INTRODUÇÃO À LITURGIA
De origem grega, o termo “liturgia” é formado pelas raízes leit de laós, povo e urghía, trabalho, ofício, e significa serviço ou trabalho público. Por extensão, passou a significar também o ofício religioso, pois desde a antiguidade greco-romana até os dias atuais tem um carácter eminentemente público.
Liturgia é o culto público de uma comunidade cristã, vivido nos diversos sacramentos e celebrações. É um conjunto de gestos, palavras, sinais, símbolos, recebidos pelas diversas Igrejas cristãs, constituindo a celebração litúrgica (M. Nin – DEOC). C. Vagaggini a define como um “conjunto de sinais sensíveis e eficazes de santificação e de culto da Igreja” (in DTR). É também definida como “culto santificante da Igreja”. É a oração oficial da Igreja, isto é, o conjunto de celebrações estabelecidas por ela para o culto comunitário. Seu centro e ápice é a celebração da eucaristia (DTR).
A liturgia foi se desenvolvendo através dos séculos tomando formas estreitamente ligadas aos diversos ambientes culturais; ela reflete, de fato, o ambiente cultural, teológico e também étnico das diversas comunidades cristãs. A liturgia manifesta e celebra, portanto, a fé de cada Igreja cristã. Neste sentido, as liturgias das Igrejas do Oriente são frequentemente chamadas “ritos”, denominação válida, se faz referência ao conjunto teológico, litúrgico, espiritual e cultural vivido em uma Igreja específica e concreta. Assim, falamos de rito bizantino, sírio, armênio como realidade teológico-litúrgico-cultural de uma Igreja. A liturgia das Igrejas orientais reflete a concepção teológica de cada uma delas. Através da liturgia os cristãos orientais reconhecem e experimentam a sua pertença a uma Igreja. Consequentemente, a liturgia é considerada como fonte e expressão da teologia de uma Igreja e, nela e por meio dela – da liturgia, é preservada a identidade e a continuidade de cada Igreja.
A celebração litúrgica é um momento essencialmente eclesial: o Espírito Santo dá a vida aos homens constituindo-os Corpo de Cristo. Na celebração litúrgica, cada Igreja vive a fé, a esperança e a caridade, tornando-se plenamente Corpo de Cristo. O mistério de Cristo não pode tomar corpo em nós a não ser no seu Corpo que é a Igreja. Lá onde a Igreja celebra a liturgia, aí se encontra o Espírito do Corpo de Cristo.
Para as Igrejas do Oriente a liturgia é fonte, alma, centro de toda a sua vida de fé, de toda a sua vida de comunidade reunida pelo Espírito, no caminho para o Senhor. Na liturgia, estas comunidades são penetradas e conduzidas pelo Espírito e a partir de sua vida litúrgica procuram dar resposta a esta ação do Espírito. Para penetrar até o fundo da vida espiritual de qualquer Igreja é necessário aprofundar a sua vida litúrgica, pois é na liturgia que se reflete a vida de fé de uma Igreja. É através das fórmulas litúrgicas que é verificada a confissão de fé de uma Igreja.
É na liturgia, ainda, que é refletida a vida de comunhão interna e externa de uma Igreja: na liturgia, o crente é inserido na comunidade, na tradição da própria Igreja e na comunhão com as outras Igrejas; na liturgia, o crente experimenta ser interiormente e exteriormente parte de um mistério de vida.
As diversas tradições orientais têm pontos e aspectos que as diversificam, tornando-as diferentes entre si, mas têm sobretudo uma coisa em comum: a celebração litúrgica – liturgia eucarística ou liturgia das horas – é o lugar onde se reúne, é vivida, celebrada, proclamada e cantada a fé da Igreja; a liturgia, de um modo poético-simbólico, contém toda a fé da Igreja (M. Nin – DEOC).
Liturgia são os sacramentos, a liturgia das horas, as bênçãos, etc. É “ação sagrada por excelência”; o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, é a fonte donde emana a sua força” (Vaticano II, SC, 7 e 10).
São recomendados ainda os exercícios de piedade privados, mas devem estar em harmonia com a liturgia, que, “por sua natureza, em muito os supera” (Vaticano II, SC, 13). Esta superioridade está na maior segurança da presença de Cristo, garantida pela correção doutrinal e pelo espírito comunitário, isto é, de caridade, que a impregna desde sua raiz (DTR).