Teve início na tarde de sexta-feira, 22 de setembro, a 43ª Assembleia do Povo de Deus, em Londrina (PR), na Casa de Retiros Emaús. É a primeira vez que essa assembleia, em âmbito regional, é realizada fora de Curitiba. O evento reúne cerca de 150 pessoas de todo o estado, dentre arcebispos e bispos do Paraná; padres que coordenam a Ação Evangelizadora nas dioceses; coordenadores regionais das pastorais, organismos e movimentos; os coordenadores diocesanos do Sínodo dos Bispos; os coordenadores diocesanos da animação bíblico-catequética; e os coordenadores diocesanos dos Ministros Extraordinários da Sagrada Comunhão Eucarística. O tema central é a “Paróquia Sinodal: Casa da Iniciação à Vida Cristã”, assessorado pelo arcebispo de Curitiba, dom José Antonio Peruzzo. O evento encerrou no domingo, 24, na parte da manhã.
Primeiro dia
O arcebispo de Londrina (PR) e presidente do Regional Sul 2 da CNBB, dom Geremias Steinmetz, acolheu a todos e relembrou importantes acontecimentos deste ano na vida da Igreja, dentre eles o Sínodo dos Bispos, os 40 anos do documento Catequese Renovada e a ação evangelizadora: “Missão Palavra e pão – 25 mil Bíblias para a África”. Ainda na abertura, os participantes da assembleia rezaram uma dezena do terço pelas vocações e pela não descriminalização do aborto no Brasil, conduzida por representantes das diversas vocações na Igreja. Em seguida, houve um momento de apresentação dos participantes da caminhada das dioceses nas províncias.
A Santa Missa encerrou a tarde de trabalhos. A celebração foi presidida pelo bispo de Guarapuava e vice-presidente do Regional Sul 2, dom Amilton Manoel da Silva; ladeado pelo bispo de Ponta Grossa, dom Sergio Arthur Braschi; e pelo bispo auxiliar da Arquidiocese de Cascavel, dom Aparecido Donizete de Souza; e concelebrada pelos demais bispos e padres presentes na assembleia.
Na homilia, dom Amilton falou brevemente sobre o trabalho realizado no primeiro dia de assembleia, focado na partilha da caminhada das dioceses. “Já demos um bonito passo nesta tarde, mesmo cansativa, mas como é bom ver e escutar, e sinodalidade é escuta, tantas coisas bonitas que estão acontecendo em nossas dioceses”.
Dom Amilton também relacionou o Evangelho do dia a um dos temas principais da assembleia e ao que ela se propõe: a sinodalidade. “Jesus andava por cidades e povoados, pregando e anunciando a Boa Nova do Reino de Deus”, descreve o evangelista Lucas. “Jesus não realiza essa obra sozinho, Ele não caminha sozinho, Ele não anuncia sozinho, os 12 iam com Ele. Bem como um grupo de mulheres. E sendo Ele o centro de toda evangelização e a razão da mesma, Ele atrai homens e mulheres para Ele, para esse serviço”. Essa é também a proposta de trabalho da sinodalidade: caminhar juntos, tendo Jesus como centro e razão de toda evangelização.
À noite, os participantes se dividiram em dois grupos. O primeiro com os bispos e padres coordenadores da Ação Evangelizadora; e o segundo com os demais participantes e o Serviço de Animação Vocacional (SAV).
Segundo dia
Caminhar juntos. Essa é a ideia que perpassa todos os trabalhos da 43ª Assembleia do Povo de Deus do Paraná, que acontece em Londrina de 22 e 24 de setembro, inclusive na metodologia de trabalho. Este segundo dia de assembleia, 23, foi marcado pelos trabalhos em grupo, nos quais os participantes tiveram a oportunidade de partilhar e discernir sobre a caminhada da Iniciação à Vida Cristã na Igreja no Paraná, seguindo a metodologia da conversa espiritual, utilizada no Sínodo dos Bispos.
