Bispos católicos ucranianos reunidos em Zarvanytsia

Entre os dias 02 a 12 de julho de 2024, em Zarvanytsia, oblatsh-província de Ternopil, Ucrânia, realizou-se o grande Sínodo dos Bispos da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Zarvanytsia é um belíssimo e muito bem organizado centro mariano com um enorme complexo, tendo como centro o Santuário Nossa Senhora de Zarvanytsia. Estavam presentes 50 Bispos vindos da Ucrânia, Europa Ocidental, Estados Unidos, Canadá, Brasil, Argentina e também Bispos convidados de outros países.

O Sínodo foi definido como “único e exclusivo”, porque aconteceu pela primeira vez em terras ucranianas após a invasão russa em grande escala ao país. Apesar da forte segurança oferecida pelo exército ucraniano, os Bispos estavam ariscando suas próprias vidas. Porém, com a sua corajosa e amável presença, os Bispos demonstraram seu amor, proximidade e solidariedade com o heroico e sofrido povo ucraniano, um povo de mártires, constituindo um sinal de esperança na aspiração por uma paz justa e duradoura, conforme os princípios cristãos-evangélicos e as normas internacionais respeitadas pelos países civilizados.

O presente relatório consta de cinco partes: 1) Abertura, 2) Espiritualidade, 3) Temática, 4) Comunicados, 5) Encerramento. Na parte final da terceira parte, sobre a temática, foi colocado em destaque os subtemas que tocam diretamente a nossa Metropolia, em parte tratados durante as sessões sinodais e em parte em caráter de consultas aos especialistas. Na quarta parte, sobre os comunicados, encontram-se traduzidas as resoluções que a Metropolia precisa considerar em sua missão evangelizadora.

1. Abertura

A abertura do Sínodo se deu no Santuário Nossa Senhora de Zarvanytsia, no dia 1 de julho de 2024, às 18 horas, horário de Kiev, com a Novena ao Espírito Santo e o juramento dos seus membros e dos assessores. Após esse ritual inicial, o Evangelho e a vela foram levados em procissão até a sala das sessões sinodais, situada num prédio de hospedagem e de eventos.

No dia seguinte, foi celebrada a Divina Liturgia no santuário. Ao final, o Secretário do Sínodo Dom Andrij Khymiak leu o decreto de convocação do Sínodo e o Arcebispo Maior Dom Sviatoslav Shevchuk declarou aberto o Sínodo anual dos Bispos da Igreja Greco-Católica Ucraniana de 2024.

Estando todos reunidos na sala sinodal, após ter verificado as formalidades, o Arcebispo Maior cumprimentou os convidados especiais:  Visvaldas Kulbokas – Núncio Apostólico na Ucrânia; Arcebispo Dom Thimoty Broglio – representante do Episcopado dos Estados Unidos; Dom Herman Hletter – Eparca da Diocese de Insbruck da Conferência episcopal da Áustria; Dom Nil Lustchak – Administrador Apostólico da Eparquia Greco-Católica de Mukatchiv; Pe. Teodor Matsapula – nomeado Eparca de Mukatchiv; Pe. Vasyl Hovera – Administrador Apostólico dos fiéis de Rito Bizantino no Cazaquistão e Ásia Central; Pe. Yurij Kolassa – Vigário Geral dos fiéis das Igrejas Católicas Orientais da Áustria e o Monsenhor Iosef Marampeddi da Nunciatura Apostólica na Ucrânia. Foi dada a palavra ao Núncio Apostólico, a Dom Thimoty e a Dom Herman.

O Núncio Apostólico fez um longo comentário sobre o tema do Sínodo deste ano: “Ser mensageiros da esperança: evangelização em contexto de guerra”. Suas análises, informações, ideias e sugestões sobre a evangelização foram organizadas em sete pontos: 1) Evangelização dos prisioneiros civis e militares; 2) Evangelização de ex-prisioneiros e ex-militares e suas famílias; 3) Evangelização de crianças repatriadas da Federação Russa; 4) Evangelização nos territórios ocupados; 5) Evangelização nas fileiras militares; 6) Evangelização nas eparquias; 7) Evangelização fora das fronteiras da Ucrânia. Dom Visvaldas destacou os inúmeros esforços da Santa Sé em fazer o que é possível nessa gravíssima situação bélica, na qual tanta ajuda prestada é pouca diante das enormes necessidades de todo o tipo, desde a alimentação até a cura dos traumas psicológicos. Em cada aspecto da evangelização, ele sustenta a ideia de que a missão da Igreja é evangelizar em qualquer contexto e situação humana, e concluiu: “a missão da Igreja consiste em demonstrar que a Igreja na Ucrânia está concentrada na oração, na pastoral, e concretamente na pastoral da família. Então, ela não é nem secularizada, nem politizada, mas focada na missão pastoral, isto é, no Evangelho”. Tudo deve convergir para que prevaleça a verdade sobre a Ucrânia e renovação espiritual da sociedade ucraniana.

