Exéquias do Pe. Doroteo Krefer, OSBM

No início da tarde do dia 06 de fevereiro de 2016, no Hospital Nossa Senhora das Graças, em Curitiba, ocorreu o falecimento do Pe. Doroteo Krefer, OSBM. À noite, o corpo foi velado na Colônia Marcelino, onde mora sua mãe Maria Baran Krefer e a maior parte de seus familiares, e na madrugada do dia seguinte foi transferido para Prudentópolis, onde se concentra a maior parte da “família” basiliana no Brasil.

Na igreja São Josafat, foi celebrado primeiramente o Parastás e, às 10 horas, a Divina Liturgia. O cerimonial fúnebre terminou com o sepultamento no Cemitério São Josafat. A celebração foi presidida pelo Arcebispo Metropolita Dom Volodemer Koubetch, OSBM e concelebrada pelo Bispo Eparca Dom Meron Mazur, OSBM, seus irmãos sacerdotes Eufrem, Mateus, Arcenio, o sobrinho Adriano e muitos de seus coirmãos basilianos: padres, irmãos, seminaristas e noviços. Aproximadamente 30 sacerdotes basilianos prestaram sua última homenagem ao Pe. Doroteo. O Pe. Irineu Vaselkoski – Pároco de Mallet e o Pe. Vassilio Burko – Pároco de Dorizon marcaram presença solidária.

O falecido sacerdote religioso lutava contra um câncer no estômago que o vitimou. Da metade do ano de 2015, a doença não lhe deu descanso. Foi muito atuante em diversas funções dentro da Ordem Basiliana de São Josafat e na Igreja Católica Ucraniana no Brasil. Veja a biografia. De personalidade forte, teve características pessoais marcantes. Veja a homilia.

BIOGRAFIA

Membro e sacerdote da Ordem de São Basílio Magno, nascido aos 27 de fevereiro de 1949 em Campestre, proximidades da Colônia Marcelino, município de Mandirituba – Paraná. Era filho de Alexandre Krefer (já falecido) e de Maria Baran Krefer. No batismo, realizado pelo Pe. Rafael Lototskyj, OSBM em Colônia Marcelino aos 20 de março de 1949, recebeu o nome: Doroteo. Seus pais eram agricultores e comerciantes de produtos agrícolas. Pessoas queridas de família típica, descendentes de ucranianos e fiéis ativos e devotos da comunidade local de Colônia Marcelino.

Entre 1956-1960, Doroteo estudou na escola primária de Colônia Marcelino, dirigida pelas Irmãs Servas de Maria Imaculada; entre 1961-1965 estudou o ginásio no Seminário São José em Prudentópolis. Aos 23 de janeiro de 1966, Doroteo ingressa no noviciado dos Padres Basilianos em Ivaí, onde a princípio tinha escolhido o nome de Lourenço, mas a tempo decidiu que permaneceria com o mesmo nome como consagrado. Professou os votos temporários aos 30 de janeiro de 1968. Seguiu então para Curitiba, onde nos anos 1968-1970, cursou o ensino médio e nos anos 1971-1972, cursou os estudos filosóficos. Ao concluir os estudos filosóficos, foi enviado para Roma, Itália, onde nos anos 1973-1975, cursou no Pontifício Ateneo Santo Anselmo os estudos teológicos. Quando ainda cursava a Teologia, aos 07 de abril de 1974, professou os votos perpétuos.

Ao concluir os estudos preparatórios para o sacerdócio, Doroteo retornou de Roma e aos 15 de fevereiro de 1976, recebeu em Curitiba das mãos de D. José Romão Martenetz, OSBM as Ordens Menores e o Diaconato. Aos 21 de março de 1976, recebeu a Ordenação Sacerdotal na sua comunidade natal de Colônia Marcelino, ordenação esta realizada por D. Efraim Basílio Krevey, OSBM.

A primeira comunidade, onde o Pe. Doroteo trabalhou como padre e exerceu a função de Coadjutor, foi em Ivaí, entre 1976-1979, onde também foi professor de canto litúrgico no noviciado dos Padres Basilianos. Depois, a pedido do Superior Geral dos Padres Basilianos em Roma, que era o Pe. Isidoro Patrylo, OSBM foi transferido para Roma, onde entre 1979 e 1985, exerceu a função de Vice-Reitor do Pontifício Colégio São Josafat e ao mesmo tempo cursou o Mestrado em Teologia Espiritual na Pontifícia Faculdade Teológica Teresianum. Em julho de 1984, retornou ao Brasil e no início de 1985 foi nomeado Pároco em Ivaí, Superior da casa local, onde também foi Orientador espiritual no noviciado das Irmãs Servas de Maria Imaculada. Em fevereiro de 1989, o Conselho da Província dos Padres Basilianos no Brasil, transferiu o Pe. Doroteo para Roncador, onde foi Pároco até fevereiro de 1991. Em fevereiro de 1991, foi transferido para Prudentópolis. De Prudentópolis atendia as comunidades de Guarapuava, onde tinha a incumbência de organizar a comunidade local para construir a casa paroquial e estruturar a futura Paróquia de Guarapuava. Além disso, tinha na nomeação a tarefa de Orientador das Irmãs Ucranianas de São José em Eduardo Chaves, ensinando-lhes também o canto litúrgico. No final de 1992, foi nomeado Diretor do Seminário São José, exercendo a função de 1993 a 1996. Seminário esse, que a partir de 1985, funcionava como colégio interno com o curso Propedêutico.

