Congresso da juventude

Realizou-se em Guarapuava, nos dias 05 e 06 de maio de 2018, na Casa de Líderes Nossa Senhora de Guadalupe, pertencente à diocese de Guarapuava, o XLV Congresso da Juventude Ucraíno-Brasileira organizado pelo grupo de Jovens Assunção de Nossa Senhora (JANS) e pela Paróquia católica ucraniana Assunção de Nossa Senhora, tendo por tema “O desafio da inclusão do jovem na comunidade ucraíno-brasileira”, e por lema “Preservar as origens, a história, a cultura e a fé em um mundo de transformações”, reunindo cerca de oitenta jovens das diversas comunidades ucranianas existentes no Paraná, São Paulo e Santa Catarina.

O evento iniciou com um cerimonial bilíngue, compondo a mesa e fazendo seus pronunciamentos as seguintes autoridades presentes: Embaixador da Ucrânia no Brasil Rostyslav Tronenko; Arcebispo Metropolita Dom Volodemer Koubetch; Bispo Eparca Dom Meron Mazur; Presidente da Representação Ucraniana no Brasil Vitótio Sorotiuk; Superior Provincial Padre Antônio Royk Sobrinho, OSBM; Pároco da comunidade sediadora Padre Roberto Tarcísio Lucavei, OSBM; Presidente da Associação dos Jovens Ucranianos no Brasil Tatiane Michalichen; e Presidente da Comissão Organizadora Luis Fernando Pacholok. Além das saudações de cada um dos integrantes da mesa, foi transmitida aos jovens as felicitações do Vice-Ministro das Relações Exteriores da Ucrânia Vassyl Bodnar; e do Arcebispo-Maior da Igreja Greco-Católica Ucraniana Dom Sviatoslav Shevchuk.

Em sua carta de felicitação, o Arcebispo Maior parabeniza a Comissão Organizadora pela escolha do tema, o inclui no projeto geral da “Paróquia viva”, valoriza a presença jovem na Igreja e anima os congressistas para a ação. “Uma paróquia realmente viva jamais fará dificuldade à inclusão dos jovens nas pastorais, nos movimentos e atividades em prol da comunidade dos fiéis. Como Arcebispo Maior da Igreja Greco-Católica Ucraniana quero externar o meu desejo para que os jovens, bem incluídos na comunidade ucraíno-brasileira, assimilem valores que os formem como líderes honestos e capazes na administração de toda a sociedade”, escreveu do Sviatoslav. Concluiu: “Faço votos para que este Congresso contribua para a maior e mais profícua inclusão do jovem na vida da Igreja e da sociedade e para que todos nós aprendamos a preservar cada vez melhor as nossas origens, a história, a cultura e a fé em um mundo de transformações”.

Desfeita a mesa de honra, os participantes foram animados pelo Grupo Shalom – um grupo juvenil de oração da comunidade católica latina de Guarapuava, dançando, cantando e interagindo entre eles.

Na sequência, a palavra foi dada ao Professor Doutor Sérgio Vale da Paixão, responsável pelo tema “Juventude e as redes sociais: exposição e conflitos em foco”. O palestrante começou sua reflexão com o conto “Ideias do canário” de Machado de Assis, que nos faz pensar sobre como devemos evoluir constantemente em nossas visões de mundo. A partir dessa inspiração, ele deu início às suas provocações. Afirmou que somos construtores de cultura a todo momento. Segundo suas pesquisas, a geração nascida nos anos dois mil em diante é conhecida como “nativa digital”, ou seja, tem domínio sobre os eletrônicos; mas, se considerarmos que todos somos capazes de aprender a manipular as tecnologias, nos incluímos nessa categoria. Portanto, o uso das redes sociais não tem faixa etária limitada. Infelizmente, essas redes se tornam um espaço em que são veiculadas mentiras, falsidades e nas quais ocorrem difamações, sem possibilidade de controle. Mas é e deve ser um espaço de produção cultural. O que nós produzimos? O que necessitamos produzir culturalmente? Precisamos ser atuantes e para tal devemos contar com seis elementos: criatividade, afetividade, bom humor, silêncio, atitude e motivação. Para finalizar sua fala, o palestrante aconselhou a aprender lições das turbulências que aparecem, como o canário do conto inicial, para que possamos fazer a diferença e proporcionar o nosso melhor ao mundo e às futuras gerações. Deixou um incentivo: “eu não posso esperar que a minha motivação venha do outro … deve vir principalmente de mim”.