O representante do Episcopado americano Dom Thimoty compartilhou suas impressões em sua recente visita a Kharkiv e nos encontros com as pessoas dos diversos cantos da Ucrânia. “Eu senti a enorme resistência do povo ucraniano às forças do mal, que o agressor trouxe à vossa terra. Ao mesmo tempo, pude verificar a força da esperança, que anima o vosso povo”, enfatizou ele. O Arcebispo confirmou que entre seus colegas existe um posicionamento consolidado de apoio contínuo à Ucrânia e disse que levará a “mensagem de esperança” para a sociedade estadunidense.

Dom Herman Hletter, verbalizou a solidariedade do episcopado e do povo austríaco aos ucranianos que padecem os horrores da guerra e disse que essa guerra injustificada e predatória da Rússia contra a Ucrânia deve ser imediatamente interrompida. “Nestes dias, partilhamos convosco todas as lágrimas face às inúmeras perdas, sofrimentos e feridas que a guerra inflige ao vosso povo. Mas também queremos partilhar convosco a certeza de que a calamidade e o sofrimento, que levam muitos à exaustão, não são o ponto final desta história. Deus se importa”, disse Dom Herman. Ele afirmou ainda que a Conferência dos Bispos da Áustria, juntamente com a Cáritas, prestará auxílio à Cáritas da Ucrânia, principalmente ao setor que atua no front da guerra.     

2. Espiritualidade

A dinâmica do Sínodo foi de muito trabalho e grande preocupação diante da dramática realidade da Ucrânia por conta da agressão russa, mas foi profundamente permeada pela espiritualidade, enriquecida pela convivência, num clima de fraternidade episcopal. Destacam-se aqui a convivência, o retiro espiritual, a visita à casa da família do Patriarca Yosif Slipyj e as celebrações.

2.1. Convivência

Os 10 dias sinodais foram uma oportunidade anual muito especial para os Bispos se conhecerem, trocarem ideias e experiências, treinando a sinodalidade na prática, haja vista a diversidade sociocultural em que eles vivem e atuam.

No primeiro dia dos trabalhos sinodais, o Arcebispo Metropolita Dom Vasyl Semeniuk e seus dois auxiliares Dom Teodor Martynhuk e Dom Volodemer Firman chegaram ao quarto de Dom Volodemer e o presentearam solenemente, entregando-lhe o “clobuk” branco, usado pelos arcebispos metropolitas. O Metropolita Vasyl proferiu umas palavras de acolhida e os três cantaram “Mnohaia lita”.

2.2. Retiro

O segundo dia do Sínodo foi dedicado para o retiro espiritual. Foram duas colocações proferidas pelo Cardeal Dom Grzegorz Rys – Arcebispo Metropolita de Łódź, Polônia. Ele desenvolveu o tema sobre o querigma, como essência da evangelização e da vida pastoral. “Toda a formação cristã é, antes de tudo, aprofundamento do querigma” (EG 165).

2.3. Visita à casa da Família do Patriarca Yosif Slipyj

No dia 10 de julho, o Arcebispo Maior Dom Sviatoslav, juntamente com os Bispos, visitou a casa da família do Patriarca Yosif Slipyj, situada na aldeia Zazdristh, região de Ternopil. Os Bispos visitaram o círculo familiar e o museu. A visita aconteceu no 40º aniversário da morte do Servo de Deus Yosif Slipyj, falecido em 7 de setembro de 1984, em Roma.

Sua Beatitude Sviatoslav realizou uma cerimônia fúnebre pelo repouso do seu antecessor na Capela da Apresentação do Manto da Imaculada Virgem Maria, que se encontra no museu. A oração foi acompanhada por cantos dos Seminaristas do Seminário Teológico Superior de Ternopil.