“Até hoje, a gente trabalhava muito na América Latina com o método ver, julgar e agir. Desta vez, nós queremos refletir sobre o processo evangelizador a partir da sinodalidade”, explicou o arcebispo de Londrina e presidente do Regional Sul 2 da CNBB, dom Geremias Steinmetz. Segundo ele, o objetivo é que ao final da assembleia sejam apontadas propostas concretas, a partir do que o Espírito Santo conduz, para a evangelização no Regional.
As formações conduzidas pelo assessor dom José Antonio Peruzzo, arcebispo de Curitiba, sobre a temática central do encontro: “Paróquia Sinodal: Casa da Iniciação à Vida Cristã” fundamentaram as conversas nos grupos. O bispo lembrou que a Iniciação à Vida Cristã não é responsabilidade apenas da catequese, mas de todos os atores envolvidos numa comunidade. Por isso, a importância de se falar da sinodalidade, ou seja, da caminhada em conjunto. “A sinodalidade é como um caminho, o objetivo não é ela mesma, mas sem caminho eu não chego ao objetivo”, explicou dom Peruzzo.
O bispo de Guarapuava e vice-presidente do Regional Sul 2, dom Amilton Manoel da Silva, acrescenta que para falar de Iniciação à Vida Cristã, é preciso falar de sinodalidade e, consequentemente, de objetivos comuns. “Nós precisamos compreender o que é sinodalidade para, a partir daí, nós trabalharmos a Iniciação à Vida Cristã, que é uma necessidade. Então, a sinodalidade é uma necessidade de compreensão. E a Iniciação à Vida Cristã é uma necessidade para a Igreja hoje, vivendo a experiência de Jesus evangelizar com alegria, com radicalidade e no dinamismo do Espírito”.
“Conversa Espiritual” foi a base para os trabalhos de grupo
Na dinâmica de toda Assembleia do Povo de Deus, há um tema central a ser estudado e trabalhos de grupo, a fim de que os participantes possam interagir entre si e, ao final, produzir uma síntese com apontamentos práticos para a caminhada da Igreja no próximo ano. Nessa 43ª Assembleia do Povo de Deus, os bispos decidiram adotar o método sinodal da “Conversa Espiritual” para conduzir os trabalhos de grupo, a partir do tema central: “Paróquia Sinodal: Casa da Iniciação à Vida Cristã”.
Trata-se de um instrumento para animar o discernimento comunitário, a partir da oração e da escuta mútua, em vista de uma síntese comum. O grande protagonista dessa conversa é o Espírito Santo, que vai conduzir o grupo para chegar a um consenso sobre determinado tema.
No período da tarde desse sábado, 23 de setembro, os participantes da assembleia foram divididos em 18 grupos. Cada grupo teve um padre coordenador diocesano da ação evangelizadora como moderador para conduzir o grupo, determinando o tempo de partilha e de silêncio orante.
Cada grupo teve 1h45 para realizar as três rondas previstas no método da “Conversa Espiritual”. A primeira, consiste na PARTILHA, onde cada um partilha o fruto da sua oração em relação ao tema. A segunda, é a REFLEXÃO, na qual todos partilham sobre o que mais impressionou na primeira ronda. E a terceira ronda é para SENTIR O ESPÍRITO, ou seja, o grupo dialoga e busca chegar a um consenso sobre para onde o Espírito Santo os está conduzindo. Cada um desses passos é antecedido por um momento de oração silenciosa e pessoal.
Segundo o coordenador diocesano da ação evangelizadora na diocese de Ponta Grossa, padre Joel Nalepa, a conversa espiritual foi uma experiência muito rica, pois parte da oração. “Quando nos reunimos em grupo para partilhar sobre um tema, nós temos a tentação de entrar em discussões. E esse método ajuda a treinar a escuta, que é essencial para nossa caminhada de fé e de Igreja, para nossa caminhada como irmãos. Foi muito positivo fazer essa experiência, não só pelo conteúdo, mas pelo aprendizado, pela experiência da oração, da escuta, a fim de elaborar uma síntese”, afirmou o padre.
