Ucranianos no Brasil

Os descendentes de ucranianos no Brasil constituem hoje uma comunidade de mais de 500 mil pessoas e estão localizados em sua maioria – cerca 80%, ou seja, acima de 400 mil – no Paraná e os demais principalmente ao norte de Santa Catarina, mas também no Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, Brasília, Minas Gerais e demais Estados. No Paraná a maior concentração de ucranianos encontra-se em Curitiba, com aprox. 55.000 pessoas (cerca de 3% da população local), mas o maior percentual local ocorre no Município de Prudentópolis, onde numa população de acima de 50 mil, os habitantes de origem ucraniana somam mais de 38 mil, ou seja, cerca de 75% da população local, seguido de Mallet, onde o percentual de descendentes de ucranianos gira em torno de 60%, Paulo Frontin – aprox. 55 %, Ivaí e Antônio Olinto – aprox. 45%, Rio Azul e Roncador – aprox. 30%, União da Vitória e Paula Freitas – aprox. 25%, Cruz Machado e Pitanga – aprox. 20%, Irati – aprox. 12%; em outras cidades o percentual é abaixo de 10%.

A organização civil e religiosa da comunidade ucraniana no Brasil é mutuamente integrada e interdependente.

Na organização civil destaca-se a Representação Central Ucraniano-Brasileira, que em sua forma atual foi constituída em 1985. Ela congrega e representa diante dos órgãos governamentais e entidades civis nacionais e estrangeiras as principais entidades constituídas na comunidade e suas organizações: Sociedade Ucraniana do Brasil, Sociedade dos Amigos da Cultura Ucraniana, Sociedade Unificação, Associação da Juventude Ucraíno-Brasileira, Igreja Ucraniana Católica no Brasil e Igreja Ortodoxa Ucraniana no Brasil.

A Igreja Ucraniana Católica no Brasil é a maior organização comunitária de cunho religioso e cultural entre os ucranianos no Brasil. Está presente aqui, junto aos ucranianos e seus descendentes, desde 1896. Atualmente a sua hierarquia é composta pelo bispo eparca e 2 bispos auxiliares. Sua estrutura é composta de 25 paróquias, 236 igrejas, com 21 padres diocesanos e 62 padres da Ordem de São Basílio Magno atuando no Brasil e 13 no exterior. Convém ressaltar a presença de um bispo emérito, bem como de outro, que hoje atua no exterior. A destacar também há 5 congregações religiosas femininas: Servas de Maria Imaculada, Irmãs Catequistas de Sant’Ana (congregação fundada no Brasil, em Vera Guarani, Município de Paulo Frontin, PR), Irmãs Basilianas, Irmãs de São José e Instituto Secular do Sagrado Coração (fundado no Brasil, em Prudentópolis, PR). Essas instituições possuem centenas de membros, atuando na pastoral junto às Igrejas (atendendo crianças, jovens e adultos em sua formação religiosa e cultural), bem como em escolas, particulares e públicas, como também na direção de hospitais, centros de saúde, orfanatos e casas de apoio aos idosos.

A Igreja Ortodoxa Ucraniana no Brasil, sob a jurisdição do Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, tem 1 arcebispo, 2 protopresbíteros mitrados e 8 padres, 4 subdiáconos, 18 igrejas e 2 padres atuando fora do Brasil.

Nas diversas comunidades locais atuam Grupos Folclóricos – atualmente 24, sendo os mais antigos o Barvinok (Curitiba-1930), Vesselka (Prudentópolis-1958), Kalena (União da Vitória/Porto União-1969), Poltava (Curitiba-1985) (Nota D. Volodemer: folder do 50° Festival Folclórico, 4-17.7.2011, diz: 13 de junho de 1981).