A Sra. Danuta Ivankovich, chefe da Representação da Sociedade de Santa Sofia, EUA, na Ucrânia, cumprimentou os Bispos cegos e contou-lhes sobre a infância de Yosif Slipyj em sua aldeia natal, seus estudos na escola e seu desejo pela atividade científica. Ela enfatizou o momento do nascimento da vocação ao sacerdócio do pequeno Yosif e da comunicação com o Metropolita Andrey Sheptytskyj.

Dona Danuta conduziu os bispos pelos arredores, contando sobre as circunstâncias de vida da família dos Slipyj naquela época.

Durante o jantar de confraternização, o Metropolita de Filadélfia, EUA, Dom Borys Gudziak, Dom Hlyb Lonchyna – Administrador Apostólico da Eparquia da França e o Pe. Andrij Onuferko – Assessor do Sínodo partilharam suas memórias de convivência com o Patriarca Yosif em Roma após a sua libertação dos campos stalinistas. É importante notar que foi o Patriarca Yosif quem ordenou o Bispo Hlyb como sacerdote em 3 de julho de 1977 no mosteiro de São Teodoro Estudita, em Grottaferrata, perto de Roma.

No final da visita, Sua Beatitude Sviatoslav agradeceu à Sra. Danuta pela sua “missão de abrir as portas da casa do Patriarca Yosif para as gerações futuras”.

2.4. Celebrações

Todos os dias, na parte da manhã, foi celebrada a Divina Liturgia e a Hora Sexta e, na parte da tarde, as Vésperas. A cantoria ficou por conta dos Seminaristas de Ternopil, cantando em quatro vozes. Afinadíssimos. Belíssimas vozes.

Para fazer as pregações durante a celebração da Divina Liturgia, após a proclamação do Evangelho, foi convidado o Pe. Roman Terletsky. Suas homilias foram centralizadas no tema do amor divino, como Deus nos ama e como nós devemos corresponder.

No domingo, dia 7 de julho, a maior parte dos Bispos foi celebrar nas paróquias da região-oblast de Ternopil. Alguns Bispos foram celebrar em suas próprias catedrais.

Também no mesmo domingo, foi celebrada a Divina Liturgia campal com a presença de numerosas catequistas, que vieram de todas as regiões da Ucrânia para participar da peregrinação de catequistas. Como foi na conferência do ano passado, por iniciativa do Arcebispo Maior, os melhores catequistas foram reconhecidos. Este ano, tal premiação aconteceu durante a peregrinação de catequistas de todas as eparquias ao Centro Espiritual Mariano de Zarvanytsia para a qual o Chefe da IGCU convidou todos os catequistas a participar. Entre outras catequistas, Ir. Luíza Ciupa, SMI, proveniente da Província brasileira das Irmãs Servas de Maria Imaculada, que por muitos anos esteve à frente da Comissão Patriarcal de Catequese, uma das principais responsáveis pelo Catecismo “Cristo – nossa Páscoa”, foi especialmente homenageada.

3. Temática

A temática tratada durante o Sínodo foi muito ampla e diversificada, abordando todas as dimensões e aspectos da vida da nossa Igreja Católica Ucraniana espalhada pelo mundo, o que a faz ser “uma Igreja global”. O conteúdo temático está organizado nos seguintes pontos: contexto, tema principal, temas diversos, temas específicos da nossa Metropolia.

3.1. Contexto

 O contexto social e eclesial, dentro de uma situação ainda mais ampla da geopolítica, foi apresentado por sua Beatitude Dom Sviatoslav. A palestra foi proferida logo no início do Sínodo, servindo como uma análise minuciosa da realidade atual de crise e desafios diante da qual é necessário ter uma compreensão e buscar respostas e soluções. O Arcebispo Maior fez sua explanação em quatro blocos: 1 – Desafios da guerra; 2 – Problemas da mobilização; 3 – Relação da IGCU com a Santa Sé; 4 – Prognóstico das autoridades civis e da sociedade para o próximo ano. Ele destacou a trágica influência da prolongada guerra sobre as famílias, sobretudo as mais vulneráveis, e fez um apelo aos Bispos para que continuem em seus esforços consolidados de apoio ao povo ucraniano tanto na esfera pastoral quanto na esfera humanitária.

3.2. Tema principal

O tema principal do Sínodo deste ano foi: “Ser mensageiros da esperança: evangelização em contexto de guerra”. O responsável pelo desenvolvimento do tema foi Dom Josafat Mostchytch, Presidente da Comissão Patriarcal sobre a Evangelização.