A coordenadora regional da Pastoral da Comunicação, Vanessa de Paula, afirmou que o método da conversa espiritual funcionou muito bem e que deveria ser adotado nas paróquias e nas pastorais. “A partilha de grupo deveria ser sempre assim, pois a conversa espiritual gira em torno da oração, da reflexão, da escuta, da caridade de ouvir, olhar e acolher o outro. Esses pequenos gestos fazem muita diferença, pois saímos do automático e chegamos mais próximo do outro por se colocar em oração”, disse ela.
A coordenadora diocesana do Sínodo dos Bispos na diocese de Campo Mourão, Adaiane Giovanni, avalia a metodologia como necessária. “A conversa espiritual nos coloca no movimento de ouvir a todos. Parar, ouvir e deixar o Espírito se mover. Rezar entre uma troca e outra nos ajuda a discernir sobre qual é o ponto principal. Quais são as agonias e as alegrias que estão colocadas ali. Então leva a um discernimento concreto”, afirmou Adaiane.
Cada grupo entregou à secretaria da Assembleia uma síntese do seu grupo. Dessas 18 sínteses, a secretaria fará uma única síntese, que será apresentada em plenária na manhã do domingo, 24 de setembro.
Envio da missionária Luciane
À noite, os participantes da assembleia se reuniram na Catedral de Londrina para celebrar a Santa Missa de envio regional da missionária Luciane da Luz Bracisiewrcz para a Missão São Paulo VI, na Guiné-Bissau, África. A missa foi presidida por dom Geremias Steinmetz, presidente do regional; ladeado por dom Amilton Manoel da Silva, vice-presidente; e por dom Mário Spaki, secretário; e concelebrada pelos demais bispos e padres presentes.
Padre Valdecir Badzinski apresentou brevemente a Missão São Paulo VI, mantida desde 2014 pelo Regional Sul 2 da CNBB em Quebo, na Guiné-Bissau, África. Nesse período, o regional já enviou 31 missionários. Ela embarca para Quebo na segunda-feira, 25 de setembro. Após a homilia, Luciane foi chamada até o presbitério, onde dom Geremias rezou a oração de envio missionário.
Luciane tem 51 anos, é leiga consagrada da diocese de Ponta Grossa, onde atua como ministra da Liturgia, participa do apostolado da oração, da legião de Maria, da pastoral da Criança e é catequista.
Um momento de grande alegria, descreve a missionária. “A gente sente que pertence à Igreja de Jesus Cristo. E estar com todo o clero aqui, com todos os coordenadores, minha família e a comunidade aqui de Londrina, isso enche o coração, isso dá a certeza que de fato é Jesus que te escolheu, que de fato é o Espírito Santo que está te enviando através da Igreja. Então, é com essa certeza que estamos aí, pegando as malas e partindo em missão”, explicou Luciane, que estava acompanhada por duas filhas, uma neta, dois irmãos e duas sobrinhas.
Luciane não conhece Quebo, mas acompanha a missão há cinco anos por vídeos e testemunhos publicados pelo Regional Sul 2. Sobre a expectativa, ela diz que se sente como Pedro quando Jesus aparece caminhando sobre as águas. “E Pedro falou: ‘se és tu, deixa que eu te siga, que eu vá contigo.’ É essa sensação. É Jesus, então eu me lanço ao mar e tenho certeza que durante o medo, nos momentos em que há a ameaça de afundar, Ele que vai me segurar”.
Em sua homilia, o arcebispo dom Geremias saudou a missionária e sua família e destacou a ação evangelizadora: Missão Palavra e Pão, que envolveu toda Igreja do Paraná para a arrecadação de 25 mil bíblias para a África. “Todo Paraná está se movimentando para essa ação das bíblias para a Guiné-Bissau, para os cristãos que estão nascendo. Eu mesmo atesto, porque lá estive, quanto as pessoas têm apresso pela palavra de Deus”.
