAIS

A comunhão sinodal com as Igrejas orientais no Brasil não foi diretamente tratada na AG, mas teve destaque nas publicações. Karina de Carvalho, assistente de comunicação da CNBB Regional Sul 2, escreveu um artigo para o site da CNBB: “Perfil e curiosidades do episcopado brasileiro presente na 59ª assembleia geral da CNBB”. Ela fez uma entrevista com o Arcebispo Metropolita Dom Volodemer Koubetch, cujo conteúdo é aqui publicado na íntegra.

Na Igreja do Brasil há quatro Igrejas de rito oriental: armênio, maronita, greco-melquita e ucraniano e ainda uma para os fiéis de ritos orientais sem ordinário próprio. São católicos, submissos ao Papa, possuem suas sedes próprias (como as dioceses), e seus Bispos pertencem à CNBB.

A Igreja Católica do Rito Ucraniano é a única que possui duas circunscrições eclesiásticas: a Metropolia São João Batista, com sede em Curitiba-PR, e a Eparquia Imaculada Conceição, com sede em Prudentópolis-PR. Estão no Paraná, pois é onde está concentrada a maior comunidade de descendentes ucranianos do Brasil. São aproximadamente 600 mil pessoas, das quais mais de 90% são católicas.

O Arcebispo da Metropolia Católica Ucraniana São João Batista, Dom Volodemer Koubetch, afirma ser muito importante a participação dos Bispos das Igrejas Orientais na Assembleia Geral da CNBB.

“Estar aqui é uma manifestação máxima, muito significativa, de sinodalidade. A CNBB congrega todas as dioceses do Brasil, com suas diferenças culturais, que já são uma riqueza. Nesse contexto de maioria da Igreja Católica do rito latino, entra essa minoria que somos nós, os Católicos orientais. Penso que nossa participação ajuda a enriquecer esse patrimônio religioso e cultural do Brasil, reforçando a sinodalidade. É um embelezamento da própria Igreja”, disse Dom Volodemer.

Desde 2004, quando foi ordenado bispo, Dom Volodemer participa das Assembleias Gerais da CNBB e das Assembleias do Regional Sul 2. Ele afirma que os temas sempre foram muito convergentes com a Igreja que pastoreia, assim como neste ano. “O tema principal desta Assembleia, que trata da sinodalidade, converge com aquilo que os Bispos ucranianos já trataram em seu sínodo, que aconteceu na Polônia. Sinodalidade não é teoria, é prática, é união é entre ajuda, é solidariedade. É isso que vivemos aqui nessa Assembleia”, afirmou o Arcebispo.

Também a Ir. Rosa Maria, scalabriana, a serviço da CNBB, entrevistando os Bispos orientais presentes na AG, publicou a seguinte matéria: “Assembleia Geral da CNBB: um rosto e diferentes ritos da Igreja Católica no Brasil”

As Assembleias Gerais da CNBB sempre contaram com a presença de rostos diversificados da Igreja Católica. No Brasil, país tão diversificado, também as expressões do cristianismo católico encontram muitas faces. São 6 diferentes ritos: bizantino, armeno, antioqueno, caldeu, alexandrino e latino. Vários são os ritos, mas não se altera a fé professada. Ademais, é explicita a obediência ao Santo Padre, além do reconhecimento do seu primado.

A 59ª AG dos Bispos do Brasil conta com a participação de duas Igrejas de rito bizantino. Estão presentes no encontro dos Bispos o arquieparca de rito ucraniano, Dom Volodemer Koubetch, e o eparca Dom Meron Mazur, da Eparquia da Imaculada Conceição, Prudentópolis (PR).

A arquieparquia equivale às arquidioceses, no caso do rito latino. Já a eparquia corresponde às dioceses. Mas ainda há outras expressões rituais. Trata-se do rito greco-melquita, cuja eparquia é confiada ao Bispo árabe, Dom George Khoury.

Não se trata, porém, apenas de formalidade de conteúdo, especialmente se quer dizer da reciprocidade no convívio, na ajuda, na partilha e na solidariedade. Isto significa projetos conjuntos. “A pedido do Bispo de Santo André (SP), Dom Pedro Cippolini, liberei um padre, o que fiz com muito gosto e ele foi como missionário da nossa eparquia, em caráter de bi-ritualidade. E se necessário, ele poderá ser incardinado naquela diocese”, conta o eparca de rito maronita, Dom Edgard Madi.