Esse tema, já abordado nas duas colocações durante o retiro espiritual, foi apresentado pelo Cardeal Grzegorz Rys. Em base a narrativas evangélicas, ele explicou em detalhes os elementos fundamentais do querigma, suas consequências na vida dos pregadores, catequistas e demais agentes de pastoral e na função dos leigos em sua missão evangelizadora na Igreja. Sua exposição foi enriquecida pelas suas experiências pastorais.

O tema foi aprofundado pelos seguintes palestrantes: Dom Ihor Icitchenko – Arcebispo emérito, que falou sobre o “Contexto antropológico-cultural da evangelização no leste da Ucrânia”; Pe. Roman Dubyk relatou sobre a “Problemática dа abordagem mágica da fé, tradição e rito”; Dom Josafat Mostchytch abordou a questão da “Atual situação da evangelização na IGCU, a função das comunidades, escolas e movimentos, prevendo as perspectivas e desafios”, e concluiu colocando o seguinte critério: “A função dos movimentos eclesiais, escolas e comunidades consiste em trazer as pessoas a Cristo e, de forma alguma, apropriar-se delas, mas enraizá-las e integrá-las profundamente na comunidade paroquial da Igreja”.

Nos estudos em grupos, o tema ganhou vasta concretude, colhendo-se opiniões e sugestões dos Bispos de todas as partes do planeta. Uma realidade rica e diversificada, difícil de ser sintetizada.

Concluindo as reflexões e deliberações práticas a respeito do tema central, foram traçadas linhas de ação pastoral, traduzidas numa longa lista de resoluções sinodais, visando uma evangelização renovada em nível eclesial e universal de toda a Igreja e nos níveis pessoal-individual, familiar, comunitário, paroquial e eparquial.

3.3. Temas diversos

 Faz parte da temática anual dos sínodos apresentar os relatórios sobre as atividades das diversas comissões e também das instituições ligadas à nossa Igreja Católica Ucraniana: Questões administrativas, financeiras e econômicas; Sínodo dos Bispos em Roma – segunda etapa; Jubileu 2025; Redação do Direito Canônico particular da IGCU – estará pronto no próximo ano; Formação de diplomatas eclesiásticos; Estatuto dos Bispos eméritos; Premiação Beato Padre Omelhan Kovtch a sacerdotes exemplares; Processo de beatificação do Metropolita Andrij Sheptytskij e outros; Enfrentamento do alcoolismo entre o Clero; Capelania militar; Relação IGCU e governo ucraniano; Conselho pastoral central; Administração eparquial – modelo Eparquia de Chicago; Pastoral da Juventude; Pastoral da Ação Social; Cáritas Ucrânia; Mudra Sprava; Atuação da Universidade Católica Ucraniana; Cura das feridas em decorrência da guerra de agressão russa; Pastoral da Liturgia – edição de textos litúrgicos; Pastoral da Família.

 3.4. Temas específicos da nossa Metropolia

Considerou-se oportuno destacar os pontos significativos para a Metropolia tratados durante o Sínodo durante as sessões e em momentos de consultas e diálogo: aquisição dos novos служебники-missais; assessoria canônica; Metropolia e instituições de solidariedade social; integração das Igrejas Católicas Orientais na CNBB; Relação da Universalidade Católica Ucraniana com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

3.4.1. Aquisição dos novos служебники-missais

Em consonância com a Eparquia de Prudentópolis, e como a Cúria de Kiev não enviou os missais encomendados pela Metropolia, esta cancelou o pedido. Note-se que a importação em geral é um procedimento complicado e os custos do transporte são muito elevados.

Com a permissão da Comissão de Liturgia do Arcebispado Maior e, considerados os direitos autorais da Ordem Basiliana de São Josafat e da Gráfica Missioner de Lviv, os nossos missais serão impressos pela Gráfica Prudentópolis, administrada pelos Padres Basilianos.