No início de 1997, Pe. Doroteo assumiu a função de Superior dos Padres Basilianos em Prudentópolis, exercendo também a função de Vice Provincial dos Padres Basilianos no Brasil. Em junho de 2000, novamente foi nomeado Pároco da Paróquia Sagrado Coração de Jesus em Ivaí, permanecendo na função até a Páscoa de 2002. Em março de 2002, foi transferido para Guarapuava, onde assumiu a função de Pároco da Paróquia Assunção de N. Sra. e administrador da casa local, permanecendo ali até 2005. Em fevereiro de 2005, foi transferido para a Paróquia Santíssima Trindade em Campo Mourão, onde exerceu a função de Vigário Paroquial ou Coadjutor. Atendeu as igrejas de Juranda, Mamborê, Upá e Araruna. Em novembro de 2010, foi transferido para Prudentópolis, onde atendeu comunidades até março de 2013. A comunidade atual, onde o Pe. Doroteo exercia a função de Pároco da Paróquia N. Sra. do Perpétuo Socorro e administrador da casa local é Mafra, SC. Assumiu a Paróquia de Mafra aos 30 de maio de 2013 e, infelizmente, da metade do ano de 2015, a doença não lhe deu descanso.

Entre as virtudes do Pe. Doroteo, podemos destacar que, apesar de um pouco rígido no seu modo pessoal de ser, era inteligente nas suas colocações e pregações, habituado a breves homilias e muito objetivas. Era atento às normas que orientam a Igreja numa vida de disciplina e ação. Visando essa disciplina, teve não poucas discordâncias em suas atividades pastorais.

Na administração dos bens, visava, em épocas mais difíceis, se precaver a tempo. Nesse sentido, era prudente e bastante atento ao todo, cobrando dos coirmãos basilianos, quando aconteciam descuidos com relação ao patrimônio.

Era um homem cheio de vontade de fazer algo para o bom andamento das coisas em geral. Com esse modo de ser, conseguiu melhorar muitos aspectos nas comunidades por ele atendidas. Nesse sentido, facilitava para aqueles que viriam assumir em seu lugar.

Segundo as palavras de sua mãe Dona Maria Baran Krefer, Pe. Doroteo, em grande parte, herdou as características do seu falecido pai Alexandre, que era muito direto nas palavras e, se preciso fosse, iria para a discussão. Nesse sentido, confirma-se aquilo que ele era como pessoa, consagrado e padre. Porém, Pe. Doroteo sempre cumpriu as determinações em relação à vida espiritual, embora a tempos tivesse dificuldades pessoais com saúde. Há de se reconhecer o seu talento natural, a dedicação e sacrifícios em prol da Ordem Basiliana e da Igreja.

Pe. Elias Marinhuk, OSBM

HOMILIA

 

Преосвященний Єпарху Мироне,

Високопреподбний нововибраний Отче Протоігумене Антоніє,

Високопрепобні Отці Крефері Єфреме, Матеє, Арсеніє, Адріяне,

Преподобні Сестри Надіє і Аделіє, дорогі рідні покійного Отця Доротея,

Всечесні Дієцезальні Отці,

Високопреподобні Отці і Преподобні Брати Провінції св. Йосифа,

Преподобні Сестри,

Шановні Катехитки Інституту,

Дорогі в Христі Брати й Сестри!

Слава Ісусу Христу!

За премудрою Божою волею і законами природи, сьогодні доконуємо діло милосердя щодо душі і щодо тіла супроти нашого співбрата по Чину і по священстві Високопреподбого Отця Доротея: молимося за його душу, за його вічне спасіння, і з болем у душі ховаємо його тлінні останки.

Кажемо «тлінні», але в духовному, християнському значенні, бо за вченням св. Апостола Павла, ця земна, людська, природна тлінність переміниться в надприродну Божу нетлінність. Каже він в першому листі до Коринтян: «Ось я кажу вам тайну: Не всі ми помремо, але всі перемінимося, раптом, в одну мить, при сурмі останній; засурмить бо, і мертві нетлінними воскреснуть, і ми перемінимося. Мусить бо це тлінне одягнутися в нетління, і це смертне одягнутися в безсмертя. І коли це тлінне одягнеться в нетління, а це смертне одягнеться в безсмертя, тоді збудеться написане слово: «Смерть поглинута перемогою. Де твоя, смерте, перемога? Де твоє, смерте, жало?» Жало смерти – гріх, а сила гріха – закон. Нехай же буде дяка Богові, який дає нам перемогу через Господа нашого Ісуса Христа» (1Кор 15,51-57).

Важка хвороба перемогла тлінне тіло, але не перемогла нетлінність і безсмертність єства й душі нашого священика – о. Доротея. З віковічним Богом, з милосердним Христом він переміг! Вічна йому пам’ять!