Embora haja diferenças nos ritos, elas não significam distâncias. Ao contrário, são formas distintas de enfatizar a unidade. Já se falou acima da unidade de fé. “Somos uma única Igreja, não tem como viver sem esta unidade. Somos irmãos, com diferenças unicamente de ritos, vivemos a mesma fé”, explica Dom Khoury.

Ir. Rosa elaborou um panorama da organização da Igreja Católica no Brasil, destacando a presença das Igrejas Católicas Orientais.

A Igreja Católica no Brasil é organizada por 278 circunscrições eclesiásticas, o que quer dizer, divisões territoriais e administrativas cujo objetivo é organizar e tornar mais eficaz a sua administração.  Contém 45 arquidioceses ou sedes metropolitanas, 220 dioceses sendo 217 dioceses de rito latino, três eparquias orientais.

Há 1 arquieparquia de rito oriental, 8 prelazias territoriais, 01 exarcado apostólico de rito oriental, 01 ordinariato para fiéis de rito oriental sem ordinário próprio, 1 ordinariato militar para todo o Brasil e 01 Administração Apostólica pessoal.

No que se refere ao rito, são 272 circunscrições do rito romano, 01de rito oriental armênio, 01 de rito oriental maronita, 01 de rito oriental greco-melquita. 01 arquieparquia de rito oriental ucraniano, 01 para os fiéis de ritos orientais sem ordinário próprio, 01 pessoal.

3. RESOLUÇÕES ECLESIAIS SINODAIS

Sendo que o espírito sinodal permeou os trabalhos da AG, seus frutos, evidentemente, são sinodais, marcados pela sinodalidade, e que vão produzir mais frutos dessa marca. Destacam-se aqui as principais resoluções que, certamente, aumentarão a comunhão sinodal na Igreja: atualização do Estatuto Canônico da CNBB; aprovação da tradução do novo Missal Romano; instituição da formação para o Ministério dos Catequistas; caminho sinodal das diretrizes gerais.

3.1. Estatuto Canônico

Foi atualizado o Estatuto Canônico da CNBB. O presidente da Comissão de Redação buscou assegurar que, nas alterações da redação do Estatuto da CNBB, fossem incorporados elementos mais recentes da caminhada da Igreja como o princípio da “sinodalidade”, apresentado logo no preâmbulo da nova redação do documento. O Bispo informa que, no preâmbulo do novo Estatuto da CNBB, também foi acrescentado o seguinte parágrafo da nova Constituição Apostólica Praedicate Evangelium, do Papa Francisco, sobre a Cúria Romana e o seu serviço à Igreja no mundo: “A atenção que a Constituição Apostólica Praedicate Evangelium dá às Conferências Episcopais move-se no sentido de potencializá-las, sem atuar como uma interposição entre o Romano Pontífice e os Bispos, mas que estejam ao seu inteiro serviço. As competências que lhes são atribuídas nestas disposições visam exprimir a dimensão colegial do ministério episcopal e, indiretamente, fortalecer a comunhão eclesial, dando corpo ao exercício conjunto de algumas funções pastorais para o bem dos fiéis das respectivas nações ou de um território específico”.

3.2. Missal Romano

A nova tradução do Missal Romano foi aprovada. A tradução brasileira dessa terceira edição do Missal Romano levou 18 anos de trabalho da CETEL (Comissão para a Tradução dos Textos Litúrgicos). A jornada começou após a promulgação, em 2002, pelo Papa João Paulo II, da nova edição. Em entrevista concedida à Revista Bote Fé, em 2020, o Arcebispo emérito de Mariana (MG) e membro da CETEL, Dom Geraldo Lyrio Rocha, explicou que “além de alguns novos ‘formulários’, foram introduzidas várias alterações na Instrução Geral que foi imediatamente traduzida pela CNBB e submetida à Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, de acordo com o que determinava a legislação em vigor”.

3.3. Ministério dos Catequistas

Em resposta ao Papa Francisco, os Bispos reunidos na AG de Aparecida instituíram a formação para o Ministério dos Catequistas. Em coletiva de imprensa, realizada no Centro de Eventos Padre Vitor Coelho de Almeida, Dom Waldemar Passini Dalbello, Bispo de Luziânia (GO) e membro da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB, afirmou: “será um reconhecimento da própria comunidade ao perceber o comprometimento e a alegria dos candidatos” e que o tema estudado e aprovado pelos Bispos é muito importante à vida das comunidades, pois “os catequistas são muito importantes em nossas comunidades e têm papéis diferenciados nos países e regiões do mundo”.

