Mais de 400 bispos do Brasil se reuniram em Aparecida para celebrar entre os dias 15 a 24 de abril a 53ª Assembleia Geral Ordinária da CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. As celebrações foram realizadas no Santuário Nossa Senhora da Conceição Aparecida e as reuniões de estudos no Centro de Eventos Pe. Vitor Coelho de Almeida. Como tem ocorrido nas assembleias passadas, também esta foi muito complexa e rica. Afinal, o Brasil é um país continental e contém as mais diversas situações sociais, culturais e eclesiais.
O bispo auxiliar de Brasília e secretário geral da CNBB Dom Leonardo Ulrich Steiner ressaltou que o encontro dos bispos é muito importante na comunhão da Igreja, sendo o verdadeiro ponto alto da Assembleia, que “é sempre uma manifestação da nossa Igreja no Brasil. Existe o momento de encontro, partilha, troca de ideias, tudo isso é muito animador”, disse Dom Leonardo.
Em sua homilia na Santa Missa de abertura da 53ª Assembleia Geral, o arcebispo local e presidente da CNBB Cardeal Raymundo Damasceno Assis disse que “o que salva o mundo é o amor de Deus. Só o amor pode iluminar o mistério pascal e graças ao mistério pascal podemos constatar a intenção divina que é oferta universal de Salvação”.
Na sessão de abertura da assembleia, o Núncio Apostólico no Brasil Dom Giovanni d’Aniello agradeceu o convite e a hospitalidade dos bispos e retransmitiu um abraço especial do Papa Francisco. O Núncio ressaltou a memória dos 50 anos da conclusão do Concílio Vaticano II e ainda a realização do Sínodo Ordinário sobre a Família. Também chamou a atenção para um dos temas principais dessa assembleia: a participação dos leigos na Igreja e confirmou que o cristão leigo enfrenta o mundo dando razões da sua própria esperança. O Núncio enumerou os campos de apostolado dos leigos: “a educação, a assistência, social, o progresso científico e a política”. Ele lembrou ainda que a evangelização dos leigos constitui um grande desafio pastoral. “O cristão leigo exerce uma ação apostólica que lhe é peculiar” e não somente um trabalho complementar ao dos ministros ordenados, disse o representante diplomático do Papa.
A Assembleia refletiu e produziu muitos documentos lançados ao conhecimento do público como “comunicações” e “mensagens”, contemplando os mais diversos acontecimentos eclesiais e sociais.
Foram realizadas reuniões dos episcopados regionais, reuniões privativas e também um dia de retiro, que foi dirigido por Dom Geraldo Lyrio Rocha – Arcebispo de Mariana, Minas Gerais, com o tema “O múnus episcopal à luz do Vaticano II”. As celebrações eucarísticas especiais foram: A Assembleia do Sínodo sobre a Família; Igreja na Amazônia; 50 anos da Lumen Gentium e da Gaudium et Spes; 50 anos da restauração do Diaconato Permanente; Ano da Vida Consagrada. Como evento de destaque aconteceu uma sessão solene e ecumênica de celebração em ação de graças pelos 50 anos do Concílio Ecumênico Vaticano II.
O trabalho principal girou em torno do tema central: DGAE – Diretrizes da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil – 2015-2019. O objetivo foi atualizar as DGAE, levando em consideração os pronunciamentos do Papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude em 2013 no Rio de Janeiro e a sua exortação apostólica Evangelii Gaudium. “Na assembleia passada os bispos tomaram a decisão de não mudar a estrutura das Diretrizes, mas sim atualizá-las com o magistério do Papa Francisco”, explicou o secretário Dom Leonardo.