A vida do ser humano, por causa de sua racionalidade, de sua razão, de sua inteligência, de seu conhecimento e de sua consciência, ao contrário das outras criaturas, é repleta de valores e significados. O ser humano busca e cria valores e significados para a vida e também busca e cria valores e significados para a sua própria morte. Porém, a maior parte dos valores e significados nos são dados pela religião, pela fé, pela Bíblia.

Celebramos muitos e muitos batizados, matrimônios e também exéquias. É a lei inexorável da vida: uns nascem, outros se casam e ainda outros, evidentemente, morrem. E toda vez que, cristãmente, prestamos o nosso misericordioso obséquio diante de alguém que de nós definitivamente se despede, tentamos captar, reconhecer e agradecer pelos seus valores e significados nele encarnados e vividos.

O Padre Doroteo foi um trabalhador, lutador. Não se abalava por qualquer coisa. Organizado, disciplinado, pontual.

Ele tinha uma caligrafia muito bonita: dava gosto de ler suas transcrições de registros documentais eclesiásticos – livros de batizados e matrimônios, as crônicas das casas de formação e das paróquias. Escrevia bem, tanto em ucraniano como em português; seus textos eram bons. Ele tinha bom ouvido musical e boa voz e gostava de ensinar canto, principalmente o canto litúrgico. Não desistia de ensinar até que seus alunos e alunas aprendessem bem determinada melodia.

O Padre Doroteo aparentava ser muito sisudo e severo, mas seu coração era bondoso. Era objetivo, positivo e alegre. Bastante social. Foi uma pessoa muito querida e respeitada pela família, animava seus entes queridos. Gostava de visitar as famílias nas comunidades onde exercia o pastoreio.

Segundo seus irmãos sacerdotes, era considerado “durão”, o que nem sempre era motivo para simpatia. Porém, isso era característica de sua personalidade forte e determinada. Não gostava de “enrolação”, não tinha meia palavra: se não gostava de algo, como se diz popularmente, não falava “pelas costas”, mas dizia imediatamente, “na cara”. Queria que as coisas saíssem como deveria ser. Buscava a perfeição. Esforçava-se em fazer tudo da melhor forma possível.

A vida humana é repleta e permeada pela corruptibilidade de todo o tipo: a corruptibilidade espiritual e moral, a corruptibilidade natural, física. E isso por mais que se busque a incorruptibilidade, ou seja, a superação, a perfeição, a santidade. A vida é, de fato, cheia de dramas: dramas maiores e dramas menores, dramas pessoais e dramas sociais, dramas naturais e dramas existenciais, dramas superáveis e dramas insuperáveis. A morte é um drama insuperável do ponto de vista físico, biológico. Porém, a vida humana não seria vida e a história seria muito pobre e monótona sem esses dramas, os quais, favorecem o aprendizado, as buscas de todo tipo, as descobertas, as invenções, a criatividade, o crescimento e a maturidade humana.

O último drama do Padre Doroteo e de seus familiares foi encarar a grave doença que estava antecipando o “ponto final” de sua história pessoal e de serviço à Província basiliana e à Metropolia. Queria esticar seu “texto”, escrevendo mais um “trecho” o qual, talvez, seria o auge, o arremate, o desfecho, a conclusão de sua obra… Queria viver mais, queria trabalhar mais, ainda queria ser útil. Queria continuar sendo pároco de Mafra. Mesmo sentindo-se muito fraco, esforçou-se em visitar as famílias com água benta e em celebrar aos paroquianos. Consciente da gravidade de seu mal, até mesmo do ponto e vista hereditário-genético, pois seu pai Alexandre faleceu da mesma doença, ele alimentava a esperança da cura, esperança essa respeitada pelos médicos e que, provavelmente, aumentou um pouco o número de seus dias terrenos.

Mas ontem, no início da tarde, a mão divina colocou um “ponto final” no “texto” da vida do Padre Doroteo, que, na verdade, é o ponto inicial de uma nova vida, numa dimensão nova, num lugar novo, onde “não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor”, pois segundo o livro do Apocalipse, “a antiga ordem já passou” (Ap 21,4). A antiga ordem é a ordem da corruptibilidade e a nova é a da incorruptibilidade.

Segundo o ensinamento de São Paulo, a antiga ordem é superada pela nova ordem; é a vitória que nos é dada por Cristo: “Eis que vos revelo um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta {porque a trombeta soará}. Os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. É necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que este corpo mortal se revista da imortalidade. Quando este corpo corruptível estiver revestido da incorruptibilidade, e quando este corpo mortal estiver revestido da imortalidade, então se cumprirá a palavra da Escritura: A morte foi tragada pela vitória {Is 25,8}. Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão {Os 13,14}? Ora, o aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. Graças, porém, sejam dadas a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo!” (1Cor 15,51-57) (não BJ).

Padre Doroteo, a misericórdia de Jesus Cristo lhe concedeu a vitória! Com Ele você venceu! Eterna é a sua memória!

Dom Volodemer Koubetch, OSBM