3.4.2. Assessoria canônica

O Metropolita Dom Volodemer apresentou aos canonistas Pe. Vitaliy Tokar e Pe. Anibal Soutus a carta do Vigário Judicial Pe. Neomir Doopiat Gasperin do dia 27 de maio de 2024, número de protocolo 2024-218, em que apresenta algumas dificuldades técnicas relacionadas ao Tribunal Intereparquial: distâncias, dificuldade de comunicação pelos meios convencionais exigidos pela Assinatura Apostólica. O Vigário Judicial fez, então, o pedido: “Sugerimos e solicitamos as autoridades eclesiásticas competentes da nossa Igreja Greco-Católica Ucraniana, ou seja, ao Sínodo dos Bispos, que avaliem as nossas dificuldades e, talvez no Direito particular da Igreja Greco Católica Ucraniana ou nos Diretórios eparquiais, se autorizasse os Metropolitas e Eparcas a legislarem sobre o assunto, cada um segundo as suas necessidades e demandas”. Mas a solução proposta não é possível, porque a questão é uma prerrogativa exclusiva da Assinatura Apostólica, que trabalha num sistema de unificação dos procedimentos e de maior controle.

Ambos os canonistas se prontificaram a auxiliar o nosso Tribunal por videoconferência e outros meios eletrônicos. O Pe. Anibal assessora a criação do Tribunal do Exarcado da Itália e tem os mesmos problemas que o nosso Tribunal Intereparquial. Também ele não recebeu autorização da Assinatura Apostólica para usar os meios eletrônicos. Para o Tribunal da Metropolia, é melhor consultar o Pe. Anibal Soutus, argentino, que fala espanhol e italiano, e disse que pode ler textos em português.

3.4.3. Metropolia e instituições de solidariedade social

Por ter realizado uma doação bastante significativa em dólares no ano passado (2023), que foi a Campanha da Fraternidade repassada integralmente à instituição Mudra Sprava da Cúria Arcebispal de Kiev, a Metropolia é considerada parceira-benfeitora dessa instituição. Esta tem como meta não somente a ajuda emergencial aos necessitados, principalmente aos que padecem as carências decorrentes da agressão russa, mas sobretudo a transformação das famílias e comunidades.

Resta agora, o quanto possível, dar continuidade às doações. Para que isso seja possível, é necessário ter um programa metropolitano, incluindo a criação da Pastoral da Ação Social. É necessário ainda desenvolver entre o Clero e entre os fiéis o senso de solidariedade social planejada e organizada.  

3.4.4. Integração das Igrejas Católicas Orientais na CNBB

Por ocasião da atualização dos Estatutos da CNBB (2022-2023), o Metropolita solicitou para que fosse dada uma atenção formal às Igrejas Católicas Orientais presentes no Brasil, considerando sua identidade própria e missão específica no âmbito da instituição: Igreja Ucraniana, Igreja Melquita, Igreja Maronita e Igreja Armênia.

Considerando que, além de serem membros efetivos da CNBB, é possível aos Bispos orientais terem uma identificação e missão mais específica na conferência, visando maior sinodalidade – conceito central do Sínodo em andamento, Dom Volodemer apresentou a questão ao Sínodo da IGCU, sugerindo que seja abordada em Roma, na segunda sessão do Sínodo dos Bispos em outubro 2024. A sugestão foi prontamente acatada por Sua Beatitude Sviatoslav.

3.4.5. Relação da Universalidade Católica Ucraniana com a Pontifícia Universidade Católica do Paraná

A Universidade Católica Ucraniana de Lviv se apresentou como profundamente ligada à Igreja Católica, especialmente obediente ao Arcebispo Maior, respeitando os valores cristãos relacionados à vida e à família. Ela também possui um direcionamento global, no esforço de interagir com outras instituições de ensino, também fora da Ucrânia. “Se a Igreja Greco-Católica Ucraniana é global, nossa Universidade também deve ser global”, afirmou o Reitor Sr. Taras Dobko.

Dom Volodemer reconheceu a linha de defesa da moral cristã-católica da Universidade e perguntou sobre os meios pelos quais é alcançada tal meta e sobre a possibilidade de maior cooperação entre a UCU-LVIV e a PUC-PR, considerando o fato de que atualmente um paroquiano da Arquicatedral é professor e um dos integrantes da administração da universidade de Curitiba. O Metropolita espera que tal integração trará muitos benefícios para ambas as instituições e para a nossa Igreja.

Taras respondeu que, para alcançar a meta de maior moralidade católica, a UCU-LVIV age em duas frentes: com os professores e com os alunos, sempre apontando para o bem comum e para os valores em geral, por meio de muito diálogo. Sobre a cooperação, ele disse que já foram realizados contatos no passado e que, certamente, com novos e motivados esforços, com metas definidas, a parceria poderá ser altamente produtiva.