A próxima atividade proposta foi a palestra regida pela Professora Doutora Cecília Hauresko, abordando o tema “O desafio da inclusão do jovem na comunidade ucraniana, preservar as origens, a história, a cultura e a fé em um mundo de transformações”. Introduzindo o tema, ela afirmou que a capacidade do jovem em preservar suas tradições depende da forma como ele é incluso na sua comunidade. Porém, um dos obstáculos existentes é o universo “smartphônico”, ou seja, “ligação com o universo da tela do celular e desconexão da tela real”, levando ao desvio de foco dos jovens sobre a cultura e à desconfiguração familiar e comunitária, quebrando as relações humanas, que vão se tornando cada vez mais “líquidas e frágeis” (Zigmund Bauman). A felicidade vai se resumindo em consumir prazeres fáceis, aligeirados e superficiais; e aquilo que exige esforço é desafiador, causa aversão em muitos, mesmo sendo o que “sacia e satisfaz a alma”. Então, as relações se tornam frágeis e são rompidas por qualquer desentendimento ou adversidade. Além desse empecilho, contamos com os estereótipos das faixas etárias: crianças devem ficar com as crianças, adolescentes com adolescentes, jovens com jovens, adultos com adultos e idosos com idosos. Ela interpelou o público a superar esses estigmas, afinal todos temos algo a ensinar e algo a aprender; e para manter nossas raízes é necessário ter contato com quem as plantou. Dando fim ao debate, a palestrante deixou o conselho: “busquem, incluam-se, participem, vivam o mundo real!”

Logo após o almoço, outro momento de animação aconteceu.

Prosseguindo os trabalhos, os participantes foram divididos em três grupos que foram direcionados a diferentes salas para assistir a oficina escolhida no ato da inscrição, seguindo as seguintes opções: canto, dança e gastronomia.

Ministrada pela Irmã Celina Sloboda, SMI, a oficina de canto contou com um ambiente a luz de velas e perfumado com incenso. Ela falou sobre os cantos litúrgicos em geral e, na prática, ensinou o uso do diafragma durante o canto. A oficina de dança foi realizada pelo André Kupesca, que apresentou um breve relato da história da dança, sua simbologia e os passos tradicionais, exibindo vídeos e aplicando a prática também. Por último, e não menos importante, Josete Holochelski desenvolveu a oficina de gastronomia, interagindo e comentando sobre os pratos típicos que são feitos no Brasil e sobre os alimentos mais comuns na própria Ucrânia, encerrando com a degustação de vários pratos.

Após um intervalo, houve mais um momento de animação. O animador Davi Primak, vocacionado da comunidade Colo de Deus, reuniu a atenção de todos para o tema “Diálogo entre os jovens e a comunidade”. Com uma linguagem própria dos jovens, como a frase “você pode ser o ‘bichão’ e ser de Jesus também”, deu início ao seu testemunho de vida. Há alguns anos atrás, mesmo participando de um grupo de oração, cada vez mais ele fazia uso de drogas lícitas e ilícitas, tirando qualquer esperança dos seus conhecidos de que tivesse sucesso na carreira e agisse como mandam os Dez Mandamentos. Após vários retiros espirituais, finalmente ele teve contato verdadeiro com Jesus Cristo. Lembrou a história de Jó, que perdeu tudo o que tinha, menos sua fé. A presença numa igreja e participação em alguma celebração ainda não traz o autêntico conhecimento de Jesus. Afinal, apenas participando superficialmente das liturgias, sem as entender em seu real significado e sem praticar o que se é proposto, dificilmente se chega ao diferencial – o verdadeiro conhecimento da fé e a vivência cristã. Ter esse diferencial é quando há uma relação concreta entre a pessoa em questão e Deus.