Ele destacou que ao proporcionar um itinerário de formação aos catequistas brasileiros, a CNBB “responde à solicitação do Papa Francisco na Carta Apostólica Antiquum Ministerium”. No texto, o Sumo Pontífice pede às conferências episcopais do mundo todo que orientem um processo de formação aos candidatos que irão receber este “antigo ministério” eclesial de catequistas. Deste modo, ao explicar que no Brasil os catequistas atuam em conjunto com os ministros ordenados, dão uma “excelente contribuição no processo de iniciação à vida cristã”.

Dom Waldemar disse aos jornalistas que a partir de um ensaio apresentado aos Bispos, a AG aprovou um caminho formativo que ajudará as dioceses na compreensão da vocação de cada candidato ao ministério proposto. “Pensamos em um período para o discernimento que proporcionará uma formação humana, comunitária, espiritual, doutrinária, teológica e pastoral-missionária. No conjunto, estabelecemos uma etapa de cinco anos”, evidenciou o Bispo goiano ao salientar que o tempo pensado pelo episcopado oferecerá uma visão orgânica da pastoral para que os candidatos ao ministério possam abraçar com responsabilidade a missão que Deus quer confiar a eles.

Nas arquidioceses e dioceses brasileiras, a proposta é que a etapa dedicada à formação ficará por conta das escolas catequéticas diocesanas, institutos e faculdades católicas, de acordo com cada realidade. Dom Waldemar concluiu: “Os catequistas são os grandes cooperadores da edificação da vida humana e de nossas comunidades”.

3.4. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora

As novas DGAE no Brasil serão construídas num caminho sinodal. Em carta à Igreja no Brasil, foi divulgado o processo que se estenderá até 2025 para a construção das novas Diretrizes. Será um caminho de escuta, com a incorporação da síntese das respostas diocesanas para o Sínodo 2021-2023 e de outras contribuições. Em 2023, haverá um tempo de discernimento; em 2024, a recepção do documento final do Sínodo e, no ano seguinte, será apresentada a nova redação do texto.

Para as atuais DGAE estava previsto o processo de atualização no próximo ano, quando será concluído o quadriênio iniciado em 2019. Mas a escolha foi pela continuidade do processo de escuta e a incorporação dos resultados do Sínodo, cuja assembleia será em 2023. “Em estilo sinodal e com estruturas que garantam maior comunhão e participação de todo Povo de Deus, reconhecemos a validade das atuais Diretrizes e propomos um itinerário que aprofunde e integre os desafios dos novos contextos. Cremos que, conhecendo-o, poderemos assumi-lo com mais empenho e alegria, como uma construção coletiva e dele participarmos deforma solidária, ativa e corresponsável”, afirmam os Bispos na carta.

A sinodalidade, inclusive, é convicção sobre o caminho desejado por Deus para a Igreja do Terceiro Milênio. Assim, os Bispos afirmam o “compromisso de construir uma Igreja decididamente sinodal”. “Nossa Igreja no Brasil tem sido construtora e testemunha de um processo amadurecido e consistente de discernimento e assimilação do caminho de renovação e empreendido, como fruto do Concílio Vaticano II, um processo marcado por desafios, aprendizados e superações. Reafirmamos nosso compromisso eclesial com a continuidade deste caminho e a convicção de que, entre nós, não há espaços para retrocessos. Precisamos avançar e construir caminhos novos, conscientes de que caminhar juntos exige de todos nós: mais fraternidade e menos rivalidade; mais partilha e menos egoísmo; mais cooperação e menos competição; mais sentido da vida cristã em comunidade (“diocesaneidade”) e menos individualismo na vivência da fé; mais abertura à escuta e ao diálogo e menos imposição das próprias ideias e decisões; mais flexibilidade e menos resistência à ação do Espírito Santo; menos medo e mais ousadia e profetismo para assumir os riscos do testemunho da fé”.

Que a Mãe de Deus – Nossa Senhora Aparecida, Rainha do Brasil, mestra da sinodalidade, nos acompanhe e nos guie por esse caminho!

Secretariado Metropolitano

Fonte: CNBB