4. Comunicados

A comunicação ad extra – para fora sempre foram levadas na devida conta por ocasião da realização do Sínodo dos Bispos da Igreja Greco-Católica Ucraniana. Assim, são muitas as cartas enviadas às autoridades civis e eclesiásticas. Por ocasião do término do Sínodo, sempre é emitido um comunicado geral, resumindo os trabalhos realizados e as linhas principais de ação a serem adotadas pelas eparquias. Enfim, a comunicação mais importante para os Bispos são as resoluções pelas quais são eles os primeiros responsáveis.

 4.1. Cartas às principais autoridades

Com o trabalho do Pe. Andrij Onuferko, foram elaboradas e endereçadas cartas para várias autoridades civis e eclesiásticas: Papa Francisco, Patriarca Bartolomeu, Patriarcas Arcebispos das Igrejas Católicas Orientais, Conferências dos Bispos da Europa, Estados Unidos, Canadá, Argentina, Austrália e Brasil, Igreja Anglicana, Igreja Grega da Grã-Bretanha, Igreja Assíria e Igrejas Calcedônias do Oriente Médio, Conferência dos Bispos Latinos da Ucrânia, Autoridades das Igrejas Ortodoxas da Ucrânia, Presidente da Ucrânia, Presidente da “Verkhovna Rada“ da Ucrânia, Primeiro Ministro da Ucrânia, Ministro da Defesa da Ucrânia, Chefe do Exército da Ucrânia, Bispos Eméritos que não puderam vir para o Sínodo.

O tom das cartas, de um lado, é a dor do episcopado da Igreja Católica Ucraniana diante das barbáries cometidas pelo agressor russo e do indescritível sofrimento do povo ucraniano; e do outro, é a fé e esperança de que o mal será vencido. “Somos sustentados pela nossa fé em um Deus amoroso que governa a história e pelo apoio das pessoas de boa vontade em todo o mundo” (carta ao Papa). Na maior parte das cartas, transparece ainda um tom de denúncia profética diante da gravíssima distorção da fé cristã na ideologia do “mundo russo” (русский мір), endossada pelo Patriarca de Moscou. Sua retórica da “guerra santa” é bem mais próxima do islamismo fundamentalista do que da fé cristã; na verdade, é uma caricatura do Evangelho.

4.2. Resoluções

Elemento fundamental e resultado final do Sínodo, são as decisões e resoluções concretas, endereçadas principalmente aos Bispos, pelas quais deverão ser colocadas em prática os propósitos pastorais e administrativos. Foram aprovadas 52 resoluções (protocolo metropolitano nº 2024-231). Aqui, encontram-se traduzidas as resoluções que tocam mais diretamente a nossa Metropolia. Para algumas resoluções foram colocadas observações com o objetivo de adaptá-las à nossa realidade ucraniano-brasileira.

19. Solicitar ao Santo Padre para que conceda o privilégio da indulgência plenária das portas abertas nas catedrais e locais de peregrinação da IGCU por ocasião do Jubileu 2025.

23. Fazer as mudanças necessárias nos Estatutos do Fundo de Solidariedade Presbiteral da IGCU.

24. Elevar o título “Serviço social” ao nível de estrutura do Código de Cânones da IGCU.

29. Para a realização da MISSÃO EVANGELIZADORA DA IGREJA GRECO-CATÓLICA UCRANIANA

I. NÍVEL DA IGREJA EM GERAL

A. Animar os fiéis da IGCU

1) Na esfera familiar, transmitir a fé e dar testemunho de vida cristã.

2) Conforme a resolução 7, Г, 3 do Sínodo dos Bispos de 2015 e a resolução 6, В, 3 do Sínodo dos Bispos de 2018: ler diariamente a Palavra de Deus (por exemplo, o Evangelho do dia).

3) Cultivar a prática da oração comum em família.

4) …

B… C… D… E …: são determinações para as comissões do Arcebispado Maior.

II. NÍVEL DA METROPOLIA

Em colaboração com a Comissão patriarcal sobre a evangelização, solicitar aos metropolitas para que organizem no território de suas metropolias cursos intereparquiais para (comunidades e escolas) os responsáveis pela evangelização.

Observação: na Metropolia, todos os movimentos e pastorais são responsáveis pela evangelização, mas os principais responsáveis são os catequistas.

III. NÍVEL DA EPARQUIA

A. Solicitar aos eparcas:

1) Criar nas eparquias, onde ainda não existe, a comissão sobre evangelização.

Observação: sendo complicado multiplicar comissões em nosso meio, essa função será dada para o Conselho Pastoral.