Terceiro dia
O último dia da 43ª Assembleia do Povo de Deus começou com a celebração da Eucaristia, que foi presidida pelo bispo de Paranavaí e secretário do Regional Sul 2 da CNBB, dom Mário Spaki. Na homilia, refletindo sobre o Evangelho deste domingo, 24 de setembro, Dia Nacional da Bíblia, dom Mário explicou que as lideranças e sacerdotes presentes na assembleia são como os trabalhadores da primeira hora e que estes, ao contrário dos operários da parábola, devem testemunhar a alegria do Evangelho. “A Igreja é a vinha do Senhor e precisa oferecer alegria ao mundo”, destacou o bispo. “A nós, operários da primeira hora, cabe uma fidelidade, uma alegria, para que esses da última hora possam olhar pra gente e dizer: ‘é encantador, é evangélico e precisa ser seguido’”.
Ao longo da manhã, os participantes tiveram mais um momento de partilha livre no plenário. Em seguida, a secretaria de síntese da Assembleia, composta pelo padre André Boffo Mendes, da diocese de Toledo, e pela Flávia Carla Nascimento, da diocese de Ponta Grossa, apresentaram a síntese final, elaborada a partir das sínteses produzidas pelos grupos.
Padre André explicou que, após terem recebido as sínteses dos grupos, a síntese final que elaboraram é submetida para aprovação da presidência do Regional. Só então são aprovadas as conotações finais e oficias da Assembleia.
“Aquilo que ficou muito claro nessa Assembleia do Povo de Deus foi o destaque para o método utilizado. A partir do que veio dos grupos, nós conseguimos compilar em cinco grandes grupos temáticos: a pessoa de Jesus Cristo, o Espírito Santo, a comunidade eclesial, a Iniciação à Vida Cristã e a escuta. Nesses cinco círculos, conseguimos encaixar toda a experiência do ouvir, de colocar na centralidade o caminho sinodal e de que não temos respostas prontas”, relatou padre André.
Para a irmã Angela Soldera, coordenadora da Animação Bíblico-catequética da arquidiocese de Londrina, a expectativa é que a partir desta assembleia, sejam assumidos pontos em conjunto na Igreja do Paraná para caminhar em unidade e fortalecer a vivência cristã, especialmente no que diz respeito ao ministério do catequista, instituído pelo Papa Francisco. “Quando a gente fala do ministério do catequista, a compreensão que eu tenho da carta do Papa é que não é apenas para catequistas de crianças e adolescentes, mas também os catequistas da Pastoral do Batismo, dos noivos, tantas outras dimensões que estão aí na formação. Então, acho que esse é um projeto que devemos assumir em conjunto e delinear os caminhos para que aconteça”, destacou a irmã.
A representante da coordenação da Animação Bíblico-catequética da diocese de Apucarana, Virgínia Feronato, salienta também a importância de estar junto com as lideranças da Igreja do Paraná, para refletir a caminhada do Regional. Nesse sentido, ela destaca especialmente o método da conversa espiritual, que possibilitou uma experiência espiritualizada de reflexão, que será levada para os trabalhos nas dioceses, bem como a reflexão sobre a caminhada que precisa avançar, tanto no que diz respeito à sinodalidade, como à Iniciação à Vida Cristã. “Que a gente continue trabalhando nessa Igreja, tomando cuidado com os riscos que nos foram apresentados: o risco do clericalismo, do intelectualismo e do comodismo, para que a Igreja caminhe e que o nosso Regional continue caminhando como ponto de unidade”, finalizou.
Para o secretário executivo do Regional Sul 2, padre Valdecir Badzinski, essa assembleia teve um caráter original por acrescentar a metodologia do Sínodo. “Adotar o método da conversa espiritual para a nossa Assembleia trouxe algo novo às partilhas gerando maior participação, leveza e eclesialidade. Os participantes entraram na dinâmica sinodal, na qual não é a voz da maioria que prevalece, mas sim a voz do Espírito Santo. Dessa forma, percebo que a síntese final expressa, mais verdadeiramente, para o caminho que o próprio Deus está nos apontando”, disse o padre.
A Assembleia foi concluída com um momento de oração, seguida das palavras de agradecimento e da benção final, proferida pelo arcebispo de Londrina e presidente da CNBB Sul 2, dom Geremias Steinmetz.
Texto: Juliana Mastelini Moyses – Jornalista da Arquidiocese de Londrina
Fotos: Terumi Sakai