Para encerrar o primeiro dia do congresso, foi realizada uma emocionante apresentação de canto pelo grupo Pivni Mrii (Sonhos do Sul), seguida de algumas “kolomeicas” para que os jovens pudessem confraternizar entre si.

Na manhã de domingo, dia 6, as atividades foram retomadas com a Divina Liturgia, presidida pelo Arcebispo Metropolita Dom Volodemer Koubetch e concelebrada pelo Superior Provincial Padre Antonio Royk Sobrinho, OSBM. Os cantos litúrgicos foram comandados pelo Ir. Jonas Chupel, OSBM e pelas Irmãs de São José. Tematizando a cura do cego de nascença (Jo 9,1-38), em sua homilia, Dom Volodemer falou sobre as diversas fragilidades da humanidade contemporânea, como, por exemplo, as inúmeras exclusões (milhões de desempregados) e as auto-exclusões (suicídios) e a necessidade de cura, que pode vir somente de Jesus, que fundou o Evangelho, a fé cristã, a Igreja, que, na sua essência, é inclusiva, por causa do amor.

Ao final da celebração, o Arcebispo Metropolita agradeceu pela organização do evento e animou os jovens congressistas para que, a partir dos estudos e reflexões do congresso, se chegue a uma atuação mais eficaz nas paróquias e comunidades. Insistiu para que, além das fases “pré” e realização, o congresso tenha um “pós”, ou seja, continuidade. Ainda fez um apelo para que a AJUB seja melhor estruturada e organizada, inclusive sugerindo para que volte a ter um endereço fixo, como foi no início de sua fundação, tendo escritório próprio no Clube Poltava de Curitiba. Dom Volodemer deu a palavra ao Embaixador Tronenko, que fez um discurso, pedindo para que estejamos sempre unidos com a Igreja e com as causas da Ucrânia, reforçando que os “jovens são o futuro hoje”, responsáveis por manter as tradições e a cultura viva.

Dando continuidade ao evento, o Professor Mestre Roberto Sene tratou sobre o tema “Decifrando o jovem ucraniano”. Para que sua palestra tivesse clareza, ele retomou as características das gerações desde o pós-guerra até chegar na mais recente, que traz fortes traços de autonomia e vitimismo, exemplificando na frase “como que você quer o bônus sem ter o ônus?” Todos nós somos atores sociais, em primeiro lugar na família e em segundo, na escola, trabalho, comunidade. Agimos de forma a não ser contrariados: “tudo coopera para aqueles que amam a mim”, ou seja, sentimos facilidade na convivência com as pessoas que têm o mesmo pensamento que o nosso. Fazendo uma análise dos jovens, Roberto encontrou quatro perfis: o “superman”, que surge sempre preocupado com os outros, mas que são apenas suas fontes de fofoca; o deprimido, que cria desgraças em sua vida para ter atenção; o elevador, que está sempre apoiando a todos; e o reclamão, que só sabe reclamar e não aceita as conquistas alheias. Com base nisso, ele incentiva a autoanálise e esforço pessoal para melhorar. A cada cobrança que surge, nosso condicionamento mental sofre alterações (em muitos casos se torna depressão), seja ela feita por nós ou pelos outros; por isso, devemos praticar a empatia e descobrir o que podemos desenvolver na sociedade – para os outros. Ele afirmou que 90% dos acontecimentos da nossa vida somos nós que escolhemos e apenas 10% pertence ao acaso. Encerrando sua reflexão, o palestrante deixou uma dica: quando aceitamos que vivemos com os outros, passamos a viver melhor.

O presidente do congresso Luis Fernando Pacholok teve a palavra para agradecer aos presentes e a quem contribuiu para a realização do evento. Após os recados finais e as consultas sobre o próximo congresso, ficou decidido que o próximo Congresso da Juventude Ucraniano Brasileira será em Barra Vermelha – Prudentópolis – Paraná.

Texto: Secretariados: Congresso e Metropolia

Fotos: www.eluirribeiro.com.br