2) Introduzir na formação permanente do Clero um curso especial de proclamação do querigma segundo o programa da Comissão patriarcal sobre a evangelização.

3) Orientar para que o retiro anual do Clero tenha uma dimensão querigmática.

4) Cultivar a sadia devoção popular por meio de vigílias de oração, romarias, canto religioso, explicação dos ícones para um conhecimento mais profundo da nossa espiritualidade.

5) Colocar nos estatutos da eparquia as normas para as organizações leigas e das escolas de evangelização, providenciando o devido acompanhamento.

Observação: na Metropolia, propor, animar e orientar para que todos os agentes de pastoral sejam evangelizadores.

B. Delegar aos responsáveis pelas Comissões eparquiais sobre a evangelização para que engajem leigos devidamente preparados nos projetos evangelizadores da eparquia.

Observação: na Metropolia, os leigos normalmente preparados para a evangelização são principalmente os catequistas.

C. Delegar aos reitores dos seminários para que introduzam na disciplina de homilética um capítulo sobre a homilia querigmática e providenciar um expositor que tenha experiência na proclamação do Evangelho.

Observação: na Metropolia, isso poderá ser feito num encontro de formação permanente do Clero.

D. Delegar aos presbíteros:

1) No contexto das celebrações do Jubileu 2025, aproveitar cada oportunidade para proclamar o Evangelho.

2) Em conformidade com a resolução 7, Г, 1 do Sínodo dos Bispos de 2015, proferir uma breve homilia querigmática na igreja a partir dos textos do Evangelho e Epístola, que são proclamados na Divina Liturgia.

3) Regularmente fazer a leitura orante da Bíblia na comunidade paroquial.

4) Iniciar todas as reuniões e encontros dos grupos com a leitura da Sagrada Escritura com um breve comentário.

5) Conforme a resolução 7, Д, 3 do Sínodo dos Bispos de 2012, regularmente explicar aos fiéis as celebrações litúrgicas, ritos e tradições em chave de evangelização e em base aos materiais disponibilizados pela Comissão patriarcal de Liturgia.

6) Conforme a resolução 7, Г, 1 do Sínodo dos Bispos de 2012, durante a administração dos Santos Sacramentos, celebrações paralitúrgicas, bençãos, inaugurações, evangelizar e proclamar a Palavra de Deus.

7) Incentivar as comunidades paroquiais e criar novas, se necessário, para o trabalho de admissão e acompanhamento de pessoas recém evangelizadas e convertidas, visando seu crescimento na fé; providenciar a formação dos animadores dessas comunidades e encaminhá-los para o contato com a Comissão eparquial sobre evangelização.

8) Incentivar os fiéis e criar novas comunidades paroquiais para a oração pelos pregadores do Evangelho e pelo desenvolvimento da missão evangelizadora da nossa Igreja.

9) Organizar retiros querigmáticos paroquiais anuais e missões, convidando pessoas que tenham experiência na proclamação do Evangelho.

10) Evangelizar por meio de ações caritativas, oferecendo ajuda aos necessitados.

49. Realizar o Sínodo dos Bispos da IGCU entre 30 de junho a 10 de julho de 2025 em Roma.

50. Determinar como tema principal do Sínodo dos Bispos da IGCU em 2025: “Pastoral da família no contexto de guerra”.

5. Encerramento

Como ato formal-oficial, o Sínodo foi encerrado dia 12, sábado, realizando a última sessão e, após a pausa, reunindo na sala de reuniões todos os assessores e funcionários, incluindo o pessoal da alimentação a fim de receberem os devidos reconhecimentos pelos serviços prestados. O Pe. Andrij Onuferko recebeu uma homenagem e condecoração especial da parte do Arcebispo Maior Sviatoslav, concedendo-lhe o direito e privilégio de ser “metrofor”, ou seja, podendo usar a mitra.

Em procissão, agradecendo a Nossa Senhora de Zarvanytsia pelo inspirado e proveitoso Sínodo dos Bispos, o Evangelho e a vela sinodal foram levados de volta para o Santuário.

Uma pequena parte dos Bispos voltou para as suas eparquias ou viajou para alguns compromissos na Ucrânia.

Nos dias 13 e 14, sábado e domingo, a parte dos Bispos que ficou em Zarvanytsia participou do programa da Grande Romaria Mariana, orando pela integridade da Ucrânia e conversão do povo ucraniano a Deus. Cerca de 35.000 peregrinos vieram participar das celebrações.