Os temas prioritários foram os seguintes: Relatório quadrienal do Presidente; Cristãos leigos e leigas na Igreja e na Sociedade (Estudos da CNBB 107); Assuntos de liturgia – Comissão Episcopal Pastoral para a Liturgia; Assuntos da Comissão Episcopal para a Tradução dos Textos Litúrgicos (CETEL); Assuntos da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé (CEPDF); Informe econômico. Temas de caráter diverso também foram tratados: Análise de conjuntura político-social; Análise de conjuntura eclesial; A obrigatoriedade do matrimônio civil; 14a Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos; Dízimo; Nota da CNBB sobre o momento nacional; Pensando o Brasil: a desigualdade. Esses dois últimos documentos constituem fortes apelos proféticos da Igreja no Brasil diante da imoralidade pública que devasta o nosso país. No nº 4 da nota se lê: “A credibilidade política, perdida por causa da corrupção e da prática interesseira com que grande parte dos políticos exerce seu mandato, não pode ser recuperada ao preço da aprovação de matérias que retiram direitos dos mais vulneráveis. Lamentamos que no Congresso se formem bancadas que reforçam o corporativismo para defender interesses de segmentos que se opõem aos direitos dos mais pobres”.
Como reflexão sobre as bases da Igreja contemporânea, a celebração dos 50 anos do Concílio Vaticano II chamou a atenção para a necessidade do esforço eclesial em aplicar o Concílio à vida prática, como salientou o Cardeal Odilo Scherer – Arcebispo de São Paulo numa entrevista coletiva à imprensa: encerrar o período de comemorações com as reflexões sobre a reunião conciliar “não significa que encerramos o interesse, muito pelo contrário, estamos longe de exaurir todos os frutos que o Concílio pode nos dar. Muitos anos são necessários para que se alcance a serenidade necessária ao bom entendimento e assimilação de um Concílio Ecumênico. Esperamos que as comemorações ajudem a dar um passo a mais na assimilação do Concílio nos dias atuais”.
O projeto pastoral de maior mobilização nacional são as celebrações dos 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida. O bispo auxiliar de Aparecida Dom Darci Nicioli lembrou que as comemorações já estão sendo programadas desde 2012, com temas diferentes do rosário a cada ano: “Em 2015 são ‘os mistérios da luz’; em 2016 vamos celebrar com ‘os rostos de Maria no Brasil’, as mais diversas devoções à Nossa Senhora; e em 2017, ano da celebração do jubileu, celebraremos ‘Nossa Senhora Aparecida, rainha e padroeira do Brasil’”.
A 53ª Assembleia Geral da CNBB foi eletiva com a realização de eleições para a Presidência da entidade e das doze comissões episcopais pastorais, para delegados da CNBB ao CELAM – Conselho Episcopal Latino Americano e para a XIV Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, marcada para outubro deste ano, no Vaticano. Dia 20, no primeiro escrutínio, o arcebispo de Brasília Dom Sérgio da Rocha foi eleito presidente da CNBB. Para vice, a Assembleia elegeu o arcebispo de Salvador e primaz do Brasil o Cardeal Dom Murilo Sebastião Krieger. Dom Leonardo Steiner, bispo auxiliar de Brasília, foi reeleito secretário geral. A posse dos eleitos aconteceu no último dia da Assembleia, dia 24 de manhã.
A última Santa Missa da 53ª AG foi presidida pelo arcebispo de Brasília e presidente eleito da entidade, Dom Sérgio da Rocha. Em sua homilia, ele agradeceu a Deus pela assembleia, pelas diretrizes, estudos e pronunciamentos que resultaram do encontro episcopal. Para Dom Sérgio, a presença de Cristo ressuscitado na reunião do episcopado brasileiro iluminou o episcopado ajudando-o a reafirmar que “a CNBB é um dom precioso de seu amor por nós”. Ele enfatizou essa ideia: “Nós bendizemos a Deus pelo testemunho de comunhão, pela convivência fraterna, pelo diálogo respeitoso desses dias. Por isso, ao final dessa assembleia, podemos dizer de coração ‘Bendito seja Deus’ que aqui nos reuniu, que aqui nos reúne no amor de Cristo”.
FOTOS: Metropolia e CNBB