IMIGRAÇÃO DOS UCRANIANOS NO BRASIL

Num quadro organizado a partir do livro História do Paraná, de Balhana, Pinheiro Machado & Westphalen (Curitiba, Grafipar, 1969), constam duas colônias oficiais criadas em 1891: Colônia Santa Bárbara – no município de Palmeira, povoada por poloneses, ucranianos e italianos e Colônia Rio Claro – no atual Município de Mallet, colonizada por poloneses e ucranianos.

As informações documentadas que temos sobre os imigrantes ucranianos encaixam-se exatamente nessas datas:

Temos o testemunho pessoal de Ivan Pasevich, que em suas memórias – publicadas inicialmente no Jornal “Pracia” de Prudentópolis no dia 12/12/1951 – escreve que saiu da Ucrânia, da vila Serveriv, Município de Zolocziv, no mês de maio de 1891, junto com seus pais Teodoro e Sofia e mais três irmãos, ou sejam 6 pessoas, que se estabeleceram na Colônia Rio Claro. Informa também, que junto com eles chegaram ao Brasil, até Paranaguá, mais 3 famílias ucranianas.

Está documentada também a chegada de outras 6 famílias, num total de 32 pessoas, que em 1891 se estabeleceram na Colônia Santa Bárbara, no Município de Palmeira, PR, vindas também de aldeias da Ucrânia ocidental, da região de Zolocziv: Trostanetch Malyi, Kotliv. Alguns cognomes desses emigrantes: Harasym, Borchakowskyi, Stecz, Paschitchnyi, Moskalevskyi. Esse foi o começo, modesto, mas documentado. Por isso em 1991 comemoramos o Centenário do início da imigração ucraniana no Brasil e em 2011 comemoraremos os 120 anos.

Naturalmente o fluxo imigratório se intensificou nos anos seguintes e em 1895 tomou proporções muito grandes (fala-se na vinda de mais de 5 mil famílias) e continuou muito intenso até pelo menos 1911.

Houve também um modesto fluxo imigratório após a 1ª guerra mundial e outro após a 2ª guerra mundial.

Após a independência da Ucrânia (a partir de 1991) registra-se a vinda ao Brasil de algumas dezenas de ucranianos que aqui fixaram residência permanente. Trata-se – em sua maioria – de profissionais altamente qualificados, que aqui encontraram meios de vida estável. Outros, que aqui chegaram por razões diversas, obtiveram a permanência em virtude de casamento com brasileiros ou por anistia.

Há que se destacar a importante contribuição dos ucranianos na colonização e desenvolvimento da agricultura no centro-sul do Paraná e no centro-norte de Santa Catarina, no início do plantio de centeio e trigo e outros cereais, na implantação do sistema de cooperativas, enfim, no desbravamento e desenvolvimento dessa região. Dos filhos, netos e bisnetos dos valentes emigrantes formaram-se empresários, profissionais liberais como engenheiros, médicos, advogados, dentistas, e outros, como também professores, líderes comunitários, políticos, enfim cidadãos atuantes, que ajudaram em muito a promover o progresso da região sul e de todo o Brasil. Na cultura destacaram-se dois nomes – merecedores de todo o respeito e admiração: o pintor Miguel Bakun, nascido em Mallet, PR, filho de emigrantes ucranianos, conhecido pelas suas obras de arte como o ‘Van-Gogh’ do Paraná e cujo centenário de nascimento foi oficialmente comemorado no Estado do Paraná em 27/10/2009; e o outro nome ilustre é o da poetisa maior do Paraná, Helena Kolody, também filha de emigrantes ucranianos, nascida em Cruz Machado, PR em 12/10/1912, cuja obra poética é merecedora da mais alta admiração.

Por essas personalidades, e tantas outras, em sua maioria, anônimas, mas atuantes e merecedoras de admiração e reconhecimento, continua essa linda história de 120 anos, que engrandece os ucranianos e seus descendentes, nesse país que os acolheu, vindos de uma pátria distante, hoje livre e soberana.

Mariano Czaikowski
Cônsul Honorário da
Ucrânia em Paranaguá – PR