Tradicionalmente, a romaria mariana anual de Zarvanytsia de sábado começa com a procissão desde a igreja paroquial antiga até ao local da aparição da Virgem, no centro da grande praça, onde encontra-se um belo monumento. Aí foi celebrado o “Moleben” à Mãe de Deus, presidida por Sua Beatitude Sviatoslav.

Além dos Bispos da IGCU, compareceram o Núncio Apostólico na Ucrânia – Dom Visvaldas Kulbokas, Dom Vitaly Kryvytskyi – Ordinário da Igreja Católica Romana de Kiev-Zhytomyr na Ucrânia e o Reitor do Grande Centro Mariano de Lourdes, França – Pe. Michel Duban. A homilia foi proferida por Dom Bohdan Dzyurach – Exarca Apostólico na Alemanha e nos países escandinavos. Ele observou que Zarvanytsia é a casa da Santa Mãe de Deus, onde todos encontram conforto, apoio e encorajamento para continuar a vida na fé e esperança em Deus e num mundo melhor.

Finalizado o “Moleben”, Dom Sviatoslav dirigiu-se à Santíssima Theotokos com uma oração especial pelo povo ucraniano sofredor: “Mãe, estamos sofrendo… Estamos sofrendo pelas crianças feridas na ‘Okhmatdyt’ de Kiev. … Mãe, sofremos a dor dos filhos que choram pelo pai, por quem lavam as lágrimas todos os dias em oração diante de Ti. Mãe, estamos tristes com o destino de milhões de ucranianos que hoje o destino jogou para longe de sua terra natal”.

O Patriarca agradeceu a cada peregrino que veio a Zarvanytsia. Ele agradeceu em oração à Virgem Imaculada pela libertação dos sacerdotes da IGCU Bohdan Heleta e Ivan Levitskyj do cativeiro russo: “Hoje queremos agradecer aos nossos corajosos Padres Redentoristas de Berdyansk, a quem Ela salvou por caminhos que só Ela conhece”.

Domingo de manhã, os Bispos da IGCU e os Bispos visitantes citados acima concelebraram a Divina Liturgia, presidida por Sua Beatitude Sviatoslav, concluindo solenemente o Sínodo anual. Dom Sviatoslav felicitou todos os peregrinos, lembrando que neste lugar milagroso todos experimentam a presença de Deus. Interpretando uma passagem do Evangelho, ele enfatizou que “a verdadeira Boa Nova que hoje bate em nossos corações pela Palavra de Deus é a boa notícia sobre como Deus nos olha com um olhar brilhante”. Explicou que o olho brilhante é o olho de Deus que brilha sobre nós, dando-nos o seu amor e derramando o Espírito Santo nos nossos corações. E o amor de Deus é o conteúdo e a fonte da esperança humana. Cada pessoa é portadora e lâmpada da palavra de Deus. Os cristãos têm uma oportunidade única de obter a luz de Deus e brilhar sobre outras pessoas. Ele concluiu sua homilia com uma oração a Nossa Senhora de Zarvanytsia: “Mãe de Deus, salve a Ucrânia, salve cada um de nós! Mãe de Deus, contigo e em ti o nosso povo caminha para o dia da vitória do bem sobre o mal”.

No final da Divina Liturgia, os sacerdotes redentoristas Pe. Ivan Levytskyj e Pe. Bohdan Heleta, que nesses dias foram libertados do cativeiro russo, foram homenageados e, juntamente com o Arcebispo Maior, deram a bênção à multidão de peregrinos.

O Pe. Michel Duban – Reitor do Grande Centro Mariano de Lourdes, França, expressou solidariedade ao povo ucraniano e presenteou o Arcebispo Maior com uma estátua de Nossa Senhora de Lourdes: “Quero expressar o apoio de todos nós que servimos em Lourdes, neste lugar sagrado – de todos os sacerdotes, trabalhadores e da paróquia ucraniana em Lourdes. Expresso-lhes o apoio de todos os que acreditam em Cristo neste momento em que vocês atravessam grandes provações”.

Como fez ontem ao final do “Moleben”, também hoje Sua Beatitude apresentou cada um dos Bispos presentes, destacando a força e a missão da Igreja Greco-Católica Ucraniana, espalhada pelo mundo: levar a esperança a todos os cantos da terra!

Fotos: Pe. Taras Geplinskyj

Texto: Secretariado Metropolitano